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PARA NATÁLIA, NATAL MERECE ALGO QUE NÃO SEJA “MAIS OU MENOS E MEDÍOCRE”

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“Não tem nada mais importante hoje na nossa cidade para um candidato a prefeito do que ter empatia com o extremo grau de sofrimento ao qual o nosso povo trabalhador está submetido naquelas áreas mais básicas”. A candidata a prefeita de Natal, Natália Bonavides (PT), descreve um dos motivadores que a levou a colocar seu nome à prefeita da capital do RN nesta eleição. A terceira entrevistada da série de sabatinas do Diário do RN explica o foco do Plano de Governo nos transportes coletivos e em novas possibilidades de geração de emprego e renda, além do turismo, educação e direitos da mulher.

Segundo Bonavides, Carlos Eduardo (PSD), Paulinho Freire (UB), apoiado por Álvaro Dias (Republicanos), e Rafael Motta (Avante) têm muito em comum. O ex-prefeito e o ex-presidente da Câmara, para ela, tiveram oportunidades e não corrigiram problemas crônicos da cidade. E Rafael Motta gostaria de estar no lugar de um deles. Veja a íntegra da entrevista, realizada no dia 17 de setembro.

Diário do RN – Candidata, a senhora está preparada para gerir o município de Natal?
Natália Bonavides – Primeiro eu queria agradecer ao convite para essa conversa, para essa entrevista. Eu não só estou preparada, como todos os debates têm mostrado que eu sou a mais preparada. Nós temos visto um nível de discussão aqui na nossa cidade em que muitas candidaturas se limitam a colocar ali algumas frases de efeito, não aprofundam os temas, suas propostas, e nós temos ido para todos os lugares possíveis dar entrevistas, participamos de todos os debates, aqui estamos convidadas para demonstrar que não é a idade que determina a competência e o preparo de uma pessoa. Na verdade, é a nossa experiência como advogada, mestre em direito constitucional, especialista em gestão pública municipal, vereadora de Natal por dois anos, deputada federal desde 2019, sendo sido inclusive a mais votada da cidade, fez parte desse processo de preparação em que a coisa mais importante na verdade, apesar de todos esses títulos foi o contato com o nosso povo. Não tem nada mais importante hoje na nossa cidade para um candidato a prefeito do que ter empatia com o extremo grau de sofrimento ao qual o nosso povo trabalhador está submetido naquelas áreas mais básicas. Quando a gente olha para a educação pública, a gente vê sorteio de crianças para acessar a creche, um tema que nós conseguimos fazer com que todos os candidatos também falassem, porque temos pautado não agora na campanha, mas desde muito antes nosso povo submetido a sair de casa de madrugada para enfrentar filas para pegar um papel para entrar numa lista de espera isso em 2022, o nosso povo totalmente descrente com um sistema de transporte público que há mais de 20 anos só piora, só fica mais disfuncional para o povo trabalhador da nossa cidade e tantos outros temas que não são de hoje, não são dessa gestão nem na gestão passada, mas vem se perpetuando há pelo menos duas décadas sem que os últimos gestores tivessem tido a capacidade ou a vontade de resolvê-los. E é por isso que a gente apresenta nessas eleições a única candidatura que representa uma mudança de verdade nos rumos que a cidade tem tomado e que tem deixado a nossa economia estagnada.

Diário do RN – Nessa questão do transporte público, Natália fará licitação ou vai implementar uma empresa estatal no modelo Tarifa Zero?
Natália Bonavides – Quando eu era estudante eu já participava de todos os debates e manifestações públicas sobre essa pauta. O meu candidato a vice-prefeito vereador Milklei Leite foi 20 anos motorista de ônibus no sistema opcional, ele foi fundador do sindicato, na Câmara Municipal tem a maior produção legislativa sobre o tema do transporte. Isso porque tanto eu quanto ele, a gente não vem tratando só porque é época de eleição, ou só porque estamos em cargos parlamentares. Mas na verdade, de muito antes, porque a gente sabe como esse tema afeta a vida do povo trabalhador da cidade. A gente não está falando aqui do direito de passear de ônibus. Nós estamos falando de como chegar ao local de trabalho. De como chegar ao local de estudo. De como chegar – por que não? – no local de lazer também, porque hoje o trabalhador passa a semana inteira ralando e no domingo o ônibus é retirado e ele não pode ir visitar a praia da sua cidade, mesmo que tenha gente vinda de outros continentes para viver essa mesma paraia. Então, o que nós temos nas últimas gestões é uma total omissão desse tema. Quando acabou a pandemia, que tudo voltou, menos as linhas de ônibus, que foram retiradas. Eu entrei com ação judicial contra a Prefeitura e o Seturn. Consegui várias decisões favoráveis ao retorno dos ônibus e o que a Prefeitura fez? Se posicionou do lado do Seturn nessa ação judicial. Disse que o nosso pedido de retorno das linhas não deveria ser aceito, que o setor estava certo de amanhecer o dia e aquele ônibus que o trabalhador ia pegar na parada simplesmente não passar.

