OUTUBRO ROSA: QUEDA DE CABELO AINDA DESAFIA TRATAMENTO ONCOLÓGICO

A queda de cabelo continua sendo um dos efeitos colaterais mais marcantes e temidos entre pacientes em tratamento contra o câncer, especialmente entre as mulheres diagnosticadas com câncer de mama. Durante o Outubro Rosa, campanha mundial de conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico precoce da doença, o tema ganha destaque por envolver não apenas aspectos clínicos, mas também emocionais e de autoestima.
Segundo especialistas, a quimioterapia e a radioterapia, principais armas contra o câncer, têm como objetivo eliminar células que se multiplicam rapidamente. Esse processo, porém, atinge também células saudáveis, como as responsáveis pela formação dos fios de cabelo. A quimioterapia afeta as células da matriz capilar, provocando queda parcial ou total dos fios. Já a radioterapia, quando aplicada no couro cabeludo, pode danificar os folículos e causar alopecia permanente.
O grau de queda varia de acordo com o tipo de quimioterápico utilizado, a dose administrada e as condições de saúde da paciente. Em alguns casos, ocorre a alopecia total; em outros, apenas o afinamento e a rarefação dos fios.
A médica tricologista Cátia de França, especialista em saúde capilar, explica como as substâncias agem no organismo e afetam os cabelos.
“Os medicamentos quimioterápicos circulam no sangue e atingem células que se renovam constantemente, como as da matriz capilar. Isso faz com que o cabelo pare de crescer e caia de forma abrupta. Porém, na maioria dos casos, após o tratamento, o cabelo volta a crescer, embora possa apresentar mudanças na textura, espessura ou cor”, explica.
No pós-tratamento, o acompanhamento com especialistas é importante para avaliar a saúde do couro cabeludo e estimular o crescimento dos fios. Em muitos casos, o cabelo volta a crescer espontaneamente, mas pode apresentar alterações de textura ou coloração.
“Há pacientes que veem o cabelo nascer diferente, mais fino, mais cacheado ou até despigmentado. Isso ocorre porque as células da matriz capilar foram afetadas durante o processo, o que representa uma alteração comum no pós-tratamento oncológico”, complementa a tricologista.
Mais do que uma questão estética, a perda dos cabelos durante o tratamento representa uma mudança profunda na autoimagem e no emocional. Para muitas mulheres, o momento da queda marca simbolicamente o início da luta contra a doença.
“O cabelo tem um papel simbólico muito forte na identidade feminina. Quando ele cai, a paciente sente que perdeu um pedaço de si e que um novo ciclo se inicia. Recuperar os fios é também uma forma de retomar a confiança e o senso de normalidade”, observa Cátia.
A assistente social Amélia de Farias, de 57 anos, foi diagnosticada com câncer de mama em 2023.
Nesse período, passou por cirurgia e se submeteu a tratamentos oncológicos. Foi então que percebeu mudanças drásticas na saúde dos fios.
“De lá para cá, meu cabelo nunca mais foi o mesmo. Não existe mais brilho, a fibra mudou muito e a queda aparece sempre que cresce alguns centímetros. Cheguei a fazer algumas sessões de terapia capilar, mas sem muito êxito. Optei por mantê-lo sempre curto, assim fico mais tranquila com a perda dos fios”, relata.
REDUÇÃO DE IMPACTOS
Embora nem sempre seja possível evitar a queda, alguns métodos podem minimizar os efeitos e favorecer uma recuperação mais rápida. Um dos recursos disponíveis em alguns centros de oncologia é a touca de resfriamento, conhecida como scalp cooling.
“O resfriamento do couro cabeludo durante a quimioterapia causa uma vasoconstrição, que consiste no estreitamento dos vasos sanguíneos que reduz o fluxo de medicamentos até os folículos. Isso pode diminuir a queda em até 80%, dependendo do tipo de droga utilizada”, explica Cátia.
O método, no entanto, não é indicado para todos os pacientes, pois pode causar desconforto, dores de cabeça e ainda não está disponível em todas as clínicas.
Durante a quimioterapia, especialistas recomendam evitar procedimentos químicos agressivos, como tinturas, alisamentos e escovas progressivas. Manter o couro cabeludo limpo, hidratado e protegido do sol são cuidados simples, mas essenciais.
Após o término do tratamento, a reposição de vitaminas e minerais, como ferro, zinco e vitamina D, deve ser feita com acompanhamento médico, pois esses nutrientes são fundamentais para o fortalecimento capilar.
“O mais importante é entender que o cabelo vai se recuperar no tempo do corpo. A paciência, o cuidado e o apoio emocional fazem toda a diferença na retomada da autoestima”, finaliza a especialista.