
Cerca de 380 famílias de agricultores familiares, distribuídas em 39 municípios do Rio Grande do Norte, que atuam na produção de algodão, serão beneficiadas pelo projeto Algodão Agroecológico Potiguar, desenvolvido pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (Sedraf) e pelo Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do RN (Emater/RN), com investimentos de cerca de R$ 1 milhão, já no primeiro ano.
O projeto será lançado nesta quarta-feira pelo Governo do RN. “As famílias a serem beneficiadas, já foram selecionadas. Nossa intenção é iniciar os cultivos de algodão a partir de janeiro de 2022, com uma área de 500 hectares para o algodão agroecológico”, disse o titular da Sedraf, Alexandre Lima.
A ideia é atender ao mercado consumidor de fibra de algodão por parte dos agricultores familiares. “A agricultura familiar não tem condições de competir, por exemplo, com o algodão que é plantado no sudeste, no centro-sul do país, em função dos níveis de produtividade. Então, nós vamos entrar em um nicho de mercado que é a produção agroecológica, a produção certificada”, disse o secretário Alexandre Lima, informando ainda que as famílias beneficiadas já têm suas produções com venda garantida.
“Obrigatoriamente 50% da área terá cultivos alimentares. A própria certificação agroecológica pressupõe um plantio diversificado, com feijão, com milho, com gergelim, possibilitando que além da venda do algodão, as famílias possam ter uma soberania alimentar”, disse Alexandre Lima.
História do algodão no RN
A cotonicultura, nome técnico da cultura do algodão, produzia o chamado ouro branco e durante os anos de produção ajudou a criar rodovias, prosperar pequenas comunidade e municípios. Chegaram a ocupar 500 mil hectares em todo o estado. Somente com a grande seca de 1845, que os produtores rurais começaram a plantar algodão, principalmente na Região do Seridó. Nos anos de 1900, com a queda da produção do açúcar, foi que a plantação alavancou.
Eram dois tipos de algodões plantados no RN: o arbóreo (“mocó” ou “Seridó”) e o herbáceo. O algodão “mocó” foi a variedade que melhor se adaptou aos sertões: por suas raízes profundas, era mais resistente às secas; por seu vigor, era uma variedade mais inofensiva às pragas e, por outro lado, produzia até por oito anos. Em suma, era muito mais vantajoso que o herbáceo, que tinha um ciclo vegetativo muito curto – geralmente um ano e, além disso, mais suscetível a pragas.
As crises de oferta da fibra nordestina estariam ligadas, por um lado, às devastadoras secas que atingiam impiedosamente as lavouras sertanejas. Por outro lado, com a chegada da praga do bicudo, de difícil controle e depois com a abertura do mercado nacional às importações subsidiadas de países da Ásia nos anos 90, a cultura, que nos anos 80 chegou a ser plantada em mais de 2 milhões de hectares no Nordeste, entrou em declínio e hoje a área cultivada está em torno de 1.300 hectares.