Se nos dias de hoje tudo já é tão complicado para uma pessoa com necessidades especiais, imagina como foi lidar com a situação mais de quatro décadas atrás. Os ponteiros do relógio apontavam para 2h da madrugada do dia 20 de agosto de 1978 quando veio ao mundo, na capital potiguar, uma das crianças mais especiais do Rio Grande do Norte. No dia 30 deste mês, além de comemorar 46 primaveras, ele sobe ao palco para também celebrar 27 anos de carreira. Esta é a história de Jobson Maia, o autista que tem no rei da música popular brasileira sua maior inspiração.
“Cada criança nasce diferente uma das outras. Com o nosso filho não foi diferente. Porém, o nosso Jobson tinha muito mais particularidades. Nosso filho não falava, não respondia aos nossos contatos, e só começou a andar com 2 anos e meio”, recordou Ademilson Maia, pai de Jobson.
“Muitas opiniões foram dadas, muitos questionamentos foram levantados. Fizemos o que o bom senso nos mandou e começamos a nossa peregrinação. Foram muitos médicos e especialistas, além do nosso pediatra. Não foi nada fácil, pois todos nos mandavam aguardar. Não tínhamos sequer um parecer, algo que confortasse ou até mesmo nos desse um rumo. Já com 3 anos e meio para 4, o doutor Sérgio Aguiar, psiquiatra infantil, que acompanhou Jobson por seis meses, nos deu o diagnóstico de autismo, síndrome até então totalmente desconhecida por nós e também pelos próprios médicos. Dr. Sérgio também nos falou da gravidade que é o autismo, e nos revelou não haver cura. O que deveríamos fazer? Tratar sempre, não interromper nunca e seguir a vida sem poder ter muitas expectativas”, acrescentou Ademilson.
Ainda de acordo com o pai, perto de completar 4 anos Jobson demonstrou interesse pelas músicas de Roberto Carlos. Como todo autista tem um foco, este foi o principal e maior interesse de Jobson, a música do rei da MPB. E assim ele passou a viver, sempre focado nas canções de Roberto Carlos. “Chegou ao ponto de, em nossa casa, todas as paredes estarem rabiscadas com desenhos dos discos e letras das músicas de Roberto Carlos”, lembrou.
Dificuldades e realizações
“Tivemos todas as dificuldades possíveis na inclusão de Jobson nas escolas, nas ruas, tudo era motivo de recusa e discriminação. Mas, como Deus é perfeito, nos deu a música como caminho.
Em nenhum momento nos descuidamos do tratamento do nosso filho. Depois que descobrimos o que ele gostava, qual era o foco dele, passamos fortemente a trabalhar com a música como ponto principal para a inclusão de Jobson”, revelou Ademilson.
Ademilson disse que Jobson, já com 14 anos, começou a estudar música no Conservatório de Música Frederico Chopin, onde passou cinco anos estudando teclado, teoria, solfejo e canto. Ele ainda estudou por mais cinco anos na Escola de Música da UFRN.
Com a conclusão dos cursos, Jobson começou a fazer pequenas apresentações e a participar de shows em instituições voltadas para a inclusão social, escolas e casas de apoio a idosos. “Com as melhoras na performance de Jobson, íamos melhorando o nível dos shows. Jobson conseguiu concluir o 2º grau em uma escola cooperativa (COEDUC) onde também fez muitos shows”, pontuou.
“Quando o Jobson sobe no palco, não sobe sozinho. Tem uma legião de anjos que sobe com ele. Neste momento eu celebro tudo isso. Nestes nossos 46 anos, nós não trabalhamos apenas o Jobson. Ele se tornou um ícone nacional. Foi três vezes à Rede Globo, em programas de grande dimensão, e tudo por reconhecimento. Nós não pedimos, não mandamos bilhetes. Então, quando eu vejo o Jobson no palco, eu vejo as oportunidades que podem ser dadas através dos pais, para qualquer tipo de deficiência que existe em uma criança e que, se trabalhada com carinho, com amor, com foco, com fé, a gente alcança uma vitória. O amor nos leva a pontos totalmente conhecidos. Eu não diria pontos desconhecidos. Porque o amor nos traça o objetivo de vida na parte mais escura possível, como nós mesmos vivemos essa realidade. Mas, dentro de toda esta realidade, difícil que a gente viveu durante tanto tempo, sempre tinha uma luz do lado, que era a luz do criador, nos guiando ali, superando todas as dificuldades, as adversidades, e trabalhando a música e a inclusão para que o Jobson pudesse ser o cidadão que ele tinha o direito de ser.
Jobson, assim como outras crianças que têm algum tipo de deficiência, não nasceram para ficar trancados em um quarto. Eles nasceram para ser trabalhados, profissionalizados dentro da capacidade de cada um e ocuparem os espaços que vieram para ocupar no mundo. Para isso que Deus nos coloca no mundo, cada um com um objetivo de vida a ser traçado ou a ser desenvolvido, porque traçado já foi por Deus. Deus nos entrega uma joia rara, faltando ser lapidada. Por desconforto ou por preguiça, por falta de conhecimento, por causa da dor e do sofrimento, termina-se fazendo com que essas crianças não tenham o direito de usar os espaços que existem no mundo, quer seja em nossas cidades ou em nossos parques, para que eles possam usufruir dos direitos da cidadania. O que eu busquei para Jobson não foi ele ser o artista que ele é. O que eu busquei para Jobson foi o direito que ele tinha de ser cidadão. E, hoje, ele é um cidadão com todos esses direitos”.
O maior sonho
Em janeiro de 1998, Jobson realizou seu meio sonho, conhecer Roberto Carlos pessoalmente. Ele foi recebido pelo rei em seu camarim, durante um show no antigo ginásio Machadinho, em Natal.
“Neste dia, eu tive o privilégio e o prazer de testemunhar grandes emoções de ambas as partes”, contou Ademilson.
Carreira
A partir de 2011, Jobson passou a fazer shows fora do Estado. Ele já se apresentou em São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pará, Maranhão e Paraíba, além de quase todas as cidades do Rio Grande do Norte.
Ainda em 2011, teve seu trabalho reconhecido pela Rede Globo, que gravou sua história e a apresentou no programa “Criança Esperança”. Jobson voltou aos estúdios da Globo em 2014, quando se apresentou no programa “Encontro com Fátima Bernardes”. Recentemente, em 18 de maio deste ano, a apresentação aconteceu no programa “Caldeirão de Marcos Mion”, também na Globo.
Em sua trajetória, Jobson já gravou cinco CDs e quatro DVDs.
O show
O show que comemora os 46 anos de vida e celebra os 27 anos de carreira de Jobson Maia acontece no dia 30 deste mês, a partir das 20h30, na Arena Music, em Natal. O espaço fica na Av. Prudente de Morais, 5220. Mais informações e vendas pelo (84) 98838-6456.