Sem nem ter tido um aviso sequer. Então essas últimas gestões têm sido extremamente complacentes com essas empresas. Inclusive, tendo um tipo de relação que é bastante inadequada para você ter realmente um trabalho sério para resolver esse tema da licitação. Vou dar aqui um exemplo: Carlos Eduardo, quando foi prefeito, ele foi o prefeito que mais deu aumento de tarifa. Ele aumentou a passagem em 130%, quando você soma sucessivos aumentos que ele deu, perdoou R$ 70 milhões em dívidas que essas empresas tinham com o município de Natal e ele também foi o candidato que recebia doação na campanha eleitoral de pessoas do ramo. Então, quando você tem esse tipo de relação, você tem uma postura da Prefeitura, que é simplesmente de fazer de conta um edital que já sabe que vai dar deserto, que já sabe que as empresas não vão comparecer, porque para elas interessa que o sistema fique desregulamentado, que ela não tenha um contrato e Natal é a única capital que não teve até hoje licitação do transporte, é uma relação informal, não existem as obrigações para dar o direito usuários, os direitos, as obrigações da Prefeitura e da das concessionárias e isso tem feito com que o tema não ande. Eu não vou dizer que ele está igual há 20 anos, porque teve piora. Ele mudou, mas está pior.

O número de linhas de ônibus e de veículos, da frota que temos hoje é 40% em média menor do que nós tínhamos 20 anos atrás. Então, tanto o Carlos Eduardo, quanto o Álvaro Dias fizeram esse processo de aprofundamento da piora do sistema de trânsito. E por que nós, eu, Natália, e o nosso vice-prefeito Milkley, somos a única candidatura que coragem de resolver esse problema?

Primeiro, porque não é um tema que a gente trata com palavra de efeito que o marketing falou para dizer e que na hora H vai ser só mais um.

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Diário do RN – Outro assunto bastante também comentado durante a campanha tem questão das vagas nas creches. Qual é a solução que a senhora aponta?
Natália Bonavides – Eu tenho um orgulho já nessa campanha, que é ter feito com que nenhum candidato deixe de falar desse tema. Se você observar na campanha passada já estava acontecendo o sorteio de creches há anos e isso foi falta, por exemplo, de Álvaro Dias. Ele nunca falou que ia acabar com a fila na creche e esse é um tema que até por eu ser a única mulher candidata a prefeita nessa eleição de Natal, não poderia não estar na nossa agenda. Se você me perguntar de três temas prioritários, esse é emergencial. Carlos Eduardo está dizendo por aí que dobrou o número de vagas na creche na época dele. Vamos lembrar que a gente tinha creches em tempo integral. Ele acabou com tempo integral e colocou no turno em que as crianças estavam as outras crianças. Então, ele diz que dobrou, mas na verdade à custa do emprego de milhares de mulheres. Que quando o tempo integral acabou, ficaram simplesmente inviabilizadas de trabalhar, foi isso que ele fez e aí começou o sorteio porque nem isso resolveu. Então, essa foi a solução encontrada, sortear criança. Isso é muito cruel. E quando não tem a vaga, quem faz o trabalho são as mulheres, quem fica sem autonomia financeira são elas. E a gente tem consequências tão graves nisso, por exemplo, todos os estudos mostram que uma mulher em situação de violência doméstica ela vai ter muito mais dificuldade de sair daquela situação se ela não tiver uma fonte de renda dela. Porque se ela denuncia e o companheiro, o ex-companheiro, vai preso e fica sem como pagar uma pensão, por exemplo, é ela que vai ficar ali com os filhos para criar uma alternativa. Eu estou dizendo isso para gente entender o tamanho da crueldade que é essa prática do sorteio. É por isso que nós temos proposta de imediato, médio e longo prazo para o tema. De forma imediata, nós vamos fazer convênios que tão acontecendo inclusive em outras cidades, já existe formato jurídico para isso, tem em Juiz de Fora, Recife, fazendo também convênios com organizações sem fins lucrativos para gente ampliar de forma imediata mais vagas.

