
Parlamentares veem mais uma briga de honra do presidente Jair Bolsonaro (PL) com o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e ex-aliado, Antonio Barra Torres, ao pôr em dúvida a lisura da agência e de seus membros, que aprovaram a vacinação infantil contra a covid-19. Na quinta, 6, em entrevista à TV Nova, Bolsonaro sugeriu que a Anvisa e “pessoas taradas por vacina” poderiam ter “interesses” no aval à vacinação infantil, que já acontece em países como Chile e Estados Unidos. Mais tarde, durante a live semanal, ainda chamou a agência de “dona da verdade”.
No sábado, 8, Barra Torres rejeitou os ataques feitos por Bolsonaro em carta com tom pessoal, e cobrou uma retratação por parte de Bolsonaro, o que não aconteceu. Ontem, o presidente disse que não acusou o chefe da Anvisa de corrupção e disse que a nota do militar e ex-aliado foi “agressiva”.
Na avaliação de senadores e deputados federais de oposição e de centro, nas redes sociais, os questionamentos de Bolsonaro às ações da Anvisa passaram dos limites da atividade administrativa. O presidente da República, que não apresentou provas das alegações, foi chamado de “leviano” e “mentiroso” por parte dos políticos.
Veja algumas reações:
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), cotada como pré-candidata à Presidência, afirmou que as “insinuações” de Bolsonaro à Anvisa foram “um monumento à mentira, ao desrespeito e à leviandade”. “O presidente da Anvisa respondeu com um culto à verdade, ao respeito e à decência. Não poderia ser diferente: cada um oferece o que tem.”
Sergio Moro, que também pretende concorrer à Presidência, disse que “não há nada mais admirável do que as pessoas que se opõem ao poder de governantes arbitrários”. “Há uma longa tradição de coragem que construiu nossas liberdades. Parabéns ao Almirante Barra Torres por defender a sua honra e o direito dos brasileiros de vacinarem seus filhos.”
Vice-presidente da CPI da Covid e líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) escreveu que Barra Torres fez “uma defesa justa à ciência, à verdade, e aos profissionais que estão trabalhando para tirar nosso país da pandemia”. Ele acrescentou que Bolsonaro “não está à altura do cargo que ocupa” e “continuará agarrado em suas mentiras”, e então apoiou a saída do presidente do cargo.
O relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), avaliou que Barra Torres foi “sóbrio e polido” na carta pública endereçada a Bolsonaro, “presidente porra-louca”. “Mas todo brasileiro tem a perfeita tradução do que ele disse:- Tome vergonha na cara e peça desculpas ao Brasil, vagabundo”.
O senador Weverton Rocha (PDT-MA) se solidarizou com o presidente da Anvisa e os funcionários da agência. “O presidente Jair Bolsonaro deveria se retratar por levantar suspeita de uma agência séria e reconhecer a importância da vacinação.”
O líder da minoria na Câmara, Marcelo Freixo (PSB-RJ), deu os parabéns a Barra Torres pela “defesa firme de uma instituição tão importante para a proteção da vida dos brasileiros” e disse se lamentar que o país tenha um “presidente irresponsável que precise ser enquadrado por tentar sabotar a vacinação das nossas crianças”.
Para o deputado Ivan Valente (Psol-SP), a nota de Barra Torres foi “dura e certeira” e, “se Bolsonaro tivesse um mínimo de vergonha na cara, se retratava”.