O presidente da Assembleia Legislativa do RN, deputado Ezequiel Ferreira, acatou parecer jurídico da Casa e determinou a publicação da criação de uma CPI, Comissão Parlamentar de Inquérito, para investigar possíveis irregularidades do Governo Fátima Bezerra durante a Pandemia do Coronavírus.
Levando em consideração o aspecto legal, a atribuição institucional, Ezequiel não tinha outra opção a não ser acatar o parecer jurídico e dar seguimento à CPI, que preencheu os requisitos legais.
Mesmo fazendo parte da bancada do Governo na Assembleia, Ezequiel não poderia deixar de cumprir seu papel de presidente do Legislativo. Sua atitude foi correta e sensata, sem se submeter a inevitáveis pressões do Executivo.
Porém, abstraindo o papel de presidente da Assembleia sob o aspecto legal e avaliando seu papel de integrante da bancada do Governo, Ezequiel foi altamente ‘traíra’ com Fátima Bezerra.
Afinal, todo mundo sabe que o presidente da Assembleia tem sob seu comando, uma força de poder gigantesca, com alta capacidade de influência sobre boa parte dos deputados estaduais que assinaram a CPI por não haver nenhum pedido do presidente em contrário.
Ezequiel materializou a forma híbrida com que atua em relação ao Governo Fátima. Se alimenta da gestão, mas também alimenta quem é contra. Seu partido, o PSDB, é a maior prova disso. Supostamente, cada um faz o que quer, sem sintonia ou orientação do presidente da sigla.
O ‘supostamente’ é porque na verdade, isso ocorre justamente porque o presidente assim deseja e finge que há independência dos parlamentares e que reina a liberdade dentro da legenda. Tudo encenação. Se ele quiser, o grupo segue coeso e convergente. Mas ele não quer.
Com a implantação da CPI, aparentemente Ezequiel fragiliza o Governo. Gestão fragilizada, entra em cena o presidente da Assembleia para apagar o fogo que ele mesmo acendeu.
Nasce o teatro da CPI, com protagonismo justamente de quem não vai participar da Comissão, o presidente da Assembleia. É um importante jogador que sequer vai entrar em campo, mas poderá dar a vitória ao time que lhe interessa.
Mais uma vez, Ezequiel Ferreira atua como cobra de duas cabeças: Aparenta respeitar o Regimento Interno da Assembleia para implantar a CPI, acendendo o estopim que a oposição tanto sonha para emparedar e desgastar Fátima. E, se o Governo precisar, vai atuar como profissional para desarmar a bomba que ele mesmo acionou.
Entra em cena o deputado total flex. Pode ser abastecido pela oposição ou pelo Governo.