O deputado estadual Ezequiel Ferreira de Souza (PSDB) é o que podemos chamar de um político anfíbio, sobrevive em terra e na água; total flex, é governo e oposição de forma simultânea; agridoce, consegue ser salgado e doce ao mesmo tempo. Desconhece o significado da palavra coerência, pois nunca é cobrado a praticá-la e vai exercitando sua habilidade transformadora sem ser incomodado.
Ele diz que faz parte da bancada de apoio ao governo Fátima Bezerra na Assembleia, mas preside o PSDB, partido que tem em seus quadros pelo menos dois dos deputados mais ácidos contra o governo que diz defender.
Por conta de sua postura anfíbia, os deputados José Dias e Tomba Farias fazem pesada oposição ao governo Fátima, sob o olhar cúmplice e a boca fechada conivente do presidente do partido ao qual pertencem. É um silêncio cômodo.
A postura de Ezequiel é tão esquisita que o nome dele tem sido ventilado para ser candidato a governador pela oposição, quando o próprio assume ser governista. Como alguém que apoia uma gestão, indica afilhados políticos para cargos de confiança nesse mesmo governo e é lembrado para liderar a oposição? É possível servir a dois senhores?
Outro ponto interessante é a postura de Ezequiel diante da sucessão 2022. Apesar de ser ‘governista’, ele nunca admitiu publicamente, com todas as letras, que vota na reeleição de Fátima, mas já anunciou que seu candidato a senador é Rogério Marinho, que integra a gestão do presidente Bolsonaro, a quem seu partido, o PSDB, faz oposição.
O que estaria por trás do apoio de Ezequiel a Rogério Marinho? Especialistas em negociatas políticas não conseguiram ainda identificar o motivo ou os gigantes motivos que fizeram Ezequiel anunciar apoio ao nome de Rogério para uma candidatura que ainda sequer foi definida dentro de seu próprio grupo.
Afinal, diferente do prefeito de Natal, Álvaro Dias, que precisa das verbas federais que Rogério pode liberar para ajudar sua gestão na capital, Ezequiel não precisa de verba, pois comanda o Poder Legislativo do Estado e seu orçamento o transforma em um chefe de um micro governo, com a vantagem de que tem muito dinheiro, sem os compromissos que o governo imperiosamente tem.
Qual seria essa ‘gratidão’ de Ezequiel a Rogério e não a Fátima? É uma pergunta que nem os melhores universitários sabem responder.
Portanto, Ezequiel vive em permanente zona de conforto sem ser incomodado por nenhum grupo. Pelo contrário. É cortejado pela oposição e pelo governo. O camaleão do Seridó vive seu melhor momento.
Porém, sua situação é paradoxal. Caso deseje mudar de cargo e de grupo, terá que fazer a escolha certa. Afinal, o STF já decidiu que as assembleias não podem mais se transformar em mansão vitalícia de presidentes que se elegem e se reelegem indefinidamente.
Nesse caso, perder o comando da Assembleia e voltar à planície não é o melhor dos mundos para Ezequiel Ferreira. Ele não se acostuma mais ficar do mesmo tamanho de seus colegas.
Está chegando a hora da decisão. O habilidoso Ezequiel terá que escolher entre o doce ou o salgado, o álcool ou a gasolina, o mar ou a terra. Seu tempo de agridoce, total flex e anfíbio está chegando ao fim.
Para onde irá Ezequiel no pleito de 2022? Talvez nem ele saiba a resposta. Ainda.