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IBGE MOSTRA QUEDA HISTÓRICA NOS CASAMENTOS E RECUO NOS DIVÓRCIOS

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Em 2024, o Rio Grande do Norte registrou 12.835 casamentos civis, número 111 inferior ao observado em 2023 e que confirma a tendência de queda iniciada em 2019. Em uma década, o recuo acumulado chega a 21,30%, segundo as Estatísticas do Registro Civil 2024, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O volume do último ano só não foi menor do que o de 2020, auge da pandemia de Covid-19, quando foram formalizados 10.019 casamentos no estado. Os dados consideram exclusivamente os registros feitos em cartórios de pessoas naturais.

O levantamento revela que a diminuição dos casamentos é mais acentuada entre jovens. Todas as faixas etárias entre 15 e 35 anos apresentaram redução proporcional ao longo da última década.

Em sentido oposto, cresce o peso dos casamentos entre pessoas com 35 anos ou mais, que passaram de 30,37% em 2014 para 46,64% em 2024, indicando uma postergação da formalização da união. Como resultado desse movimento, a taxa de nupcialidade legal no RN foi de 4,6 em 2024, a quinta menor do país. Isso significa que, a cada mil pessoas com 15 anos ou mais, apenas 4,6 se casaram formalmente no período. A média nacional foi de 5,6.

Entre os registros do ano passado, 1,37% corresponderam a casamentos entre pessoas do mesmo sexo, sendo 64 uniões entre mulheres e 111 entre homens. A maioria dos casamentos ocorreu entre pessoas solteiras, 80,02% do total, mas houve aumento proporcional dos recasamentos, quando ao menos um dos cônjuges era divorciado ou viúvo, passando de 7,74% em 2023 para 7,99% em 2024. O levantamento também identificou 84 casamentos entre brasileiros e estrangeiros, além da manutenção de dezembro como o mês mais procurado para oficializar uniões, embora com queda de participação, de 12,75% para 11,83%.

No mesmo período, o número de divórcios também caiu de forma significativa no Rio Grande do Norte. Em 2024, foram registrados 4.616 divórcios de casamentos heterossexuais, redução de 19,23% em relação a 2023, quando houve 5.715 dissoluções. Apesar da queda geral, os divórcios extrajudiciais, realizados diretamente em cartório, tiveram leve alta, passando de 497 para 517 casos. A maioria das separações judiciais ocorreu em casamentos com 26 anos ou mais de duração, seguidos pelos vínculos entre 10 e 14 anos. Uniões com até um ano representaram menos de 5% dos divórcios no estado.

Novo significado para casamento
Para a celebrante de casamentos Rosania Amaral, os números refletem uma mudança profunda no significado do casamento. Segundo ela, a formalização deixou de ser o ponto de partida da vida a dois e passou a representar um momento posterior, quando o relacionamento já está consolidado. “Hoje o casamento é visto como um ponto de chegada. Muitos casais já vivem juntos há anos, alguns já têm filhos, e só depois decidem oficializar”, afirma. Ela observa ainda que a união estável, registrada ou não em cartório, passou a competir diretamente com o casamento civil, reduzindo o público que antes tinha apenas essa opção para formalizar a relação.

Rosania também destaca transformações no perfil das cerimônias e nas motivações dos noivos.

“Vejo cada vez mais casamentos íntimos, com menos pompa e mais significado. Há uma valorização da personalização e uma consciência maior sobre o regime de bens e o planejamento financeiro”, diz. Para ela, o aumento dos casamentos após os 35 anos está ligado à busca por estabilidade econômica e emocional. “As pessoas chegam mais maduras, mais certas do que querem, o que reduz as chances de separação”, avalia, relacionando esse fator à queda nos divórcios.

Mudanças no comportamento à dois
Do ponto de vista comportamental, a psicóloga Keila Oliveira pondera que a redução dos divórcios não deve ser interpretada como um retorno à valorização do modelo conjugal tradicional. “Estamos vendo a consolidação de um novo jeito de viver à dois. A queda recente nos divórcios tem também uma explicação logística: houve uma demanda reprimida durante a pandemia, com cartórios fechados, que explodiu nos anos seguintes. Agora, esse fluxo foi absorvido”, explica. Segundo ela, a estagnação nos casamentos reflete uma tendência de longo prazo, marcada pela priorização da carreira, da autonomia financeira e da felicidade individual.

Keila avalia ainda que o casamento deixou de ser um imperativo social e passou a ser uma escolha tardia. “As pessoas não perderam o interesse em se relacionar, perderam o interesse na formalização precoce. O casamento virou um adicional de bem-estar, não a base da vida”, afirma.

Para a psicóloga, a menor tolerância a relações insatisfatórias e o maior acesso à terapia e à mediação contribuem para uniões mais conscientes, ainda que menos numerosas. “Os dados do IBGE mostram uma transição de valores, em que autonomia e satisfação pessoal pesam mais do que a tradição”, conclui.


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