Nesta quinta-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu abertura a interpretações de racismo e preconceito ao falar com um apoiador de cabelos crespos. Durante a conversa com simpatizantes na saída do Palácio do Alvorada, o mandatário apontou para um homem que integrava o grupo e fez um comentário.
“Como é que está a criação de barata aí? Olha o criador de barata aqui”, debocha, aos risos, Bolsonaro. Um outro homem que estava perto, chama a atenção do presidente, dizendo que é uma afirmação que pode dar “em processo”.
O rapaz, por sua vez, defendeu o direito de Bolsonaro de fazer “brincadeiras” do tipo.
Assista trecho:
“Você não pode tomar [há um corte no áudio] que vai matar todos os seus piolhos”, continua Bolsonaro. No trecho do vídeo que é cortado pelo canal que gravou e divulgou o momento, palavra parece ser “ivermectina”. O medicamento serve para combater infestações por parasitas, como o piolho.
Em seguida, o homem vítima dos ataques pede que as pessoas relevem os ataques do chefe do Executivo, porque segundo ele, Bolsonaro só o faz porque tem “intimidade” com ele.
“Até porque o senhor tem intimidade, só pra frisar que o presidente tem essa intimidade para brincar, da mesma maneira que dá liberdade para o pessoal brincar. Dizer que eu não sou um negro vitimista e que tudo que eu conquistei foi fruto de trabalho e meritocracia. Nada me difere de uma pessoa branca, como eles quer separar”, justifica.
“Brincadeira” recorrente
Em maio, Bolsonaro fez o mesmo comentário, envolvendo baratas, acerca de um cabelo crespo. Em 2019, Bolsonaro foi condenado a pagar R$ 150 mil por danos morais coletivos devido a uma frase de cunho racista proferida no extinto programa CQC, da TV Bandeirantes, em março de 2011.
Na ocasião, após uma pergunta da cantora Preta Gil, que questionou qual seria a reação de Bolsonaro caso um de seus filhos de apaixonasse por uma mulher negra, o mandatário disparou: “Eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o seu”.
O chefe do Executivo também foi processado em outro caso de racismo. Em 2017, quando ainda era deputado federal, em palestra para cerca de 300 pessoas, Bolsonaro afirmou que, se fosse eleito, acabaria com todas as reservas de terra de indígenas e quilombolas (descendentes de escravos que vivem em quilombos).
“Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Se eu chegar lá (na Presidência), não vai ter dinheiro pra ONG. Esses vagabundos vão ter que trabalhar. No que depender de mim, todo mundo terá uma arma de fogo em casa, não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola”, disse.
Em 2019, Bolsonaro foi absolvido da acusação, e o Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Rio, encerrou o processo de dano moral.
*Informações do Metrópoles