Diário do RN – A senhora falou do assunto das creches, do problema do trabalho da mulher para população de uma maneira geral. Dentro do seu plano de governo, o que existe em termos de expandir oportunidades de emprego de Natal, já que Natal hoje é vinculada apenas com o turismo como mola propulsora?
Natália Bonavides – Sempre que eu posso falar sobre o tema do desenvolvimento econômico na nossa cidade eu falo como hoje a nossa matriz econômica é reduzida. A gente é muito dependente de duas áreas na economia, o turismo e o setor público, e as possibilidades que a gente tem na cidade são simplesmente ignoradas pelas últimas gestões municipais. Eu tenho uma obsessão, obstinação, quando for prefeita, que é gerar emprego, porque eu sei que não tem política social que seja melhor que essa. Aqui na nossa cidade nós temos muitas áreas que já estão em funcionamento, mas que não são enxergadas e áreas que podem vir para nossa cidade, mas não tem nenhuma ação de articulação sendo feita nem pelo atual prefeito, nem foi feita pelos últimos prefeitos. Vou dar aqui três rápidos exemplos. A pesca industrial. Nós temos o setor pesqueiro, que é responsável por 80% de atum do Brasil e que os Estados Unidos, de tudo que importam desse pescado, 40% vêm de Natal e simplesmente não tem nenhuma área na Prefeitura que lide com pesca, nem com pesca artesanal, nem com pesca industrial. Nós temos um setor de design de vestimenta, e roupas e acessórios de moda, que tem muitos talentos aqui, que não tem nenhum apoio e a gente vê muitas marcas abrindo e fechando porque não consegue se desenvolver. Aí a gente vem em Fortaleza, em Recife, marcas que utilizam técnicas artesanais locais vendendo até em exposições de alta costura com valor agregado altíssimo e a nossa cidade que tem uma vocação para indústria têxtil também ignora esse mercado. E eu vou falar de um terceiro setor, porque eu não me conformo que a gente acha que a cidade tem uma vocação natural e é só isso que a gente pode fazer. É claro que a nossa vocação natural com o turismo precisa ser potencializada, até porque hoje a infraestrutura turística não é boa. Você vai em Ponta Negra, que supostamente era para ser um local mais valorizado em termos de infraestrutura turística e não tem escada para você descer do calçadão para areia. Ou são os sacos de areia ou umas tábuas, fica com medo – o turismo de aventura é para ser em outro canto, não para ser do calçadão para areia. Você tem umas tábuas lá quase quebrando no ponto turístico principal da cidade. O setor de tecnologia de informação do processamento de dados e correlatos é hoje o setor que mais emprega e que não tem mão de obra qualificada, falando de Brasil. E sobra vaga nesse setor. Aí o que que acontece? A gente tem na UFRN o Instituto Metrópole Digital.

Instituições que estão encubando startups para criação de software, de aplicativo, de tecnologias e não tem uma vinculação disso com o que tá acontecendo no Governo Federal, o programa Nova Indústria Brasileira, que o vice-presidente Geraldo Alckmin está impulsionando e cidade não tá se inserindo, você tem como trazer para cá uma indústria que ocupa um terreno pequeno, porque nossa cidade é pequenininha, já tá muito ocupada, a gente tem que buscar esses nichos justamente que não requeiram parques industriais muito extensos que pode até ficar na região metropolitana e isso é bom e muito importante para Natal.

