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RELIGIOSIDADE E HISTÓRIA SE ENCONTRAM NAS CELEBRAÇÕES DOS SANTOS MÁRTIRES

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O Rio Grande do Norte se prepara para mais uma grande manifestação de fé durante a festa dos Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, celebrada em 3 de outubro. Milhares de fiéis são esperados no Santuário de Uruaçu, em São Gonçalo do Amarante, onde a programação acontece apenas no dia do feriado estadual, começando de madrugada e seguindo até o início da noite. Já no bairro Nazaré, em Natal, a devoção se prolonga, reunindo centenas de fiéis em celebrações que se estendem até 12 de outubro.

O padre Murilo de Paiva, capelão do Monumento dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, resume a programação, que deve atrair pelo menos 83 mil devotos ao longo do dia.

A programação do dia 3 de outubro começa às 4h, com duas caminhadas saindo de Macaíba e São Gonçalo, seguidas de missas a cada hora até o meio-dia. Às 15h, será rezado o Terço da Misericórdia com transmissão nacional. A tarde inclui ainda o lançamento do documentário Das Relíquias à Devoção. Às 17h, acontece a missa solene presidida por Dom João e, às 18h30, o show de Ana Clara e Ítalo Poeta, que gravarão um DVD.

Para o padre Murilo Paiva, a festa precisa ultrapassar os limites do município, ampliando-se em nível estadual e reafirmando sua importância para todo o país.

“Nosso objetivo é que a festa seja estadualizada, de maneira que todos os municípios possam participar. Os mártires não pertencem só a São Gonçalo, eles são padroeiros do Rio Grande do Norte, protomártires do Brasil e heróis da pátria. O tema deste ano, ‘380 Anos de Fé e Devoção’, nos recorda que essa história não é apenas memória, mas vida e inspiração para o presente.”

O sacerdote também ressaltou que a festa vai além da dimensão religiosa, tornando-se um espaço de valorização cultural e de estímulo econômico. “Tudo o que os artesãos trazem para cá encontra saída, sobretudo na linha religiosa. A festa movimenta diversos setores, como artesanato, vestuário, cosméticos, alimentação e combustível, gerando renda e impulsionando a economia do estado, ao mesmo tempo em que reafirma nossa identidade e nossa fé.”, reforça.

As festividades também se estendem à capital, no Santuário dos Mártires, no bairro Nazaré, que deve reunir milhares de fiéis. As celebrações começaram em 2 de outubro e seguem até o dia 12, unindo-se à festa de Nossa Senhora Aparecida. O pároco, padre Fábio Pinheiro, destaca que o local se tornou um espaço de fé e acolhimento para aqueles que não conseguem se deslocar até Uruaçu.

“Como em todos os anos, a expectativa de público, sobretudo no dia 3, é grande. Muitas pessoas não podem ir até Uruaçu por causa da distância e encontram aqui, no bairro Nazaré, um lugar de devoção. Nosso santuário comporta cerca de duas mil pessoas em pé e setecentas sentadas, e por ser feriado estadual esperamos receber muitos fiéis”, afirma.

TESTEMUNHO DE FÉ E MILAGRE

A devoção aos Mártires de Cunhaú e Uruaçu também se revela nos relatos de milagres atribuídos à sua intercessão. Um deles é o da pequena Rianna Larissa, filha de Lidyane Nascimento e Deyvid Ricardo, moradores do bairro Nazaré. Em dezembro de 2016, com apenas um ano de idade, a menina desenvolveu uma pneumonia gravíssima que evoluiu para infecção generalizada, levando-a à UTI do Hospital Walfredo Gurgel.

Foram dias de desespero, em que a família se agarrou à fé. “Clamei a eles que intercedessem junto ao Pai pela vida da minha filha. Rezei, chorei e entreguei nas mãos de Deus”, lembra Lidyane. Contra todos os prognósticos, Rianna apresentou rápida recuperação, foi extubada em 15 de dezembro e recebeu alta poucos dias depois, sem sequer passar pela enfermaria. “Nossa filha é um milagre vivo. Sua recuperação foi além do esperado por nós e pelos médicos, pela intercessão dos nossos mártires”, afirma a mãe, emocionada.

CONTEXTO HISTÓRICO
Os martírios de Cunhaú e Uruaçu ocorreram em 1645, durante a ocupação holandesa no Rio Grande do Norte. Em 16 de julho, no Engenho Cunhaú, o padre André de Soveral e dezenas de fiéis foram assassinados durante a missa, após ataque comandado por Jacob Rabbi e índios tapuias. Três meses depois, em 3 de outubro, em Uruaçu, o padre Ambrósio Francisco Ferro, o camponês Mateus Moreira e outros católicos também foram mortos por se recusarem a abandonar o catolicismo. Todos escolheram o martírio, deixando um testemunho de fé e coragem que permanece vivo até hoje.


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