Início » ARTIGO: POLÍTICA É DIÁLOGO

ARTIGO: POLÍTICA É DIÁLOGO

  • por
Compartilhe esse post

Carlos Emerenciano
Arquiteto e Advogado

No Samba da Bênção, o poetinha Vinícius de Moraes nos diz que “a vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida”.

Na política, não é diferente.

Recentemente, o encontro entre os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula causou enorme alvoroço.

Recordei então os versos de Vinícius e fui buscar alguns encontros e desencontros da nossa política.

Em 1936, o governo Vargas deportou Olga Benário, mulher de Luís Carlos Prestes, para a Alemanha nazista. Olga estava grávida e pôde ficar com a filha apenas durante o período de amamentação. Depois, a criança foi entregue à avó materna. Olga Benário foi executada em 1942.

Em 1950, ao candidatar-se à Presidência da República, Getúlio Vargas recebeu o apoio de Luís Carlos Prestes. Muitos imaginavam que aquele encontro político fosse impossível.

Carlos Lacerda foi um ferrenho opositor de Juscelino Kubitscheck e de João Goulart, da mesma forma que havia sido também de Getúlio. O atentado ao combatente e brilhante político carioca, que acabou vitimando o Major Vaz, desencadeou o suicídio de Vargas.

Lacerda foi um dos braços civis do golpe militar de 1964. Moveu mundos e fundos para derrubar João Goulart. Contudo, logo ficou descontente com os rumos do regime militar.

Em 1966, juntamente com os ex-presidentes JK e João Goulart, promoveu a Frente Ampla reivindicando eleições gerais e uma série de outras medidas. Mais um encontro improvável na política.

Em 1985, após a frustração do movimento das Diretas Já, quando a Emenda Dante de Oliveira não obteve votos suficientes para a sua aprovação, houve a eleição indireta para presidente que opôs Tancredo Neves do PMDB e Paulo Maluf do PDS. Foi essencial para a vitória de Tancredo a formação de uma dissidência dentro do PDS, liderada por nomes como José Sarney, Marco Maciel e Aureliano Chaves, que se denominou Frente Liberal. Esse apoio de antigos aliados da ditadura militar a Tancredo é tido como mais um desses encontros que muitos duvidavam acontecer.

Pois bem, há quem enxergue motivos inconciliáveis para que haja um encontro político entre FHC e Lula. Será que existem? Na dinâmica da política e certamente o leitor lembraria de muitos outros encontros e desencontros, esses motivos podem ser superados.

Por outro lado, é preciso ressaltar um aspecto importante: independentemente da possibilidade de futuras alianças, creio ser simbólico a conversa entre 2 homens que nos governaram por 16 anos (de 1995 a 2010) com seus erros e acertos. Mesmo sem convergir em muitos aspectos, a conversa mostra que é possível a convivência de contrários.

Política é diálogo. Precisamos arejar os ares políticos, ultimamente irrespiráveis.


Compartilhe esse post

2 comentários em “ARTIGO: POLÍTICA É DIÁLOGO”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *