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QUASE MIL PESSOAS AGUARDAM NA FILA POR TRANSPLANTE DE RIM E CÓRNEA NO RN

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Falar sobre doação de órgãos é falar sobre vida. Foi exatamente essa vida que a professora Cristiane Leão, de 52 anos, recebeu há três anos, quando passou por um transplante de rim. Antes disso, foram meses de incerteza e a difícil rotina de conviver com limitações físicas, sempre aguardando por aquele “sim” que poderia mudar tudo, conforme ela descreve.

“Passei três anos ligada à máquina de hemodiálise, esperando o ‘sim’ de uma família para que eu pudesse reescrever a minha história. Esse ‘sim’ chegou. E, através dele, hoje eu tenho a chance de viver de forma mais leve, de cuidar da minha única filha, de estar junto da minha família e de aproveitar tantos outros momentos que antes pareciam distantes”, recorda Cristiane, emocionada.

Após transplante, Cristiane leva uma vida normal com a família – Foto: Reprodução

A história dela ilustra a realidade de centenas de potiguares que aguardam na fila por um transplante. De acordo com dados da Central de Transplantes do Rio Grande do Norte, atualmente 975 pessoas esperam por um órgão ou tecido no Estado. Destas, 320 aguardam por um rim, o mesmo recebido por Cristiane, e um dos órgãos mais demandados no país.

Mas, apesar das dificuldades, o Rio Grande do Norte tem avançado. O Estado ocupa lugar de destaque no cenário nacional quando o assunto é transplante de medula óssea, segundo a Coordenadora da Central de Transplantes do Rio Grande do Norte, Rogéria Medeiros. “O RN é hoje o quinto Estado em número de transplantes de medula óssea do país e o terceiro quando observamos a taxa por milhão de habitantes. Esse é um resultado muito importante e fruto do empenho de equipes médicas e da conscientização da sociedade”, afirma Rogéria.

Por outro lado, a maior fila continua sendo para transplantes de córnea, que também é o tipo de cirurgia que mais se realiza no estado. Atualmente, 630 pessoas aguardam doações. Já a fila de medula óssea conta com 24 pacientes. No caso de transplante de coração, a realidade é outra, apenas um paciente está em espera e, neste ano, apenas um transplante cardíaco foi realizado. “Isso também se deve ao fato de ser um procedimento muito mais complexo, que depende não só do consentimento da família, mas também da compatibilidade e da rapidez no processo de captação”, explica a coordenadora.

NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO FAMILIAR
No Brasil, a Lei nº 10.211, de 23 de março de 2001, determina que a retirada de órgãos só pode ser feita com a autorização da família do falecido, após a constatação da morte encefálica. Isso significa que, mesmo que alguém manifeste em vida a vontade de ser doador, a decisão final caberá sempre aos familiares.

“É fundamental que as pessoas conversem em casa, falem sobre o desejo de serem doadores. Essa informação faz toda a diferença, porque na maioria dos casos a família respeita a vontade do ente querido. Quando não há diálogo prévio, é muito mais difícil tomar essa decisão em um momento de dor”, ressalta Rogéria.

Ela lembra ainda que não é necessário registrar o desejo de doar em cartório ou em documentos oficiais. “O mais importante é o diálogo. Se a família não autorizar, a doação não acontece e a oportunidade de salvar vidas é perdida”, completa.

E, para quem aguarda na fila, a doação significa uma nova chance. Cristiane Leão resume esse sentimento em poucas palavras: “Diante de tudo isso, meu maior desejo é que muitas outras pessoas também possam ter a mesma oportunidade: a de receber um ‘sim’ que transforma dor em esperança e renasce vidas”, disse.

O exemplo dela e de tantos outros transplantados reforça a importância de conscientizar a sociedade sobre o tema. “A doação de órgãos é um ato de solidariedade que ultrapassa a dor da perda e se transforma em vida para outra pessoa. Precisamos falar sobre isso, informar e, principalmente, lembrar que cada um de nós pode ser a diferença na vida de quem espera”, conclui Rogéria Medeiros.

SETEMBRO VERDE: MÊS DE CONSCIENTIZAÇÃO
Setembro é marcado pela campanha nacional “Setembro Verde”, associada ao Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos, celebrado no dia 27 deste mês, que tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos e tecidos. A iniciativa busca incentivar o diálogo dentro das famílias, já que no Brasil a doação só acontece com a autorização dos parentes, mesmo que a pessoa tenha manifestado em vida o desejo de ser doadora.


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