Depois de concluir o ensino médio, Gabriel Celson da Silva, de 27 anos, conciliou anos de estudo trabalhando como Assistente de Serviços Gerais (ASG) em uma unidade escolar, tendo um único objetivo: entrar no curso de medicina. “Sempre foi meu sonho. Foi ainda no ensino fundamental 2, que tive essa certeza. Sempre gostei de falar que eu quero ser médico, quero ser neurocirurgião, que é uma das especializações que eu pretendo fazer”.
Foram 6 anos, 6 tentativas e agora o terceiro lugar no curso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a terceira melhor do país. “Eu recebi a notícia do resultado enquanto estava trabalhando em um supermercado, onde estava há um mês. Foi um momento muito emocionante, inesquecível, porque depois de seis anos consegui”.
A realização do sonho exigiu muita dedicação. Gabriel precisava compensar com seu esforço o que não teve acesso durante a formação. “Eu sempre estudei na rede de ensino público e tenho muito orgulho de ter estudado em escola pública. Porém, apesar de tudo, acabei saindo com um déficit de conteúdo muito grande do ensino médio. Foi quando eu comecei a estudar sozinho, online, em fevereiro de 2018. No começo, estudava entre 8 e 9 horas, todos os dias, de domingo a domingo”, relembrou Gabriel ao contar sua trajetória.
Enquanto se dividia entre os estudos e o trabalho como assistente de serviços gerais, na Escola Municipal Irmã Arcângela, no bairro de Igapó, zona norte de Natal, Gabriel também desempenhou um papel ativo na promoção do aprendizado ao oferecer aulas de reforço.
“Trabalhei de ASG na escola durante quatro anos e dois meses, saí em 2023, pois meu horário de trabalho já não estava mais dando para conciliar com os estudos e precisava me dedicar mais”.
Uma decisão que exigiu ainda mais força de vontade, perseverança, resiliência. “Eu sabia que não poderia ficar sem o emprego, mas não tinha muita escolha. O que eu não esperava era que minha mãe também fosse perder o emprego, não tínhamos bolsa família, nada. Foi uma situação muito pesada, difícil. Mas em nenhum momento pensei em desistir, tinha comigo que se estava passando por tudo isso é que boas coisas estavam por vir”.
Agora, a aprovação no curso de medicina da UFRGS também vem acompanhada de novos desafios: Essa é uma conquista incrível, mas também uma mudança significativa em minha vida.
O desafio agora é grande: me manter em outro estado para seguir minha vocação. Hoje, estou aqui pedindo a sua ajuda para tornar esse sonho uma realidade. Criei uma vakinha com o objetivo de me manter em Porto Alegre/RS durante o meu período do curso. Cada contribuição faz a diferença e me aproxima do meu objetivo.” Todas as informações estão disponíveis através do Instagram @gabriel_skyller.
EXEMPLO NO ENSINO PÚBLICO
Assim como Gabriel, outros alunos de escolas públicas também comemoram suas conquistas nos mais diversos cursos. Na Escola Estadual Myriam Coeli, localizada no bairro de Lagoa Azul, na zona norte, 13 alunos foram aprovados no Enem e conquistaram vagas através do Sisu, em 2024.
“Todo mundo é ciente das dificuldades burocráticas, das dificuldades financeiras que uma escola pública possui. Nós conseguimos, brilhantemente, eu acredito que eu possa usar esse adjetivo, fazer com que essa doação fosse bem retribuída com essas aprovações”, declara orgulhoso Wander Henrique, coordenador pedagógico da instituição.
Wander participou de todo o processo onde foi desenvolvido um projeto pioneiro na rede para preparar os alunos: “Propomos aos educadores aulões aos sábados, já que no calendário é um dia letivo. Otimizamos e quadruplicamos essas aulas. Montamos uma espécie de escala entre os professores da própria escola e convidamos professores externos para enriquecer as aulas. Além disso, tínhamos a preparação no cotidiano, dentro de sala de aula. Não era apenas a aula, nós montamos rodas de conversa, tivemos discussões sobre alguns temas que considerávamos importantes para a informação”.
O coordenador conta que o projeto era desafiador e pretendia quebrar pré-conceitos: “Por sermos uma escola de periferia, nós temos um público carente em relação a diversos fatores. Mas nós temos um público excelente no que se diz respeito a entrosamento, respeito, e isso é que faz o diferencial da nossa escola. Essa ideia de acolhimento que a gente tenta o tempo todo fazer com que o aluno se sinta pertencente à escola, que a escola seja realmente o segundo lar para esse aluno. Que cada um possa olhar e dizer: ‘eu estudei naquela escola, eu tenho orgulho de ter estudado naquela escola’”.
Ainda em clima de comemoração, Maria Eduarda, aprovada no curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), enfatizou a importância do trabalho realizado pela escola em sua preparação: “O fato de ser aprovada foi uma sensação maravilhosa.
Pois o apoio da escola foi crucial nessa jornada, ao disponibilizar os aulões nos sábados. Nos auxiliou bastante com conteúdo, dicas e principalmente na fé que iriamos conseguir. Não foi fácil, passamos por dificuldades, medos, ansiedade, porém no final de tudo valeu muito a pena. São essas conquistas que nos faz acreditar no ensino público. Sou muito grata à Escola Estadual Myriam Coeli, por ser fonte de conhecimento, inspiração e esperança de um amanhã melhor! ”