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IBAMA PEDE SOCORRO PARA A CAATINGA, BIOMA CASTIGADO PELO DESMATAMENTO

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A Caatinga, bioma característico e exclusivo do Nordeste brasileiro, está correndo sério risco de desaparecer. O desmatamento desenfreado e as mudanças climáticas vêm contribuindo para a desertificação do sistema. O pedido de socorro está sendo feito pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

Superintendente do órgão no Rio Grande do Norte, o professor Rivaldo Fernandes apresentou à Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH) um projeto que busca unir esforços dos governos federal, estadual e municipal, em colaboração com instituições educacionais de todo o estado. “Precisamos salvar a caatinga”, enfatiza o professor.

A proposta também foi discutida em Brasília, juntamente com o presidente nacional do IBAMA, Rodrigo Augustinho. “O projeto já conta com o apoio da Secretaria de Educação do RN, sob a gestão da professora Socorro Batista. Além disso, o coordenador de meio ambiente da SEMARH, Robson Henrique, também participou do encontro, reforçando a importância da ação conjunta”, destacou Fernandes.

Educar para preservar
A caatinga cobre mais de 90% do território potiguar. É um bioma extremamente frágil e ameaçado pela desertificação. Segundo a Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), mais de 2,7 bilhões de pessoas em todo o mundo são afetadas pela desertificação, e o Nordeste brasileiro é uma das regiões mais vulneráveis. Um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em agosto de 2023, estima que metade da Caatinga está em processo de degradação, com o problema se agravando em áreas como o Seridó, que abrange boa parte do sertão do RN e da Paraíba.

“O projeto de educação ambiental pretende reverter essa situação, engajando escolas federais (Institutos Federais – IFs), estaduais e municipais para conscientizar a população sobre a importância da preservação do bioma e as consequências das mudanças climáticas. A educação será o principal pilar, com foco em envolver alunos, professores e a comunidade local em ações de conservação e recuperação ambiental”, acrescentou o superintendente do IBAMA no RN.

Parceria necessária
A iniciativa foi concebida por duas renomadas especialistas, a professora bióloga Sheila Varela Lucena, do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, e a professora engenheira florestal Rosemeire Cavalcante, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ambas destacam que a preservação da Caatinga passa, necessariamente, pelo fortalecimento de uma educação ambiental que chegue às escolas e comunidades. Elas enfatizam que, sem esse esforço, a degradação continuará a avançar, colocando em risco não só o bioma, mas a vida e os meios de subsistência de milhões de pessoas.

Integração
A ideia é unir governos federal e estadual, juntamente com as prefeituras. Ambos têm papel fundamental na implementação deste projeto de grande escala. “A utilização das escolas estaduais e municipais, em conjunto com os IFs, será essencial para criar uma rede de proteção ao bioma e para garantir que as futuras gerações entendam a importância da Caatinga como um patrimônio natural”, enfatizou Rivaldo Fernandes. “A educação ambiental será uma poderosa ferramenta para salvar a Caatinga, promovendo práticas sustentáveis e fortalecendo a luta contra a desertificação no RN”, acrescentou.

Exploração de lenha é ameaça acelerada em território potiguar

A exploração de madeira, que praticamente sem controle algum é transformada em lenha para a indústria e fábricas de telhas e tijolos no sertão potiguar, foi tema de reportagem publicada em junho passado pelo Diário do RN, logo após estudo desenvolvido na UFRN. Na ocasião, os pesquisadores já alertavam para os resultados preocupantes.

Ao mesmo tempo em que derrubada da vegetação alimenta uma das atividades mais importantes para a economia de vários municípios no interior do estado, a devastação de extensas áreas de vegetação também causa danos irreparáveis para Caatinga.

O estudo foi coordenado pela engenheira florestal, professora e doutora Rosimeire Cavalcante dos Santos, que também chefia o projeto Expedição Caatinga. Na reportagem, ela chama a atenção para a falta de sustentabilidade e os impactos ambientais deste tipo de exploração. “O nosso estado tem uma dependência absurda da madeira de lenha como fonte de energia alternativa. É o caso do setor da cerâmica vermelha, para a fabricação de telhas ou tijolos, mas também de padarias, pizzarias, por exemplo”.

O que fazer?
“Essa é a principal resposta. Precisamos entender qual o modelo ideal. Que se explore a madeira, mas que seja de maneira sustentável”, destacou a coordenadora Rosimeire Santos.

Atualmente, o projeto Expedição Caatinga está em busca de descobrir as melhores soluções. A pesquisa avalia a quantidade de vegetação existente em uma determinada área e busca calcular a velocidade com que se pode manejar a extração dessa madeira sem devastar a área, de forma que a vegetação possa se regenerar a tempo de se fazer uma nova retirada de madeira. O ideal é que, na mesma velocidade em que se corta a madeira, haja novas plantações e que essa nova vegetação possa se desenvolver a tempo suficiente de se iniciar um novo ciclo de corte.

RN tem floresta com processo de conservação em andamento

Grupo reúne conhecimento técnico para discutir preservação da caatinga – Foto: Reprodução

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) anunciou, em junho deste ano. a seleção de 12 projetos prioritários para a criação de unidades de conservação federais no bioma Caatinga, a serem implantadas até 2026, que resultarão no aumento de mais de um milhão de hectares das áreas protegidas. Encontram-se em andamento as ampliações do Parque Nacional da Serra das Confusões, no Piauí; da Floresta Nacional de Açu (Flona de Açu), no Rio Grande do Norte; e do Refúgio da Vida Silvestre do Soldadinho-do-Arararipe, no Ceará.

A Flona de Açu é uma unidade de conservação administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidadem (ICMBio). Está localizada na bacia do Piancó-Piranhas-Açu e margeada pela Lagoa do Piató. A Floresta Nacional de Açu é um fruto da mobilização social, tendo um importante papel na proteção de espécies típicas e ameaçadas da biodiversidade da Caatinga e no combate ao processo de desertificação do semiárido, contribuindo para a construção de conhecimento, uso público e atividades socioambientais.

A Floresta Nacional de Açu foi instituída pela Portaria Nº 245 de 18 de julho 2001 e possui oficialmente uma área de 215,25 hectares, executando várias atividades como a proteção, pesquisa científica, recuperação ambiental e visitação.


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