POLÍCIA ACREDITA EM FATALIDADE E LAUDO SÓ DEVE SAIR EM 10 DIAS
Criança passou 12 horas dentro do carro da família, estacionado no Alecrim

“Ninguém deixaria uma criança trancada dentro do carro. O que aconteceu foi uma fatalidade”, foi assim que o chefe de investigações da III Delegacia de Polícia em Natal, Pedro Sergio, definiu a morte de um menino de três anos esquecida pelo pai em um carro no bairro do Alecrim, na Zona Leste de Natal.
Ele disse que o pai da vítima foi levado à Central de Flagrantes da Polícia Civil e preso em flagrante por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Porém, foi liberado depois de pagar fiança de 1/3 do salário mínimo, que corresponde a R$404. O caso está sendo investigado pela III DPC, da qual ele faz parte: “O pai foi autuado por negligência, porque tinha responsabilidade de cuidar do bem-estar dele. Foi um deslize, uma falta de atenção dele”, disse. Para exemplificar indiciamento do pai do menino, o delegado comparou o caso com o de pais que perdem seus filhos por afogamento. “Ás vezes, nessas situações, você acaba dando um descuido e perde o filho”.
No momento em que foi encontrada, a testa da criança apresentava um ferimento e sangramento no nariz. Para o delegado, o movimento político que ocorreu em Natal pode ter prejudicado qualquer pedido de ajuda realizado pelo menino, considerando o movimento intenso que ocorria no Alecrim e em toda a capital: “Existe essa possibilidade, que sem dúvida, não pode ser descartada. O Alecrim, a Cidade da Esperança, a Zona Norte… a cidade inteira se agitou com o movimento”.
O caso chocou o delegado: “Eu já trabalhei em milhares de locais de crime, vi pessoas esfaqueadas, sem cabeça, e já trabalhei por muito tempo em acidente de veículos. Mas confesso que uma coisa dessa eu nunca vi antes. Eu não teria coragem de ver uma cena dessas”.
A equipe do Diário do RN foi até o local de trabalho do pai do menino, em um shopping no Alecrim, mas a loja estava fechada.
De acordo com o Instituto Técnico-Científico de Perícia, o corpo da criança passou pela necropsia, mas os resultados dos exames só serão divulgados em dez dias. A família recebeu o corpo na tarde de quinta-feira mas, até o fechamento desta edição, não havia informações sobre velório e sepultamento.
OS DETALHES DA TRAGÉDIA
Através dos boletins de ocorrência registrados, o chefe de investigações da III DP revelou detalhes acerca dos depoimentos do casal sobre o caso, cujas identidades não serão reveladas por questões de preservação.
Conforme relatado pelo pai da vítima à Polícia Civil, o filho foi esquecido no carro ainda pela manhã, quando estava sendo conduzido pelo pai para a escola. Geralmente, o homem e o menino conversavam durante todo o caminho, mas naquele dia, a criança adormeceu no banco de trás. Sobrecarregado com muitos afazeres do trabalho, o pai não deixou a criança na creche onde ele passava o dia e seguiu diretamente para o trabalho, onde havia um cliente à sua espera. O homem também relatou que, sem perceber que a criança ainda estava no banco de trás, estacionou o carro em uma rua próxima do seu local de trabalho e fechou o carro, que possui películas nas janelas.
A mãe da criança, por sua vez, relatou que, por volta das 17h30 daquele dia, usou o carro para buscar a criança na creche no fim da tarde. Ainda de acordo com o relato dado à Polícia Civil, a mulher viu que os vidros estavam embaçados por dentro do veículo e sentiu um odor estranho quando entrou, mas não percebeu a presença do filho porque ele estava posicionado na cadeirinha de transporte, que estava atrás do banco do motorista. Ao chegar na creche para buscá-lo, a mãe não o encontrou e após entrar novamente no veículo, percebeu o estado do filho. A mãe ainda tentou reanimá-lo via respiração boca a boca e socorrê-lo na Policlínica, mas conforme relato do médico que realizou o atendimento, a criança já apresentava sinais de óbito quando chegou ao local.