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AS RAZÕES QUE LEVARAM AO CRESCENTE DESGASTE E REJEIÇÃO DE BOLSONARO

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Foto: Carolina Antunes/PR

As pesquisas recentes revelam dados preocupantes para o presidente Jair Messias Bolsonaro. Seu crescente desgaste está associado à rejeição e à aprovação popular ao impeachment. Duas novidades indesejáveis.

Avaliação de pesquisa não pode ser feita sob a força do amor ou do ódio. Ambos distorcem a realidade. O amor tende a cegar diante do negativo; o ódio entorpece diante do positivo.

Bolsonaro apostou no radicalismo como forma de manter seu exército civil apaixonado permanentemente, independente do que ele fale ou faça.

O aplauso físico ou virtual não precisa mais do comando cerebral. É automático. Um sensor no coração ativa apoio a qualquer coisa que esteja vinculado ao presidente. E não é robô virtual. É gente de carne e osso.

É justamente por isso que ele continua ovacionado por onde vai, aplaudido por quem acredita nele de forma integral, sem espaço para contestação ou dúvida. A paixão fala mais alto do que o som da razão.

A pergunta feita por quem apoia Bolsonaro é proporcional à incredulidade diante de sua reprovação governamental ou queda na aceitação pessoal: Como ele pode perder nas pesquisas se as ruas mostram outro cenário?

O problema é que quando Bolsonaro grita, ele reforça o apoio de seu exército civil, mas perde respaldo de quem está em silêncio.

Gente que discorda de seu comportamento diante das vacinas, das máscaras, das minorias…

Afinal, nem todo mundo aplaude os passeios sorridentes de motos, enquanto há centenas de funerais inconclusos, defuntos insepultos que pairam na atmosfera sofredora das famílias órfãs.

Não há registro de nenhum passeio ou visita a hospitais ou cemitérios. Jaz a solidariedade institucional.

É esse povo que ontem aplaudiu, torceu e amou Bolsonaro; mas hoje nutre outros sentimentos por aquele a quem foi delegado o comando da Nação.

A indiferença foi sendo substituída pela negação ao outrora mito; da negação à desaprovação, numa escala crescente negativa até chegar ao ódio, transformado em rejeição absoluta apontada nas pesquisas. Não há como brigar com os números que nascem dos fatos.

Justamente pelo fato de que Bolsonaro perdeu adeptos mais silenciosos, não menos apoiadores; e manteve aparentemente quase intacto seu exército barulhento e militante, é que há quem queira negar a realidade da mudança de humor da população em relação ao seu presidente.

Há fatores que explicam a migração do bom para o péssimo.

O estilo beligerante permanente, materializado numa metralhadora verbal pendular com munição inesgotável e alvos multiplamente variados, fundamentado em temas alçados imperativamente à importância nacional, sem levar em consideração o que realmente importa à vida do cidadão pacífico que quer vacina, paz e comida no prato. Esse estilo não rendeu bons frutos na árvore da popularidade.

Vacina, paz e comida, são temas bem diferentes da pauta gestada na caserna ou nos gélidos e bem alimentados gabinetes, onde a urna eletrônica é mais importante que a urna funerária; a negação da ditadura é posta como se tivesse o condão de apagar mortes e torturas por palavras outrora jamais proferidas; discussão estéril sobre eficiência de medicamento ou de vacina, desprezando a ciência, os cientistas e a lógica.

Temas trazidos ao octógono imaginário, onde não há vencedores, mas todos vencidos pelo desprezo à vida, à liberdade e à democracia. Funeral coletivo.

Bolsonaro não precisa jogar fora das quatro linhas para entender o conjunto de motivos que está afastando seus torcedores dos estádios eleitorais que o aplaudiam.

Ele precisa estar fora dos gramados medievais de lutas sangrentas para poder observar, da arquibancada, que esse jogo não interessa ao povo que integra uma Nação.

Pode até interessar a um grupo sádico que se alimenta do sofrimento alheio com sorriso construído na dor do semelhante.

Mas, certamente não encontra eco na maioria da população equidistante ao embate inoperante, prescrito pela inércia e abafado pela acústica da sensatez.

O presidente precisa marcar um encontro com o espelho do passado que o entronizou no comando do País. Ele vai encontrar alguém com temas e pautas mais pertinentes e que despertam mais interesse no eleitorado do que o atual espelho proporciona.

Somente com a migração da guerra permanente para a sensatez aparente, o presidente poderá conter a hemorragia eleitoral que o fará sangrar até a morte sem socorro médico que o salve.

É uma questão de escolha. Guerra ou bom senso. Ditadura ou democracia.


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