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DOAÇÃO DE SANGUE ENTRE ANIMAIS É UM MERCADO EM PLENO CRESCIMENTO

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Imagine a cena: um cãozinho esperando por uma segunda chance após um grave acidente. Ou uma gatinha, que luta contra uma doença que ameaça sua vida, rodeada de carinho e cuidados.

Esses momentos de vulnerabilidade nos lembram do quanto nossos amigos peludos são importantes em nossas vidas. Assim como nós, eles também enfrentam desafios que exigem intervenções médicas urgentes, e muitas vezes, a solução pode estar na generosidade do tutor de outro animal. Em situações emergenciais, a transfusão de sangue pode ser a chave para salvar vidas.

Em entrevista ao Diário do RN, o médico veterinário Agrício Moreira, especialista em hematologia clínica veterinária, que atua no primeiro Banco de Sangue Veterinário do Rio Grande do Norte, o CEOH, explicou o funcionamento, a importância e os desafios envolvidos na doação de sangue para animais.

De acordo com Agrício Moreira, a doação de sangue para animais de estimação é tão essencial quanto para os seres humanos. “A necessidade de ter sangue disponível para situações emergenciais é fundamental”, explica. “Quando um animal necessita de uma transfusão, seja de sangue total, plaquetas ou plasma, ele precisa do hemocomponente para restabelecer a funcionalidade do organismo de maneira adequada. Ter esses componentes disponíveis é crucial para salvar vidas”, completa.

A manutenção de bancos de sangue oferece benefícios imediatos para os animais que necessitam de transfusões. A principal vantagem é a disponibilidade de sangue “puro”, ou seja, com todos os testes necessários já realizados para garantir que o animal doador está saudável e livre de doenças infecciosas. O sangue doado é processado e separado em componentes como plaquetas, plasma e hemácias, podendo ser utilizado conforme a necessidade do paciente.

“Antes de um animal se tornar um doador, ele passa por uma série de exames rigorosos”, diz o veterinário. “Exames de sorologia e PCR para doenças infecciosas, como leishmaniose, FIV, e outras, garantem que o sangue doado seja seguro para o receptor”, explica.

Como Funciona o Processo de Doação
O processo de doação de sangue em animais é semelhante ao realizado em humanos. O animal é submetido a uma avaliação clínica completa, incluindo exames de sangue e testes de função hepática e renal. Somente após a confirmação de que o animal está saudável e livre de doenças transmissíveis, a doação é autorizada.

O veterinário destaca a importância de um ambiente controlado e a experiência da equipe para garantir a segurança do animal durante o procedimento. “A doação de sangue é realizada de forma segura e não traz riscos para a saúde do doador, desde que os intervalos entre as doações sejam respeitados”, assegura.

Cada animal deve atender a requisitos específicos para se tornar um doador. Para cães, é necessário ter entre 1 e 8 anos, pesar no mínimo 25 quilos, ter um temperamento dócil e estar com as vacinas e vermifugações em dia. Já para gatos, os requisitos incluem idade entre 1 e 7 anos, peso mínimo de 4 quilos e também o controle de parasitas.

Além disso, tanto cães quanto gatos não podem ter histórico de doenças graves, transfusões anteriores ou estarem em período de gestação, lactação ou cio.

Mitos sobre a doação de sangue
Embora a doação de sangue seja um procedimento seguro para os animais, ainda existem mitos que podem afastar os tutores de considerarem essa prática. O veterinário esclarece que a doação não deixa o animal fraco ou prejudica sua saúde. “Existem alguns mitos que a gente enfrenta, por exemplo, que a doação de sangue pode deixar o animal fraco, e isso é um mito. Ou que a doação de sangue pode fazer mal para o animal, ou até que o animal pode ficar com algum déficit nutricional, com alguma fraqueza ou com algum distúrbio por doar sangue. São mitos”, explica Agrício acrescentando: “Outro grande mito é que o animal corre risco depois da doação. Isso não existe. A doação hoje em dia, com os exames prévios, uma avaliação clínica segura, o animal pode doar sangue e isso não traz nenhum problema para o animal, respeitando o intervalo entre as doações não há problema nenhum e fazendo de uma maneira segura, não há problema nenhum nas doações”, completa o veterinário.

Incentivando mais doadores
Uma das estratégias adotadas pelo Banco de Sangue Veterinário para atrair mais doadores é oferecer benefícios para os animais que participam do programa. “Os doadores têm direito a consultas veterinárias gratuitas, exames de saúde periódicos e até mesmo vacinas e vermifugações custeadas pelo banco”, informa o veterinário.

Além disso, o banco oferece exames para detectar doenças infecciosas e faz check-ups anuais para garantir que os doadores permanecem saudáveis e aptos a doar.

Agrício acredita que a doação de sangue para animais tem um futuro promissor. “Os avanços na área de hemoterapia veterinária são significativos. O apoio de iniciativas privadas e a continuidade dos estudos sobre o uso de componentes sanguíneos em medicina veterinária contribuirão para o aprimoramento do atendimento emergencial aos pets”, comenta.

Embora o número de doadores ainda seja baixo, a situação está mudando. O banco de sangue veterinário tem 31 cães e 9 gatos cadastrados como doadores ativos, com a promessa de aumentar esse número nos próximos anos. “Dados nacionais não existem, por não existir participação do poder público. Mas no nosso banco, nos últimos 12 meses temos levantamentos dos nossos doadores caninos e felinos, temos 31 doadores caninos e 9 doadores felinos, cada um deles doam sangue com intervalos a cada 3 meses e cada doação dessa, salvam até 3 vidas, um número baixo pelo que a gente espera, por tudo que a gente vê de benefício na medicina transfusional”, explica o veterinário.

“Cada doação pode salvar até três vidas, pois os hemocomponentes são separados e usados conforme a necessidade. Mas ainda precisamos de mais doadores, principalmente felinos, pois a adesão é mais difícil devido aos receios dos tutores”, completa.

A conscientização sobre a importância da doação de sangue entre animais e a eliminação dos mitos em torno desse gesto são passos essenciais para aumentar o número de doadores e garantir que mais animais recebam o tratamento necessário em momentos críticos.


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