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“É PRECISO REGENERAR A CAATINGA”, DIZ SUPERINTENDENTE DO IBAMA NO RN

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Os problemas que afetam a caatinga voltam à tona como reflexão no Rio Grande do Norte. Para o superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis no Rio Grande do Norte (IBAMA/RN), “é preciso regenerar a caatinga”. Ao Diário do RN, o professor Rivaldo Fernandes falou dos resultados do 2º seminário “Os Desafios da Caatinga”, realizado pelo órgão em parceria com a UERN, e mais ainda da preocupação que o tema tem despertado no estado. Exclusivamente brasileiro (presente em 70% da região Nordeste e 11% do território nacional), a caatinga é o bioma que mais corre risco de desaparecer.

“Relatório Anual do Desmatamento (RAD), divulgado pelo MapBiomas, revelou que, em 2023, o Rio Grande do Norte foi um dos estados com maior aumento percentual no desmatamento. Os dados, que comparam os anos de 2022 e 2023, mostram um aumento de 161% em um ano: foram 9.135 hectares desmatados em 2023 no RN – desses, sendo quase 9.114 na caatinga potiguar –, recorde desde o início da medição realizada pelo RAD, em 2019. O que ainda chama atenção é que o RN desmatou 1.369 hectares para energias renováveis na caatinga em 2023, sendo o estado com mais desmatamento para essa finalidade”, destacou o superintendente do IBAMA no Rio Grande do Norte, professor Rivaldo Fernandes.

“Nosso evento, ‘Os desafios da Caatinga’, realizado em abril no aniversário do IBAMA, trouxe a contribuição da UFRN através da palestra da professora Dra. Rosemeire Cavalcante dos Santos.

Ela é pesquisadora há mais de 40 anos do bioma caatinga e afirmou que para salvar a caatinga tem que ampliar o manejo sustentável e a regeneração das áreas em processos de desertificação, a exemplo do que ocorre no Seridó potiguar”, acrescentou.

Debate em expansão
Para ampliar ainda mais o debate, Rivaldo revelou que pretende expandir o debate para o Oeste do Estado. Para isso, o chefe da pós-graduação da UERN, professor Dr. Emanuel Nunes, está organizando um evento que vai reunir professores, cientistas, gestores, parlamentares e prefeitos da região na busca de implantar um projeto de regeneração da catinga no RN. “As instituições universitárias e as instituições sociais têm o caminho e o diagnóstico há algumas décadas. Falta decisão política. Há esperança de que, com a governadora Fátima Bezerra, que é presidente do Consórcio Nordeste, a defesa do bioma ganhe força. A criação do Fundo Nacional da Caatinga teve a força da governadora”, ressaltou o superintendente.

Bioma ameaçado
Ainda de acordo com o IBAMA, levantamento feito pelo Sistema de Alerta do Desmatamento SAD-Caatinga, parte integrante do MapBiomas Alerta, mostra que o desmatamento continua avançando sobre a caatinga com um aumento de 70% em apenas um ano. Foram 115.894 hectares em 2021 contra 68.304 hectares em apenas um ano. O Seridó RN abriga um dos seis núcleos de desertificação mais avançada no Brasil. Situação que pode piorar com o desmatamento da Caatinga, causado, em parte, pela implementação dos empreendimentos de energia eólicas do Estado.

Em 2023, cerca de 4 mil hectares foram desmatados na já fragilizada caatinga do RN para a implantação de complexos eólicos ou solares, segundo dados do Mapbiomas. E foi a primeira vez que a plataforma monitorou especificamente a supressão vegetal para empreendimentos energéticos.

No Rio Grande do Norte, 326 hectares de caatinga foram derrubados para instalação dos empreendimentos, sendo metade no Seridó. Do lado da Paraíba, a região concentrou 95,6% dos 901 hectares desmatados na Caatinga pelo avanço das duas fontes de energia renovável.

