
As hepatites virais são inflamações que atingem o fígado e, na maioria das vezes, não apresentam sintomas, mas que podem causar alterações leves, moderadas ou graves. Em Natal, de janeiro até abril de 2025, foram notificados 41 novos casos de hepatites virais, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
Alguns sinais, como cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras, podem denunciar a presença de algum tipo de hepatite.
Durante todo o mês de julho, a Prefeitura do Natal, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) Natal, reforça ações de vigilância, prevenção e controle das hepatites virais nos serviços de saúde do município com diversas atividades com a intenção de conscientizar e alertar sobre os riscos das doenças.
“Durante todo o mês, convidaremos a população para comparecer a um serviço de saúde para conhecer a doença, os riscos e também se vacinar, além de realizar a testagem e iniciar o tratamento caso necessário”, disse Tayane Oliveira, coordenadora do Núcleo Municipal de IST/Aids e Hepatites Virais da SMS Natal, sobre a iniciativa.
Os serviços de saúde de Natal desenvolvem diversas atividades alusivas ao tema da campanha, com ações oferecendo testagem para detectar as infecções do tipo B ou C, além de atendimento médico, vacinação, palestras sobre a temática, aferição de pressão, entre outros serviços de saúde.
A abertura oficial da campanha acontece nesta quarta-feira (9), na Unidade Básica de Saúde (UBS) Brasília Teimosa, localizada na Rua Miramar, s/n, no bairro das Rocas. O evento contará com roda de conversa e orientações sobre hepatites virais, realização de testes rápidos para detecção de hepatites B e C, vacinação e distribuição de preservativos femininos e masculinos para a população presente.
Hepatites Virais: Tipos e testagem
No Brasil, existem três tipos mais comuns: hepatite A, hepatite B e hepatite C. As hepatites do tipo A e B possuem vacinas disponíveis de forma gratuita nas unidades de saúde do município. “Nos serviços de saúde do município, nós disponibilizamos também testes rápidos para a detecção da infecção pelos vírus B e C, que são tipos da doença que não possuem cura, mas quando detectadas a tempo podemos iniciar o tratamento e evitar formas mais graves da doença”, explicou Tayane, reforçando que todas as pessoas precisam ser testadas pelo menos uma vez na vida para esses tipos de hepatite.
A hepatite A está relacionada às condições de saneamento básico e de higiene pessoal.
Geralmente é uma infecção leve e se cura sozinha, porém o curso sintomático e a letalidade aumentam de acordo com a idade. A vacina contra a hepatite A é aplicada em dose única e está disponível para crianças a partir de 15 meses até os 5 anos não completados.
A infecção pelo vírus do tipo B é uma infecção crônica e não possui cura, mas possui tratamento disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Pode ser transmitida por relação sexual desprotegida, compartilhamento de agulhas e seringas, tatuagens, piercings, reutilização ou falha de esterilização de equipamentos médicos ou odontológicos, ou da mãe para o filho durante a gestação ou parto. A melhor forma de prevenção é por meio da vacinação aplicada nos recém-nascidos já nas primeiras horas do nascimento e também está disponível para toda a população não vacinada.
Já a hepatite C também pode ser transmitida por transfusões de hemoderivados de doadores não rastreados com anti-HCV, uso de drogas intravenosas, transplantes de órgãos, hemodiálise, transmissão vertical, além de exposição sexual e ocupacional. A infecção pelo tipo C não possui vacina, mas o tratamento para a doença também está disponível gratuitamente.
Sesap pede intensificação de ações em todos os municípios do RN
A Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), por meio do Programa Estadual de IST/Aids e Hepatites Virais, recomenda que os municípios intensifiquem as ações de enfrentamento às hepatites, ao longo deste mês, com destaque para a oferta de testes rápidos (Hepatites B e C), a vacinação contra a hepatite A (para as faixas etárias preconizadas pelo Ministério da Saúde), a imunização contra a hepatite B (para todas as faixas etárias) e a orientação ao uso de preservativos.
Em alusão ao Julho Amarelo, o Hospital Giselda Trigueiro (HGT), em Natal, e o Rafael Fernandes, em Mossoró, irão reforçar as ações educativas junto à população, com o objetivo de combater a doença no Rio Grande do Norte. Ambas as unidades compõem os serviços de referência para o tratamento das hepatites virais no RN, juntamente com o Hospital Universitário Onofre Lopes, em Natal.
O médico infectologista Igor Thiago Queiroz ressalta a importância da prevenção às hepatites virais: “Nem sempre a doença apresenta sintomas, como olho amarelado, náusea e vômitos, que levam à procura por atendimento médico. Em alguns momentos, as hepatites são silenciosas, em sua forma crônica, e só são descobertas por meio de exames sorológicos e testes rápidos disponíveis nas unidades de saúde do estado e municípios. É importante fazer o teste e, em caso positivo, iniciar o tratamento. Para hepatites virais, o diagnóstico é a melhor prevenção”.
Cenário Epidemiológico
De acordo com o último Boletim Epidemiológico divulgado pela Sesap, por meio do Programa Estadual de IST, AIDS e Hepatites Virais, em 2024, foram notificados 260 casos de hepatites virais no Rio Grande do Norte. Quando comparado ao ano anterior, observa-se um aumento de 31,4% no registro de casos confirmados. Já entre janeiro e abril de 2025, foram identificados 69 casos, mostrando uma redução de 24,1% em comparação ao mesmo período de 2024, quando foram registrados 91 casos da doença.
Considerando o período de 10 anos, entre 2014 e 2024, foram 2.150 casos confirmados de hepatites virais, sendo 194 (9%) de hepatite A, 668 (31,1%) de hepatite B, 1.270 (59,1%) de hepatite C e 18 (0,8%) casos com mais de uma etiologia. Nesse período, houve uma redução de 66,6% na identificação de casos de hepatite A, mas verificou-se um crescimento de 16,5% nos casos de hepatite B e de 43,6% no registro de casos de hepatite C.
De acordo com o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), entre 2014 e 2024, foram identificados 180 óbitos por causas básicas e associadas às hepatites virais. A maioria dos óbitos (54,4%) foram associados à hepatite C.
Em 2024, foram registrados 13 óbitos relacionados às hepatites virais, mostrando um aumento de 30% em comparação ao ano de 2023. Já entre os meses de janeiro a abril de 2025, ocorreram três óbitos por hepatites virais, quantitativo semelhante ao identificado no mesmo período de 2024.