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PERMISSIONÁRIOS FICAM DE FORA DE FESTIVAL E RECLAMAM: “HUMILHAÇÃO”

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“O turismo de Natal segue sendo prioridade na gestão, apresentando à população formas de diversão e a garantia de uma utilização necessária do novo Mercado, que faz parte do Complexo Turístico da Redinha”, diz trecho de divulgação da Prefeitura de Natal sobre o festival Boteco da Redinha, que deve acontecer entre 15 de dezembro e 30 de janeiro. No entanto, o festival não vai finalmente devolver aos tradicionais barraqueiros da praia o direito de comercializar sua ginga com tapioca e as outras iguarias do cardápio no Mercado ao qual fazem parte tradicionalmente.

Em vez disso, 10 bares da cidade, que em breve serão divulgados, segundo a Prefeitura, vão desfrutar do movimento esperado no veraneio no novo Mercado recém reformado.

“Colocaram dez bares que não tem nada a ver com o mercado aqui para faturar no lugar que a gente está há três anos sofrendo que termine logo essa obra para a gente poder trabalhar”, explica Ronaldo Júnior, permissionário que aguarda finalização da licitação para retornar com a barraca que funciona há mais de 80 anos na sua família, de geração em geração.

A família dele é uma das 33 que estão vivendo de um auxílio de R$ 1.200 há três anos, desde que iniciou a reforma no Mercado, em abril de 2022. Previsto inicialmente para ser concluído até o fim do ano de 2023, o novo Mercado da Redinha teve prazo adiado para abril de 2024, mas até agora não foi inaugurado. O prefeito Álvaro Dias (Republicanos), em clima de despedida da gestão, fez uma apresentação das instalações no dia 25 de outubro. Para o funcionamento regular com os permissionários, não há previsão.

“A gente está vivendo de auxílio. Eu ainda estou botando umas mesas na praia. Tem algumas pessoas que está botando umas mesas na praia, mas tiveram que alugar uma casa próxima caríssima para não parar durante esse tempo. Os R$ 1.200 do auxílio, a gente fazia no domingo de manhã. Domingo de manhã ia o pessoal ciclista, de caminhada, tudo vinha tomar café. Só com café da manhã para a gente fazer esse dinheiro no mercado”, conta Ronaldo.

Sem contar o atraso nos pagamentos: “Para a gente receber é uma humilhação. A gente vai na Seinfra, roda as secretarias para o dinheiro poder entrar. É uma humilhação o que a gente está passando”, denuncia Júnior. O permissionário ressalta que o poder público municipal só libera a colocação de três mesas. “Teve uma festa da padroeira em janeiro que todo mundo botou barraca.

Aí eu coloquei mais três mesas e eles me levaram algemado pela guarda municipal”, relembra.

O processo de licitação para os permissionários começarem a trabalhar no novo Mercado ainda não foi finalizado. A gestão Álvaro trouxe a informação, sem maiores explicações, no anúncio do festival: “Nesta última terça-feira (03), a Prefeitura publicou o edital da concessão do novo mercado, mas enquanto esse processo não é concluído, a ideia é realizar esse evento no espaço aproveitando a alta estação e gerando emprego e renda especialmente para os moradores da própria Redinha”.

“A gente está aguardando. A gente não conseguiu derrubar essa privatização. Ela passou pela Câmara, foi aprovado. A gente está aguardando agora para a gente entrar, mas tem que dar prioridade a gente, que somos do Mercado, que estamos parados. Mas não, eles estão dando prioridade a dez bares já importantes de Natal, que já vivem bem. E a gente que é mais humilde mesmo, foi excluído. São 33 famílias”, lamenta Junior.

A privatização a que ele se refere é o novo modelo de gestão do Mercado. A Prefeitura de Natal adotou o modelo de concessão. A Parceria Público Privada prevê que vencedor da licitação vai explorar o espaço por um período de 25 anos, garantindo o retorno dos antigos permissionários com contratos iniciais de 4 anos, prorrogáveis por mais 4. A lei também estabelece um escalonamento nos valores de locação, oferecendo isenção no primeiro ano e pagamentos progressivos nos anos subsequentes.

O vereador Daniel Valença (PT), que compõe a oposição na Câmara Municipal, se manifestou sobre o assunto. “É a prova cabal de como a gestão Álvaro Dias tem desprezo pelo povo da Redinha, pelos trabalhadores. São pessoas que são consideradas, ou descartáveis, ou são simplesmente invisíveis. Porque se desde abril de 22 as pessoas estão sem conseguir trabalhar e quando chega o período da alta estação a Prefeitura encontra alternativa, que é garantir a participação de dez dos principais bares da cidade e não dessas permissionárias e permissionários, é de uma crueldade sem tamanho”, protesta o parlamentar em conversa com o Diário do RN.

Nas redes sociais, o vereador convoca a população para se manifestar e dizer basta. “É inacreditável como a gestão de Álvaro Dias não tem nem a vergonha de não se mostrar menos antipovo, de tentar demonstrar que não é uma gestão para os ricos, que não é uma gestão que tenta expulsar o povo da Redinha”, afirma Valença.

Hoje (06), os permissionários devem se reunir para tratar da situação. “A gente não vai deixar, na verdade. A gente não vai deixar que outras pessoas venham, tomem de conta do que é nosso se a gente está prejudicado há três anos, para outros usufruírem da alta estação e a gente pegar a baixa? Realmente, a gente vai bater de frente”, avisa Ronaldo Júnior.

A reportagem do Diário do RN entrou em contato com a Prefeitura para obter detalhes sobre a situação, mas não foi atendido e não obteve retorno até o fechamento da edição.


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