Neste domingo (20) é comemorado o Dia da Consciência Negra. A data, que surgiu como uma forma de refletir sobre o valor e contribuição da comunidade negra para o Brasil, tem o papel de jogar luz sobre a resistência do povo negro e dar maior visibilidade à busca por igualdade, por direitos, e contra o racismo. Para entender o que envolve o movimento negro da atualidade, é necessário fazer um resgate histórico e falar sobre as raízes que envolvem essa luta.
O Brasil instituiu o Dia da Consciência Negra em seu calendário oficial em 2011. Celebrada em 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, uma das personalidades mais conhecidas na luta pela libertação do povo contra o sistema escravista.
A data que começou a ser simbólica para o movimento negro desde os anos 70, onde se iniciou a discussão da criação de uma data para simbolizar a resistência ao racismo no país, e para se opor ao 13 de maio, em busca de fazer refletir sobre os efeitos do racismo, a importância do papel do povo negro na abolição e elevar a autoestima da população negra.
DOIS POEMAS, DUAS HOMENAGENS
Por Horácio Paiva
Nesses poemas, teço duas homenagens: à consciência de nossa negritude – nossa africanidade cultural e sanguínea – e à fraternidade universal, que deve prevalecer entre pessoas e povos, não apenas como exigência filosófica da moral humanista, mas como afirmação da diversidade do amplo patrimônio genético que nos compõe e nos une:
CANTO AO AVÔ AFRICANO
Procuro-te entre os demais
e não te encontro
talvez porque não aceitaste o convite
e o sonho do Brasil te foi imposto.
Vejo a tua sombra
e semente –
já que o teu corpo foi corrompido pela guerra
pelo açoite
e pela prisão.
Os demais estavam à mesa
e todos tinham nome e origem.
Tu, porém, sobreviveste
sem o pão e o vinho.
Trazem-me dos demais a linhagem secular
lenda ou fantasia
e vou encontrá-los nas igrejas
cartórios ou bibliotecas.
Quanto a ti
a memória se perde
num vago e nostálgico sentimento passado
que vai enfim morrer na praia
na selva ou no deserto.
Contra ti urdiram a morte histórica
relegando-te aos livros
de registros contábeis
às ignóbeis transações de compra e venda.
Mas ergue-te, avô, pois ainda vives
e tua vida é maior que a derrota nas armas.
Dá repouso à tua sombra.
Vê que te ofereço
– à luz do sol –
um banquete com as lavouras que plantaste
e a que não faltarão
os alimentos sagrados que o teu gênio criou
os teus ricos orixás
as raízes de teus cantos, ritmos e danças.
E verás que à mesa estará presente
um povo
uma nação
construída com o teu sangue.
Não me renegues, avô,
não é minha pele que te chama
mas a noite de tua ausência.
FRATERNIDADE
Que me ajude o meu sangue árabe
Que me ajude o meu sangue judaico
Que me ajude o meu sangue europeu
Que me ajude o meu sangue africano
Que me ajude o meu sangue asiático
e indígena
Que me ajudem todos os meus sangues
a construir a fraternidade universal
*Com informações de Ecoa e Correio Braziliense