
A intensivista e cardiologista Ludhmila Hajjar declarou, em entrevista para o Jornal O Globo, que atualmente as UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) estão lotadas de pacientes não vacinados contra a covid-19 e alertou para os danos da doença entre profissionais da saúde.
Ludhmila classificou como “brutal” a diferença entre o impacto da contaminação pela variante ômicron entre vacinados e aqueles não imunizados ou que não completaram o ciclo de imunização – vacinados dificilmente desenvolvem casos graves da doença. “As UTIs estão atualmente só com casos de covid entre os não vacinados. Os imunizados dificilmente passam do atendimento ambulatorial”, disse.
Quando questionada se já presenciou um paciente infectado arrependido por não ter tomado a vacina, a médica respondeu: “Como intensivista, tenho visto cada vez mais pacientes internados arrependidos de não terem sido vacinados. Eles chegam com a forma grave da doença, se arrependem, porém, já é tarde.”
Hajjar alertou para a importância da vacinação, pois a covid-19 é um vírus muito novo que ainda pode “nos trazer surpresas”, e ressaltou que, com a variante ômicron, “a doença tem apresentado comportamento semelhante” nos sistemas de saúde público e privado. “A variável mais expressiva em relação ao perfil da doença, tem sido, definitivamente, o não vacinado.” Apesar do alerta sobre possíveis “surpresas”, Ludhmila afirmou acreditar na linha científica que aponta um possível fim da pandemia em razão do alto nível de infecção pela doença atualmente.
“Temos pela primeira vez a junção de dois fatores: uma variante altamente prevalente infectando muita gente imunizada. Isso faz com que um número alto de pessoas se infecte com a forma branda da doença, o que é bom para a imunização. Não podemos, no entanto, baixar a guarda com a vacinação.”, acrescentou.
Segundo a médica, “em uma semana os sistemas de saúde deverão entrar em colapso no Brasil” pelo aumento no número de infecções, levando as pessoas a se encaminharem aos ambulatórios, e a quantidade de profissionais da saúde afastados por também estarem contaminados pela covid-19. “A maioria dos médicos e enfermeiros foi imunizada com duas doses da CoronaVac e reforço da Pfizer. A CoronaVac foi importantíssima no início, frente à inexistência de outras. Mas ela não protege como as outras em relação a novas variantes. Muitos de nós seremos infectados. De uma forma mais branda em relação ao que se viu há um ano, quando não havia imunizantes no Brasil. Mesmo assim, seremos afastados.”, afirmou.
A médica ainda definiu como “perigoso” a possível permissão para profissionais da saúde vacinados com a dose de reforço trabalharem mesmo contaminados. “Temos contato físico muito próximo dos pacientes, o risco de transmissão é alto ainda mais quando se trata da ômicron, que tem uma taxa muito alta de contaminação. Reduzir o tempo de quarentena acho responsável e isso poderá ajudar para cobrir desfalques. Mas ao menos sete dias de afastamento seria prudente.”, alertou.
Com informações do UOL