
O aposentado da Marinha Mercante Waldir Ferraz, ex-servidor do gabinete do presidente Jair Bolsonaro e autointitulado o amigo “Zero Zero” do presidente, admitiu em entrevista à Revista Veja, que foram montados esquemas de rachadinha em três gabinetes do clã Bolsonaro. Ferraz, conhecido como Jacaré, no entanto, tentou culpar Ana Cristina Valle, ex-esposa do presidente, pelo esquema.
A amizade entre os dois começou há mais de três décadas a partir da insatisfação que ambos compartilhavam com os baixos salários pagos aos oficiais. Desde então, só se fortaleceu.
“Ela (Ana Cristina Valle) fez nos três gabinetes. Em Brasília, aqui no Flávio e no Carlos. Ela que fazia, mas quem é que assinava? Quem assinava era ele (Jair Bolsonaro). É batom na cueca.”
De acordo com Jacaré, a rachadinha entrou nos gabinetes da família do presidente ainda na década de 90, quando ele exercia mandato de deputado federal. Naquela época, Ana Cristina, então casada com um sargento, começou a se aproximar de Bolsonaro, quando participava de um movimento de mulheres de militares que reivindicava aumento no soldo dos maridos. Jacaré conta que ela foi se “infiltrando” e rapidamente ganhou a confiança de Bolsonaro, com quem iniciou um relacionamento amoroso. Logo, Ana Cristina recebeu carta branca para administrar o gabinete de Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Teria começado aí a história de décadas de rachadinha na família presidencial.

Segundo Jacaré, o esquema funcionava da seguinte maneira: responsável por uma cota de contratações, Ana Cristina recolhia documentos de algumas pessoas, abria contas bancárias em nome delas e embolsava grande parte de seus salários. Muitas vezes, o funcionário era fantasma e nem sequer tinha conhecimento de que estava oficialmente empregado no gabinete de Bolsonaro. Jacaré alega que quem já trabalhava com o ex-capitão antes da chegada de Ana Cristina, como ele, não participava do esquema.
“Ela é muito perigosa. É uma mulher que quer dinheiro a todo custo. Às vezes, ela vai ao cercadinho, frequenta o cercadinho. É uma forma de chantagem. A gente nem toca nesse assunto pra não deixar o cara de cabeça quente.”, disse ele à Veja.
O amigo do presidente tentou isentá-lo da responsabilidade: “Ele quando soube, ficou desesperado, era uma fria. O cara foi traído. Ela que começou tudo. Bolsonaro nunca esteve ligado em nada dessas coisas. O cara não tinha visão do que estava acontecendo por trás no gabinete. Às vezes o chefe de gabinete faz merda, e o próprio deputado não sabe. Mesmo o deputado vagabundo não sabe, só vem a saber depois”.
A Veja também ouviu Ana Cristina, que negou ser mentora das rachadinhas e destacou que quem dava as ordens no gabinete era Bolsonaro.
“Não sou mentora da rachadinha. Ele [Bolsonaro] me chamava de sargentona, mas quem mandava no gabinete era ele. Quem assina as nomeações e exonerações é o parlamentar. Não faz sentido assinar sem ler porque todos eles são bem instruídos”, declarou a ex-esposa do presidente.