Diário do RN – Em algumas gestões de Carlos Eduardo o PT foi parceiro, inclusive fez parte gestão. Não foi partícipe do atraso de algumas situações, como a licitação, como outras coisas?
Natália Bonavides – Não, inclusive, porque em algumas gestões houve pessoas, figuras, pessoas físicas que participaram e que inclusive em alguns casos pediram licença na sua filiação partidária para poder participar da gestão. Nós temos nos debates sobre tática eleitoral sempre um desafio grande. Eu não estou dizendo que não se possa conversar com quem você não esteve antes do lado ou que não se possa deixar de conversar com quem eh uma vez estava ao seu lado, mas a gente tem que entender qual é o sentido dessas escolhas de táticas eleitorais. Por exemplo, o candidato Carlos Eduardo, as escolhas que ele faz de aliança política, demonstram que o que ele tem em mente é um mero projeto pessoal de poder. Você em 2018 se presta a apoiar Bolsonaro, eu tenho um panfleto lá em casa que eu guardei nessa época que parece uma peça assim do submundo bolsonarista com fake news e o CNPJ da campanha dele lá. Aí em 2022, porque quer o apoio do outro espectro político, se arrepende. Aí dois anos depois diz que quer derrotar aquelas pessoas que estavam com você dois anos antes. É como eu disse, não é que não possa mudar de posição e se aproximar ou se afastar dos setores que estavam ou não com você antes, mas quando você tem esse tipo de mudança tão drástica, como uma hora é do Bolsonaro, e depois dizer que vai derrotar, você entende que o que tá em jogo ali não é um projeto para sociedade, não é uma visão de cidade, não é um projeto de desenvolvimento, é sim um projeto pessoal. Carlos Eduardo só aparece na cidade quando tem eleição. Eu pelo menos não sei com quem ele trabalha, o que ele contribui para uma cidade, se participa de algum projeto social, se na pandemia, quando eu estava lá distribuindo quentinha e outras coisas, naquela época horrível que nosso povo passou, não soube de nenhum trabalho. Então você só tem interesse no povo da cidade quando é para alavancar sua própria carreira pessoal? Eu não acho que a política é para gente assim, eu acho que é para quem está disposto a servir, eu acho que é para quem está disposto a trabalhar muito para resolver os problemas que são muito difíceis que a nossa cidade tem hoje e acho que quem quer carreira pessoal, devia ir para outra área.

Diário do RN – O presidente Lula vem? Quando?
Natália Bonavides – Nos foi dito que na reta final pela última semana de setembro seria a data que ele vinha.

Diário do RN – Que avaliação a senhora também faz dos demais adversários, Paulinho Freire e Rafael Motta?
Natália Bonavides – Eu acredito que os três têm muito em comum. Inclusive, eu achei curioso como o Carlos Eduardo e o Paulinho Freire até o marketing deles concluiu isso, porque a logomarca deles é praticamente igual. O conceito artístico que eles apresentaram para cidade foi basicamente a mesma coisa e eu concordo muito com o marketing deles nesse sentido. Então, Carlos Eduardo ele foi prefeito quatro vezes teve toda a oportunidade do mundo para resolver esses problemas estruturais, não resolveu, se não se não teve competência ou não teve vontade fica para história avaliar. Paulinho Freire está se propondo a ser o candidato de continuidade da gestão Álvaro Dias, que é a gestão que está mantendo todos esses absurdos acontecendo. É tanto que a gente já falou aqui de creche, de educação, de saúde, de alagamento, ele, por exemplo, chegou a abrir um hospital veterinário sem autorização de licença só para o candidato dele poder passar na inserção eleitoral que tinha um hospital veterinário. Ele fez de tudo para conseguir a licença para engorda de Ponta Negra para poder dizer que está sendo feita e a obra está parada, numa atitude de irresponsabilidade com o dinheiro público que eu tenho visto poucos precedentes. Rafael Motta se prestou, sabendo de tudo isso, aceitar ser secretário de Álvaro Dias.

Hoje ele critica muito a candidatura de Paulinho, mas bem que ele queria estar no lugar, de receber esse apoio. Então, você vê que todo mundo ali já foi secretário, o outro foi vice-prefeito, o outro foi prefeito, foi prefeito, foi prefeito, foi prefeito, e agora o que eles dizem que é um problema que vão resolver quando eles estiverem lá com a caneta na mão, com a oportunidade e a possibilidade de articulação. Eles não fizeram isso. Então, a nossa candidatura é a única que representa realmente uma mudança de rumos da cidade para gente sair dessa estagnação que o povo natalense tem, que a gente sente, todo mundo achava hwá 15, 20 anos, que aqui era o maior potencial, era a cidade melhor de se viver no Nordeste, quando foi que a gente deixou essas oportunidades escorrerem pelos dedos e agora a gente fica olhando para João Pessoa, para Fortaleza, para Recife, só se lamentando porque os investimentos vão para lá, a inovação vai para lá, o turista natalense quer ir para lá. Não estou dizendo que nenhum deles fez nada de bom na vida, gente. Mas a nossa cidade merece uma oportunidade de algo melhor, algo que não seja o mais ou menos, medíocre. A gente pode resgatar aquela autoestima que a gente já teve antes e fazer essa cidade se projetar no nordeste, no Brasil e no mundo em outro patamar.


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