
A Prefeitura de Natal anunciou um projeto inovador na área de assistência social. Com investimento de US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões na cotação atual), sendo 80% provenientes de financiamento do Banco Mundial (BIRD) e 20% de contrapartida do município, o Natal Integra – Desenvolvimento Social e Econômico Integrado do Município de Natal promete transformar a forma de atendimento às famílias em situação de vulnerabilidade na capital potiguar.
Em entrevista ao programa 12 em Ponto, da 98 FM, nesta quarta-feira, 15 de outubro, a secretária municipal de Assistência Social, Nina Souza, detalhou os objetivos e o impacto do projeto, que deve beneficiar mais de 200 mil pessoas. “Hoje, a assistência social de Natal monitora mais de cento e cinquenta mil famílias. São mais de duzentos e trinta mil pessoas dentro desse arcabouço de todas as unidades”, afirmou.
Segundo Nina, um dos desafios iniciais da gestão foi a falta de infraestrutura própria da Secretaria. “Com a envergadura que tem a Secretaria de Assistência Social no município de Natal, não ter prédios próprios foi um choque. Temos 45 equipamentos, só dois são próprios, os outros são alugados. São mais de quatro milhões por ano que vão por ralo com aluguéis”, revelou.
Com o objetivo de sanar o déficit da estrutura socioassistencial do município, o Natal Integra prevê a construção de 78 novos equipamentos de assistência, incluindo três cidades sociais, que centralizarão serviços como Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Conselhos Tutelares, centros de capacitação, cozinhas comunitárias e áreas de lazer. “A cidade social é um local onde vários equipamentos de assistência são colocados. A pessoa não precisa se deslocar de um lado para outro; ela vai ter todo o suporte no mesmo espaço”, explicou a secretária.
Por outro lado, o investimento não se limita à construção de estruturas físicas. O projeto inclui ações voltadas à tecnologia, integração entre os serviços, capacitação de equipes e acompanhamento de indicadores de segurança alimentar, empregabilidade e geração de renda. “Não estamos falando só de construir prédios, esse projeto vai muito além, estamos falando de tirar as pessoas do estado de vulnerabilidade para que possam ir para o mercado de trabalho e ter dignidade”, ressaltou.
A secretária também destacou a representatividade do Banco Mundial para o projeto Natal Integra. “O Banco Mundial é uma instituição extremamente rígida, correta, muito organizada e articulada, então, uma instituição como essa abrir portas para uma capital fazer todo um projeto para assistência social é inédito, porque sempre se busca recurso para outras atividades, nunca para os vulneráveis”, destacou.
O cronograma prevê cinco anos para a execução total do projeto, desde a liberação dos recursos até a conclusão das obras. “Tudo certinho, tudo dando certo, com a tramitação correta, cinco anos”, detalhou Nina Sousa.
Falta de repasses do Governo Federal
Apesar do valor elevado do projeto, Nina explicou que a maior parte da assistência social em Natal é financiada pelo município. “Noventa e oito por cento dos recursos que mantêm a assistência de Natal vem da fonte municipal. Investimos mais de doze milhões em alimentos e quase cinco milhões em unidades de longa permanência”, destacou.
Ela criticou ainda a falta de repasse do Governo Federal: “Este ano, o governo federal deixou de repassar 354 milhões para assistência social e segurança alimentar. Enquanto isso, as prefeituras estão tirando a população do mapa da fome”, afirmou.
Combate à fome e atenção à vulneráveis
Além do Natal Integra, a secretaria lançou recentemente o programa Alimenta Natal, voltado para o combate à fome, com recursos próprios e apoio de emendas parlamentares. O programa atua em mais de 20 comunidades, oferecendo mais de 4 mil refeições semanais. Paralelamente, cozinhas comunitárias distribuem refeições para cerca de 100 pessoas diariamente, com previsão de expansão para outros bairros da cidade.
“Aqui, não se trata apenas de dar o prato de comida. As pessoas são monitoradas: verificamos a saúde, a educação das crianças e as encaminhamos para capacitação e acesso ao mercado de trabalho”, explicou a secretária.
A atuação da secretaria também inclui atendimento a pessoas em situação de rua, com acolhimentos 24 horas, albergues e centros Pop. Nina ressalta o cuidado necessário no trabalho com essas populações: “É muito meticuloso. Você não pode agir de forma coercitiva, então precisa conscientizar e dialogar com outras instituições para atuar dentro da legalidade”.
Críticas oposicionistas
Ao ser questionada pelo jornalista Túlio Lemos sobre críticas da oposição ao alto valor do empréstimo para a secretaria gerida por ela, que também é esposa do prefeito Paulinho Freire, Nina foi firme na resposta: “Cada um se mede por sua régua. Quem disso usa, disso cuida. Já ouviu esses ditados? Pois é, essa é a resposta que eu dou”, disse, rebatendo comentários mencionados pelo jornalista.
A secretária também respondeu à questionamento sobre interferir diretamente na gestão. “Paulinho é o maestro. Ele é quem coordena a equipe, mas o nosso governo é do povo de Natal. E um ponto importante é que temos quase cinquenta por cento de mulheres participando da gestão”.
Planos políticos para 2026
Sobre as eleições de 2026, Nina revelou sua pré-candidatura à deputada federal, mas destacou que ainda está focada na secretaria. “Estou tão concentrada nessas coisas da gestão que não me mexi para a candidatura. Vou começar a ‘correr atrás do prejuízo’, a partir de março, quando sair da secretaria”, afirmou.