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CAATINGA AMEAÇADA

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exploração desenfreada de madeira do sertão potiguar com o propósito de ser utilizada como lenha na indústria e fábricas de telhas e tijolos, principalmente, é tema de um estudo desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) cujo resultado, até então, tem se revelado preocupante. Ao mesmo tempo em que a prática alimenta uma das atividades mais importantes para a economia de vários municípios no interior do estado, a devastação de extensas áreas de vegetação também pode estar causando danos irreparáveis para um dos biomas mais sensíveis da natureza brasileira: a caatinga.

O alerta vem de uma pesquisa que está sendo realizada pela Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ/UFRN), por meio do Grupo de Estudos em Energia da Biomassa (GEEB). A coordenação é da engenheira florestal, professora e doutora Rosimeire Cavalcante dos Santos, que também chefia o projeto Expedição Caatinga, que chama a atenção para a falta de sustentabilidade e os impactos ambientais deste tipo de exploração. “O nosso estado tem uma dependência absurda da madeira de lenha como fonte de energia alternativa. É o caso do setor da cerâmica vermelha, para a fabricação de telhas ou tijolos, mas também de padarias, pizzarias, por exemplo”.

A professora explica que o GEEB é um projeto de ensino, pesquisa e extensão da UFRN que surgiu em função das respostas incompletas oriundas de estudos já desenvolvidos pela Unidade Acadêmica Especializa em Ciências Agrárias, e que confirmou justamente isso: o uso excessivo de madeira como energia alternativa, seja na forma doméstica, em residências, ou mais ainda de forma comercial, em indústrias e fábricas — o que caracteriza o estado como dependente desse tipo de combustível para a criação e manutenção de empregos e meio de vida de parte da população. “Nós começamos a investigar a regeneração do bioma caatinga após o corte dessa madeira. As diferentes regiões do estado demandam mais ou menos, mas elas sempre demandam pelo uso da madeira de lenha”, confirma a professora.

O que fazer?
“Essa é a principal resposta. Precisamos entender qual o modelo ideal. Que se explore a madeira, mas que seja de maneira sustentável”, destaca a coordenadora Rosimeire Santos. Atualmente, o projeto Expedição Caatinga está em busca de descobrir as melhores soluções. A pesquisa avalia a quantidade de vegetação existente em uma determinada área e busca calcular a velocidade com que se pode manejar a extração dessa madeira sem devastar a área, de forma que a vegetação possa se regenerar a tempo de se fazer uma nova retirada de madeira. O ideal é que, na mesma velocidade em que se corta a madeira, haja novas plantações e que essa nova vegetação possa se desenvolver a tempo suficiente de se iniciar um novo ciclo de corte.

Parques eólicos e usinas de energia solar também aparecem como vilões do desmatamento no RN

As enciclopédias ensinam: a caatinga é o único bioma (conjunto de vida vegetal e animal com características singulares) exclusivamente brasileiro, o que significa que grande parte do seu patrimônio biológico não pode ser encontrado em nenhum outro lugar do planeta. Ocupa uma área de cerca de 734.478 km², o equivalente a 10% do território nacional, sendo encontrada nos nove estados do Nordeste e em uma parte do norte de Minas Gerais, no Sudeste.
Entre os biomas, é considerado um dos mais fragilizados. O uso insustentável de seus solos e recursos naturais ao longo de centenas de anos de ocupação fazem com que a caatinga esteja bastante degradada. E, no Nordeste, Rio Grande do Norte (161,0%) e Paraíba (106,5%) são os estados que apresentaram aumentos mais expressivos na área de vegetação nativa suprimida.
Os dados são do RAD2023, Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, elaborado pelo MapBiomas. O documento, que apresenta um panorama abrangente do desmatamento em todos os biomas brasileiros nos últimos cinco anos, consolida e analisa os alertas de desmatamento validados e refinados com imagens de alta resolução pelo MapBiomas Alerta (https://alerta.mapbiomas.org/) a partir de múltiplos sistemas de detenção de desmatamento. Ele também avalia indícios de irregularidade ou ilegalidade e examina ações de combate ao desmatamento por órgãos governamentais e instituições financeiras.

Desmatamento nos biomas
Ainda de acordo com o relatório, Nos últimos cinco anos, o Brasil perdeu cerca de 8,56 milhões de hectares de vegetação nativa, sendo mais de 85% na Amazônia e no Cerrado. Em 2023, o desmatamento no Brasil diminuiu em 11,6%, totalizando 1,83 milhão de hectares.

O desmatamento na Amazônia diminuiu 62,2%, com 454,27 mil hectares desmatados em 2023, enquanto no Cerrado aumentou 67,7%, impulsionado pela região do MATOPIBA. Em 2023, pela primeira vez, o Cerrado ultrapassou a Amazônia, com 1,11 milhão de hectares desmatados. Pantanal apresentou aumento de 59,2%, com 49,67 mil hectares desmatados em 2023, e Caatinga de 43,4%, com 201,68 mil hectares. Mata Atlântica e Pampa apresentaram redução, 59,6% (12,09 mil hectares) e 50,4% (1,54 mil hectares) respectivamente.

A agropecuária é o principal vetor de pressão, com mais de 97% da perda de vegetação nativa nos últimos cinco anos. Outros vetores incluem garimpo, eventos climáticos extremos, expansão urbana e, na Caatinga, em especial, projetos de energia solar e eólica.


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