Nos últimos seis meses, o professor Rivaldo Fernandes assumiu a superintendência do IBAMA do Rio Grande do Norte e tem se destacado pelo seu comprometimento em defesa do meio ambiente e dos recursos naturais renováveis.

Os Desafios da Caatinga
O evento “Os Desafios da Caatinga” foi realizado em Natal em comemoração aos 25 anos de criação do IBAMA no Brasil. Teve a presença do presidente nacional Rodrigo Agostinho, que coordenou o seminário e reforçou a importância de se preservar o bioma, único e riquíssimo em biodiversidade. Além disso, o superintendente Rivaldo Fernandes tem trabalhado em parceria com diversos órgãos e instituições, como o SPU-Serviço de Patrimônio da União, Marinha do Brasil e prefeituras municipais de promover ações de proteção ambiental e combate à degradação.

Caatinga Viva
Quando esteve no RN, o presidente do IBAMA Rodrigo Agostinho recebeu em mãos o projeto de educação ambiental elaborado pela superintendência do IBAMA RN. Trata-se de um trabalha desenvolvido para o semiárido potiguar em parceria com o Instituto Federal de Educação (IFRN) chamado Caatinga Viva. Se aprovado, o projeto atuará a partir das escolas estaduais do RN conforme orientação da governadora Fátima Bezerra.

O início do projeto piloto está planejado para começar na região do Seridó, que está entre as quatros áreas de desertificação do Brasil. Vale lembrar que o RN tem mais de 90% de área do semiárido do Brasil. A ação educativa envolverá as comunidades locais, os estudantes das escolas municipais, estaduais e federais da região. O projeto pretende promover oficinas e cursos. Para envolver os jovens, serão utilizadas as ferramentas das redes sociais, como TicTok e Youtube.

Também serão capacitados professores, gestores ambientais, estudantes, sindicalistas e lideranças das comunidades rurais.

Parques eólicos e usinas de energia solar são vilões do desmatamento no RN

Entre os biomas, a caatinga é considerada um dos mais fragilizados. O uso insustentável de seus solos e recursos naturais ao longo de centenas de anos de ocupação fazem com que a caatinga esteja bastante degradada. E, no Nordeste, Rio Grande do Norte (161,0%) e Paraíba (106,5%) são os estados que apresentaram aumentos mais expressivos na área de vegetação nativa suprimida.

Os dados são do RAD2023, Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, elaborado pelo MapBiomas.

O documento, que apresenta um panorama abrangente do desmatamento em todos os biomas brasileiros nos últimos cinco anos, consolida e analisa os alertas de desmatamento validados e refinados com imagens de alta resolução pelo MapBiomas Alerta (https://alerta.mapbiomas.org/) a partir de múltiplos sistemas de detenção de desmatamento. Ele também avalia indícios de irregularidade ou ilegalidade e examina ações de combate ao desmatamento por órgãos governamentais e instituições financeiras.

Desmatamento nos biomas
Ainda de acordo com o relatório, Nos últimos cinco anos, o Brasil perdeu cerca de 8,56 milhões de hectares de vegetação nativa, sendo mais de 85% na Amazônia e no Cerrado. Em 2023, o desmatamento no Brasil diminuiu em 11,6%, totalizando 1,83 milhão de hectares.

O desmatamento na Amazônia diminuiu 62,2%, com 454,27 mil hectares desmatados em 2023, enquanto no Cerrado aumentou 67,7%, impulsionado pela região do MATOPIBA. Em 2023, pela primeira vez, o Cerrado ultrapassou a Amazônia, com 1,11 milhão de hectares desmatados.

Pantanal apresentou aumento de 59,2%, com 49,67 mil hectares desmatados em 2023, e Caatinga de 43,4%, com 201,68 mil hectares. Mata Atlântica e Pampa apresentaram redução, 59,6% (12,09 mil hectares) e 50,4% (1,54 mil hectares) respectivamente.


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