Amor de mãe define história de mudanças e adaptações da vida de Sylvia e Guilherme

Uma das essências que compõem o papel de qualquer mãe é estar disposta a transformações e até sacrifícios em prol do bem-estar de um filho. “O amor de mãe” é o que define a história de mudança e adaptações da psicóloga Sylvia Sá para cuidar do seu filho Guilherme, 10 anos, diagnosticado com a Síndrome de Williams, que atinge uma em cada 20 mil crianças no mundo.
Quando ele completou um ano de vida, Sylvia atuava como jornalista, e por isso, tinha uma rotina corrida como diretora de redação de O Jornal de Hoje. Nesse período, ela percebeu que a criança tinha dificuldades na locomoção e na fala, e isso gerou a necessidade de descobrir o que causava as limitações. Ela também acreditava que o filho tinha espectro autista, por mostrar sinais semelhantes. Porém, após um ano de buscas por um diagnóstico definitivo, Sylvia descobriu que o seu filho tinha a Síndrome de Williams, uma anomalia rara que causa dificuldades de coordenação e equilíbrio. Sylvia relatou que, após descobrir, passou por um período de surpresa e apreensão inicial; mas após alguns dias, encarou a situação com otimismo: “Um diagnóstico de uma síndrome não é um diagnóstico fácil. Precisei de um tempo para entender o que se passa, passei pelas fases do luto até saber qual era o melhor caminho para estimular Guilherme. Mais do que olhar para o que falta, a gente precisa olhar para o potencial da criança, para as suas habilidades”.
Para cuidar do filho, a então jornalista se aprofundou em uma área do conhecimento: a Psicologia. Ao entender o funcionamento da mente humana, Sylvia conseguia compreender e atender as necessidades de Guilherme: “A Psicologia já era algo que eu tinha muito interesse, que eu gostava de ler sobre. Mas ver o desenvolvimento de Guilherme me fez criar uma paixão por esse acolhimento e por essa sustentação tão importante que a psicologia proporciona, para qualquer pessoa e para alguém com um quadro di- ferente”.
Desde então, a Psicologia, que era apenas uma paixão, se transformou em sua nova profissão e uma ferramenta para ajudar outras famílias. Em 2016, Sylvia deixou o Jornalismo de lado e começou dois cursos, um de graduação e outro de especialização, dentro da área. Atualmente, ela trabalha como psicóloga, auxiliando pais que tem filhos com outras síndromes ou dificuldades no desenvolvimento: “Quanto mais informações a família tem, quanto maior for a rede de apoio, melhor será o desenvolvimento da criança. A gente só pode ajudar o outro quando a gente está bem. Já estou há quase oito anos estudando a psique humana”.
A síndrome de Guilherme gera a necessidade de cuidados que proporcionem a acessibilidade, mas através do apoio maternal e psicopedagógico, não existem limitações para o menino se relacionar com as outras crianças. Inteligente, comunicativo e de forte personalidade, Guilherme tem energia de sobra para viver como uma criança vive. Sylvia relatou que o filho pratica surfe com o pai, frequenta a escola normalmente e na última semana, foi a uma viagem escolar sem os pais, apenas com uma professora para dar apoio especial a ele. Três vezes por semana, ele participa de terapias ocupacionais, para estimular, ainda mais, a sua inclusão social e o seu grau de independência: “Eu sou a favor de uma escola inclusiva onde todos, do porteiro ao diretor, respeitem a diversidade. Existem aqueles que precisam de uma acessibilidade para ter acesso a mais conteúdos e outros que precisam de uma atenção maior, de um cuidado maior para que possam aprender”.
A psicóloga e mãe também reforçou a importância de valorizar os pequenos avanços das crianças, independente de possuírem uma síndrome ou não: “Às vezes a gente fala que a criança vai para a escola, mas não aprende nada. Mas se, do início do ano até a metade, a criança aprendeu algo, por menor que seja, então ela aprendeu. Só não podemos exigir que a evolução dela seja a mesma evolução de todos”.
Apesar da superação que Guilherme demonstra, o menino já passou por situações desconfortáveis em função da sua condição genética. Sylvia relatou que crianças já causaram situações desconfortáveis. Porém, a psicóloga acredita que essas atitudes não ocorrem por maldade, mas por falta de conhecimento: “Com relação às crianças, a gente realiza uma conversa em grupo se houver uma atitude de exclusão ou uma brincadeira excessiva. Às vezes, o olhar torto ou diferente não acontece por maldade, mas porque não conhece a síndrome”. Sylvia Sá é exemplo de transformação e de superação a partir do amor de mãe. Em seu consultório, ela não somente trata de pacientes, mas transmite amor e conhecimento para ajudar na superação de problemas.