O partidarismo tomou conta de tudo e de todos. Qualquer posição que alguém tome ou qualquer ponto de vista que defenda, termina sendo apoiado por um grupo e condenado pelo outro.
O radicalismo político alimentou os extremos, substituindo a racionalidade pelos sentimentos. O ódio e o amor assumiram o lugar do bom senso, da lógica e dos argumentos sólidos.
O problema é que o amor é cego aos defeitos e o ódio cega as virtudes, impedindo uma leitura lúcida e sensata da realidade.
A questão das vacinas contra a Covid-19 nos trouxe o ápice da cegueira, da insensatez e da estupidez. Deveria ser pacífico o entendimento de que a vacina salva vidas e são imprescindíveis para combater a Covid.
Porém, no moderno mundo das polêmicas sobre tudo e dos ‘ispecyalistas’ a respeito de todos os assuntos, vimos o impensável: Médico combatendo obrigatoriedade de vacina.
Ter médico que buscou tratamento precoce não é problema. Ele não pode ser condenado por isso.
Afinal, cabe ao profissional da saúde buscar amenizar os efeitos de uma enfermidade com os instrumentos materiais e medicamentos de que dispõe. O termo ‘tratamento precoce’ virou pejorativo pelo fato de que alguns receitaram determinados medicamentos sem comprovação efetiva de sua eficácia e sugeriram que tais remédios atuariam como ‘prevenção’ da Covid. Um equívoco perigoso.
A cegueira dos dois lados impediu a lúcida compreensão do fato real.
Na verdade, num momento de emergência, de crise, de pandemia, busca-se tudo que possa salvar a vida do paciente. O uso de vermífugo foi demonizado porque foi apresentado como solução, como prevenção da Covid. E não era. O medicamento elevava a proteção do sistema imunológico, o que fortalecia um pouco mais o organismo. Mas não evitava o contágio da Covid e nem a combatia.
O que salva a vida contra o Coronavírus é vacina. E quem faz campanha contra a vacina, está indiretamente proporcionando o ambiente da morte.
Se for médico, é ainda pior. É a negação da profissão, o casamento com o funeral coletivo, o divórcio com o juramento de Hipócrates. Um criminoso de jaleco.
O que é o ‘passaporte da vacina?’ Nada mais é do que a exigência de comprovação da imunização. Ou seja: Estar vacinado para poder ter acesso a algum lugar específico. Isso salva vidas. Faz toda a diferença, cientificamente comprovado.
Ser contra o passaporte da vacina é o mesmo que ser favorável à possibilidade da morte pelo contágio. É como você jogar alguém numa jaula de leões sem nenhuma arma para se defender e nenhuma proteção. A morte não tem margem de erro em certas situações.
E os argumentos utilizados por quem é contra o passaporte da vacina são frágeis e inconsistentes.
Dizem os doutores da morte que o passaporte da vacina viola os direitos de ir e vir, viola a liberdade do cidadão.
Ora, os 600 mil mortos tiveram liberdade de ir e vir e não ir mais a lugar algum. Usar a liberdade para brincar com a vida é inconcebível. Não é um teatro para encenar; é a vida real, sem volta.
Nesse aspecto, faremos analogia com algumas situações:
O cinto de segurança não deve ser obrigatório e não deve provocar multa, pois é de minha liberdade usar ou não, mesmo que eu possa por em risco minha vida e a dos outros.
Eu preciso ter a liberdade de usar armas de fogo para minha proteção, independente do que elas possam produzir de efeito colateral, como mortes de inocentes. Mas minha liberdade está acima de tudo.
Eu pus um dinheiro no banco e, em determinados horários, não consigo retirar mais que a quantia que o banco estabelece porque a instituição restringe minha liberdade de usar meu próprio dinheiro na hora que eu quiser, da forma como achar conveniente, mesmo que eu seja vítima de sequestro relâmpago.
Eu tenho a liberdade de pegar meu carro e andar embriagado na contramão, mesmo que isso mate pessoas inocentes que não tiveram como usar a liberdade para se proteger.
Portanto, o uso da liberdade em sociedade é imposto por regras, que gostemos ou não delas. Do contrário, estaremos diante da completa anarquia, em que a liberdade é absoluta, sem limites ou critérios, sem parâmetros ou regras.
Qual a diferença de um médico que é contra a vacina, contra o passaporte da vacina, com um que entrega uma corda a alguém que está desesperado com os problemas terrenos e quer usar sua ‘liberdade’ para por fim à própria vida?
Há diferença entre quem é contra a vacina e quem empurra o depressivo que está pensando em pular da ponte para a morte? Com as mãos ou com palavras, ele pode salvar o desesperado ou ajudar a consumar o ato extremo.
No caso específico de uma vacina que, comprovadamente salva vidas, diante de uma pandemia mundial que matou, somente em nosso País, mais de 600 mil pessoas, é uma estupidez inominável ser contra a vacinação ou lutar contra a exigência do passaporte da vacina.
Algumas pessoas precisam de vacina para lucidez, para curar a miopia provocada pelo fanatismo político, que sepulta o bom senso e entorpece a razão; precisam de vacina para desinflar o ego e para curar o excesso de vaidade dos aparícios.
A vacina que salva vidas não pode e não deve ser partidarizada. Por mais redundante que seja, ela salva vidas. E isso é o que importa.
Quem é contra a vacina, imprime suas digitais nas milhares de mortes dos que não tiveram oportunidade de se vacinar e foram tragados pela fragilidade do organismo diante de um vírus invisível e mortal.
Ser contra a vacina é ser a favor da morte. Simples assim.