
O senador Styvenson Valentim (PSDB) voltou a afirmar, nas redes sociais, que constrói hospitais no Rio Grande do Norte com recursos de suas emendas parlamentares, declaração que contraria a realidade legal e os próprios dados das instituições beneficiadas. Agora, usa o termo “construir” em destaque e letras garrafais, como forma de deboche, já que não pode sequer enviar emendas de construção para estas entidades. Em nova publicação feita no último fim de semana em um de seus perfis no Instagram, o parlamentar escreveu:
“Nossas emendas parlamentar (sic) usamos para CONSTRUIR HOSPITAIS DESSE PORTE.
Localizado em Mossoró não servirá apenas para a população desse município, mas de toda uma região. Todos do Oeste potiguar serão beneficiados. Uma obra orçada em aproximadamente 90 milhões de reais que terei a honra e o compromisso de custeá-la com recursos do nosso mandato (emendas parlamentar). Se um dia você teve dúvidas do pra que servia um político (senador ou deputado federal) agora você consegue ver a utilidade de uma boa política. Por que não fizeram antes? Sim, sim e sim eu senador Styvenson Valentim CONSTRUO hospitais pelo RN todo”.
A narrativa, repetida há meses pelo senador, já foi desmentida por entidades como a Liga Norte-Riograndense Contra o Câncer e a Liga Mossoroense de Estudos e Combate ao Câncer, responsáveis pelas obras citadas em seus discursos. Ambas confirmaram ao Diário do RN, em diferentes ocasiões, que, por serem instituições privadas, só podem receber emendas de custeio ou para compra de equipamentos, nunca para construção de unidades de saúde, ainda que tenham parte do atendimento destinada ao SUS.
As emendas enviadas por Styvenson são de custeio, destinadas a despesas como medicamentos, folha de pagamento e serviços. Segundo as Ligas, a estratégia é utilizar esses recursos para aliviar o orçamento e, com a economia, investir em obras com recursos próprios.
O Relatório Anual de 2023 da Liga Norte-Riograndense deixa claro que a construção do Hospital do Seridó, em Currais Novos, foi viabilizada com recursos provenientes da economia obtida pelo pagamento de despesas correntes custeadas por duas emendas de bancada, e não individuais, indicadas por Styvenson. O valor foi de R$ 29,1 milhões.
O mesmo vale para o Hospital da Liga em Mossoró. O mesmo que ele ressaltou na postagem do último fim de semana que construiu com R$ 90 milhões. O Portal da Transparência do município mostra que a obra, orçada inicialmente em R$ 80 milhões, recebeu R$ 33,4 milhões via Fundo Municipal de Saúde, dos quais apenas R$ 8 milhões vieram de emendas do senador, também de custeio.
No caso do Hospital Oncológico Infantil, em Natal, os dados são ainda mais claros: o relatório da Liga não aponta recursos parlamentares de Styvenson para a construção. A maior parte do financiamento veio do Ministério Público do Trabalho, que destinou R$ 22,3 milhões provenientes de ações trabalhistas para a execução da obra e aquisição de equipamentos.
Mesmo após reconhecer em transmissões ao vivo que a lei impede destinação de emendas de construção para instituições privadas, o senador mantém publicações em que se apresenta como “o construtor” das unidades. Em diversas ocasiões, usa o discurso para alfinetar adversários, acusando-os de “tomar obras dos outros” e “não fazer nada”.
Críticas frequentes à governadora Fátima Bezerra (PT) aparecem nas mesmas postagens, como no episódio em que desdenhou da entrega de licenciamento ambiental para o Hospital da Liga em Mossoró, afirmando que a documentação foi custeada com recursos de suas emendas, ignorando que o Governo do Estado foi responsável pela doação do terreno para a instituição.
Além disso, embora o histórico mostre que Styvenson tenha destinado milhões em emendas de custeio para entidades filantrópicas de saúde no RN, os recursos são, em muitos casos, de bancada, aprovados com a participação de outros parlamentares. A insistência do senador segue como peça central de sua estratégia de comunicação política, sem qualquer transparência com seu eleitor.