
Celebrada na noite de 24 de dezembro, a Noite de Natal mobiliza sentimentos, memórias e tradições que atravessam gerações. Para os cristãos, a data marca o nascimento de Jesus Cristo e ocupa lugar central no calendário religioso, enquanto, no cotidiano das famílias, representa um tempo de reencontros, partilha e renovação da esperança. Entre luzes, presépios, mesas postas e orações, o Natal segue como um dos momentos mais simbólicos do ano, capaz de unir fé, cultura e afeto.
A origem da celebração remonta à narrativa bíblica do nascimento de Jesus, em Belém. Conforme os Evangelhos, Maria e José viajaram à cidade para cumprir um decreto de recenseamento do imperador romano, porém, sem encontrar abrigo nas hospedarias, acolheram-se em um estábulo, onde Jesus nasceu, foi envolto em panos e colocado em uma manjedoura. O anúncio da boa-nova foi feito por anjos aos pastores, que se tornaram os primeiros a visitar o menino e a espalhar a notícia. Guiados pela estrela de Belém, os Reis Magos vieram do Oriente trazendo ouro, incenso e mirra, reconhecendo naquele recém-nascido o salvador prometido.
Para a Igreja, o Natal vai além da recordação histórica e assume um profundo significado espiritual. O vigário da Catedral Metropolitana de Natal, padre Yago Carvalho, destaca que a data celebra o mistério da encarnação. “No Natal, a Igreja faz memória do mistério da encarnação, ou seja, Deus que se torna menino, que se torna homem, que assume a condição humana para ser o caminho da nossa salvação. É um Deus que não permanece distante, mas que caminha conosco”, afirma.
Segundo o sacerdote, essa presença divina próxima da humanidade está no centro da mensagem natalina. “Por isso o nome ‘Emanuel, Deus conosco’. Na celebração da Santa Missa, quando dizemos ‘o Senhor esteja convosco’, reafirmamos que Ele está no meio de nós, porque assume a condição humana e caminha em nosso meio. Há uma lógica muito bonita no Natal”, completa.
Simbologia do Natal
A escolha do dia 25 de dezembro ajudou a consolidar símbolos que permanecem vivos até hoje, como a estrela, a árvore de Natal, a ceia e a troca de presentes. A estrela de Belém representa Jesus como luz do mundo; a árvore, de origem germânica, simboliza vida e esperança; e os presentes remetem às oferendas dos Reis Magos, associadas à generosidade e à partilha.
No Brasil, a véspera de Natal é tradicionalmente marcada pela reunião das famílias. A ceia ocupa lugar central, com pratos típicos como peru, bacalhau, arroz à grega, farofa e rabanada. A troca de presentes, muitas vezes associada à figura do Papai Noel, é aguardada especialmente pelas crianças. Para muitas famílias, a noite também inclui momentos de oração, leituras bíblicas ou a participação na Missa do Galo, reforçando o sentido religioso da data. Mais do que rituais, o Natal simboliza união, perdão e fortalecimento dos laços afetivos.
O Padre Yago ressalta, ainda, que a mensagem do Natal convida à humildade e ao amor ao próximo. “Existe uma reflexão muito profunda: todo menino quer ser homem, todo homem quer ser rei, todo rei pensa que é Deus, mas somente Deus quis ser menino. Esse é o mistério da encarnação. Deus escolhe a simplicidade para nos ensinar o caminho do amor, da paz e da salvação”, destaca.
Um presépio que nasceu da fé e se transformou em missão
Entre os símbolos mais tradicionais do Natal está o presépio, representação do nascimento de Jesus que atravessa gerações. Na cidade de Parnamirim, região metropolitana de Natal, um deles se destaca pelo tamanho e pela história que carrega. Montado há mais de uma década pelo fisioterapeuta Gleidson Medeiros, o presépio nasceu de uma promessa familiar feita durante uma visita a Aparecida, em 2013, e ganhou novos significados ao longo dos anos.
“A ideia surgiu quando eu e minha esposa fizemos uma promessa à Nossa Senhora Aparecida. Se conseguíssemos formar nossa família, montaríamos todos os anos a família de Cristo no Natal”, relata. À época, o casal enfrentava dificuldades para engravidar, após 12 anos de casamento e tratamentos médicos. Naquele mesmo ano, Gleidson montou um pequeno presépio, trazido de Aparecida. No ano seguinte, a esposa engravidou e, em 2015, nasceu Sofia, atualmente com 10 anos.
Desde então, o presépio nunca deixou de ser montado e cresceu junto com a família. O que começou em uma pequena mesa de centro, em um apartamento, hoje ocupa cerca de 14 metros quadrados e reúne cenários detalhados. A montagem já recebeu reconhecimento internacional, conquistando o segundo lugar em um concurso online de presépios realizado na Espanha, em 2023.
Atualmente, o presépio é dividido em quatro cenários: o dos pastores, com a anunciação do anjo; o da natividade, com a hospedaria e a gruta onde está o Menino Jesus; o cenário de Belém, a cidade onde tudo aconteceu; e o caminho dos Reis Magos, retratando locais históricos percorridos até a visita ao recém-nascido.
Neste ano, a iniciativa ganhou um novo caráter solidário. Gleidson lançou um livro virtual que narra a história do Natal como um romance, conduzindo o leitor pelos cenários do presépio. Toda a renda líquida obtida com as vendas será destinada ao Abrigo Juvino Barreto. “Hoje o presépio é um gesto de gratidão e também de missão. Além de evangelizar pela imagem e pela história, ele se transforma em um ato concreto de amor ao próximo”, afirma.
Instalado na frente da casa, o presépio pode ser visto por todos que circulam pelo condomínio onde Gleidson mora. O idealizador explica que, sempre que possível, faz questão de conduzir visitantes pelos cenários, explicando cada detalhe da maquete cristã.