Bolsonaro e Lula são os personagens ocultos desta briga pela concessão da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae). Ao cancelar o decreto legislativo que autorizava a venda da Cedae, a política fluminense antecipou a sucessão presidencial de 2022 e colocou em lados opostos o governador em exercício , Claudio Castro e o presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano.
“Ué, mas eles não eram amiguinhos ? “, pergunta o curioso leitor. Sim, eram. Mas, agora, são como água e geosmina. Como Bolsonaro e Lula. Aos fatos:
- O Rio tinha, até ontem, três governadores. O primeiro é Wilson Witzel, “o Breve”. O segundo, Claudio Castro, “o Improvável”, e o terceiro funcionava como espécie de co-governador: Ceciliano, “o Surpreendente”.
- Ao substituir Witzel, Castro montou seu governo provisório com as bênçãos de Ceciliano. Se não indicava nomes, pelo menos sabia com antecedência quem seria nomeado.
- Tudo andava tão harmoniosamente, que Ceciliano viu em Castro uma espécie de “América” para disputar a reeleição em 2022. América é um simpático time do Rio que nunca ameaça os grandes. Por isso, é considerado o segundo time de todo carioca. Castro, como América, não incomodaria os grandes se ganhasse a reeleição 2022 e ficasse até 2026. Ceciliano continuaria como co-governador e o prefeito Eduardo Paes, “o Jocoso” (sim, no Rio todo chefe de Executivo tem título de nobreza) disputaria o cargo de governador em 2026, sem enfrentar a máquina do governo, já que Castro não poderia partir para o terceiro mandato.
- Para cumprir a função de América, Castro teria que ir se afastando aos poucos da influência do clã Bolsonaro. Não foi o que aconteceu. Em busca de viabilidade eleitoral e para não ficar nas mãos de Ceciliano, Castro se aproximou cada vez mais de Bolsonaro e de seus zeros, principalmente do senador Flávio Bolsonaro. Castro sonha em ser o candidato da família em 2022. Com empurrão da extrema-direita, ele quer entrar para o grupo dos grandes. O que é legítimo.
- É aí que entra o segundo personagem oculto desta história: Lula. Quando o líder máximo do PT reconquistou seus direitos políticos, o PT muda de estratégia. Não precisa de um América, mas de um grande. Cecliliano já cogitava Marcelo Freixo como o nome para unir a esquerda, mas, depois, o próprio Ceciliano passou a ser cogitado (o PT sendo PT e querendo a cabeça de chapa).
- O curioso leitor está impaciente e pergunta: “E a Cedae nisso?”. A concessão da empresa seria o maior presente que Castro daria a Bolsonaro. Um troféu para Bolsonaro e Paulo Guedes. Para Ceciliano, um presente sem contrapartidas, já que Paulo Guedes trata o Rio a pão e água. Além do que, com a concessão, Castro vai ter mais dinheiro no cofre em ano de eleição. O América marcaria uns pontos e subiria na tabela.
RESUMO
Assim, esse humilde blog se permite a tirar as seguintes conclusões: a sucessão presidencial já começou no Rio, a concessão da Cedae subiu no telhado, e dona Maria continua sem saneamento e bebendo água com geosmina.
O blog tem memória: o último presidente da Assembleia a impedir a venda da Cedae aos 45 minutos do segundo tempo foi Sergio Cabral. Com isso, ele rompeu com o governador Marcello Alencar e se aproximou do sucessor, Garotinho. Isso foi em 1998.
Fonte: G1 – Octavio Guedes