O presidente Jair Messias Bolsonaro há tempos vem tratando grosseiramente a imprensa e intimidando profissionais. O mais recente caso ocorreu nesta segunda-feira, com a jornalista Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da TV Globo em São Paulo.
O simples fato de a repórter apontar o óbvio, que o presidente havia participado de encontro com o público sem máscaras, foi suficiente para Bolsonaro partir para um ataque de fúria contra a jornalista e contra o veículo que ela trabalha, a Globo.
Não havia ali um presidente da República com o inerente respeito e equilíbrio que o cargo exige. Ali estava alguém totalmente desequilibrado emocionalmente agredindo uma mulher, uma profissional que somente estava trabalhando, cumprindo seu papel de questionar.
Definitivamente, Bolsonaro não sabe o que representa ser presidente da República. É de uma intolerância gigantesca diante do contraditório, dos questionamentos necessários. Absolutamente desequilibrado.
O pior dessa história, é a partidarização cega que tomou conta do País. Quase não há espaço para avaliação crítica lúcida. Quem admira Bolsonaro, concorda e aplaude tudo que ele faz ou diz. Quem é contra ele, faz o inverso. É incapaz de admitir que há algo positivo na gestão presidencial. A cegueira dos extremos que não ajuda.
Você pode votar e apoiar Bolsonaro. É um direito de cada um. Assim como você pode não votar e nem apoiar o presidente.
Agora, aplaudir e concordar cegamente com tudo que o presidente faz, é alimentar a possibilidade de totalitarismo, de se criar um ambiente ditatorial em plena democracia.
Bolsonaro estabeleceu uma guerra particular com a Globo. Independente do mérito, de quem está com a razão, amordaçar um veículo de comunicação não pode e não deve encontrar eco na sociedade. É a liberdade de imprensa e de expressão que estão em jogo.
“Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo.”
A frase imortalizada que pensava-se ser do pensador e filósofo francês Voltaire, é na verdade da escritora inglesa Evelyn Beatrice e simboliza a liberdade de expressão em sua plenitude.
Eu posso não concordar com nada do que você diz, mas a liberdade de você continuar dizendo, é maior que minha discordância.
Você pode até não concordar com o que a Globo diz. Se o que a emissora diz é crime, as leis estão aí para ser aplicadas. Afinal, a liberdade de expressão não é ilimitada; é sujeita a regras, a leis e passível de punição quando comete delito ou excesso.
Amordaçar, calar, intimidar um veículo de comunicação por discordar de sua linha editorial, é típico de quem não consegue conviver em democracia, na atmosfera do contraditório, onde não há verdade absoluta.
O principal alimento de uma democracia é a liberdade. Liberdade de ir e vir; liberdade de expressar o que pensa; liberdade para que a imprensa possa confrontar governos e buscar no intestino das gestões, a verdade que muitos querem esconder.
Chamar jornalistas de canalhas, que fazem serviço porco, imprensa de m##da, simplesmente por discordar, porque essa imprensa não bajula ou não diz o que agrada aos ouvidos presidenciais, é intolerância com cheiro de ditadura. Falta de respeito absurdo com uma profissional; violência verbal contra uma mulher.
Você só pode falar o que me agrada. Do contrário, tudo que fala ou faz, não presta e tem que ser reprimido. Isso não está certo.
Desse humilde espaço plural, em que a liberdade é exercida integralmente, deixo registrada minha solidariedade a jornalista Laurene Santos pelos ataques sofridos e minha admiração pela coragem e serenidade.
Solidariedade estendida a todos os profissionais agredidos por desempenhar sua função.
Maravilha Túlio Lemos! Sensacional texto!!