A vereadora Margarete Régia foi presa por dirigir sob efeito de álcool e desacatar policiais que estavam na blitz. Pagou fiança e foi liberada.
Ela errou duplamente: primeiro, na condição de agente público, representante oficial de parcela da sociedade, teria que dar exemplo e não mal exemplo. Segundo, por também representar um segmento religioso, que esperava dela retidão na conduta, não deveria ter cometido o ato. Apresentou um atestado para faltar à sessão na Câmara e estava ‘boa’ para outras atividades. Bebeu e dirigiu, assumindo o risco de cometer até um homicídio.
Sequer conheço a vereadora, mas aqui falo sobre o que se tornou muito comum nos dias de hoje, com o uso das redes sociais: a execração pública, o linchamento moral, a destruição da reputação, o assassinato da imagem, o sepultamento em vida.
Ela errou. Já pagou parte do erro e vai pagar ainda mais. A ressaca moral deve doer em sua alma muito mais que a ressaca física. Mas seu sofrimento e sua punição não podem ser eternos.
Atualmente, o Tribunal da Internet julga e condena de forma sumária as ações das pessoas; em se tratando de pessoas públicas, a condenação é ainda mais acelerada e compartilhada. E como é fácil falar mal dos outros. Ganhamos adeptos e companhia rapidamente.
Vivemos hoje como se não cometêssemos erros, somos a materialização da perfeição. Qualquer erro do outro, pegamos o machado ou o revólver, representados pelo teclado do celular ou do computador, e atiramos com força, mutilamos com vontade. Encontramos força que não temos para falar de coisas boas. Parece que quando atiramos nos erros dos outros, nos sentimos melhores e menos pecadores; nos sentimos quase sem defeitos. Isso porque nossos defeitos não foram tornados públicos e achamos que somos perfeitos. Mas sabemos que não. Nossas frustrações, nossos recalques, nossos erros e nossos pecados são materializados nos outros que caíram em desgraça de um deslize público. Até comemoramos a queda alheia.
Impressiona o ódio que escorre nas palavras proferidas diante dos erros dos outros. Será que não seria a hora de proferirmos essas palavras odientas olhando para o espelho? Qual será a sensação de saber que podemos ser tudo aquilo que apontamos no outro? Será uma boa experiência.
Todo mundo erra. A frase bíblica é mais atual que tudo: Quem nunca errou, que atire a primeira pedra. No Tribunal condenatório da internet, parece que estamos diante da pureza extrema, sem erros ou pecados, preparados para atirar todas as pedras possíveis sem nenhuma dor de consciência. Pelo contrário. Os juízes da internet se acham o suprassumo da perfeição.
Quanta hipocrisia de todos nós. Erramos e exigimos perdão e compaixão com nossos erros. Para nós, os nossos erros todos têm justificativa. Os erros dos outros não. Temos que ser impiedosos com os erros alheios, pois isso nos fará diferentes e perfeitos.
Esse texto não é em defesa de ninguém e muito menos para dar ‘batido’ em quem pensa ou age diferente. É apenas um texto de reflexão.
Afinal, o grande juiz que realmente nunca pecou e nunca errou é Deus. Já imaginou se Ele usasse da mesma força punitiva que usamos contra nossos semelhantes? Mas, Ele não usa. Ele é superior e perdoa quem erra. Deus acolhe o pecador e combate o pecado. Nós matamos o pecador e convivemos bem com seu pecado.
Quem nunca errou, que atire a primeira pedra. No espelho.