Por Mauro Ferreira
♪ ANÁLISE – Um dos maiores nomes da música brasileira, artista de dimensão já atemporal, João Gilberto Prado Pereira de Oliveira (10 de junho de 1931 – 6 de julho de 2019) está eternizado pela bossa que criou e que, como o tempo, nunca envelhece ao passar de geração para geração.
Nesta quinta-feira, 10 de junho de 2021, o Bruxo de Juazeiro – assim caracterizado por um reverente Caetano Veloso na letra da música A bossa nova é foda (2012) – poderia estar festejando o 90º aniversário, se não tivesse partido há dois anos, recluso e silencioso, como viveu na maior parte destes 90 anos.
A melhor homenagem que poderia ser prestada hoje a João e aos seguidores do artista, o baiano mais universal da música do Brasil, seria a reedição oficial dos álbuns que constituem o tripé fundamental da obra do gênio. Nunca sequer editados em CD, por conta do litígio judicial entre o cantor e gravadora EMI Music (encampada em 2013 pela Universal Music), os álbuns Chega de saudade (1959), O amor, o sorriso e a flor (1960) e João Gilberto (1961) estão disponíveis somente de forma extraoficial.
Como essa homenagem ainda está por ser feita, coube ao Japão – país que reverencia João e a bossa nova mais do que o próprio Brasil – produzir um álbum, João Gilberto eterno, com gravações inéditas de músicas do repertório do cantor e violonista para celebrar a efeméride.
Programado para ser lançado em 16 de junho, com direito à edição em CD no Japão, o disco João Gilberto eterno foi orquestrado com produção musical repartida entre Mario Adnet (criador de vários arranjos) e Shigeki Miyata. Ao longo de 15 faixas, artistas do Brasil e do Japão se alternam na interpretação de músicas apresentadas ou redimensionadas na voz de João.https://a1f8139663b058c657bbf25f070f6d99.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Capa do álbum ‘João Gilberto eterno’ — Foto: Divulgação
No time brasileiro, Guinga e Mônica Salmaso caem juntos no samba Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958). Moreno Veloso canta Bim bom (João Gilberto, 1958), tema do curto cancioneiro autoral de João. Leila Pinheiro dá voz a Você e eu (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1961).
João Donato se une com Antonia Adnet para reviver Minha saudade (João Donato,1955, com letra de João Gilberto a partir de 1959). Joyce Moreno registra Estate (Bruno Martino e Bruno Brighetti, 1960), canção italiana que João vestiu de refinado bolero em gravação para o álbum Amoroso (1977). Rosa Passos cai no samba Doralice (Dorival Caymmi e Antonio Almeida, 1945).
Daniel Jobim, Dora Morelenbaum e Mario Adnet revivem a eterna Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962). O mesmo Mario Adnet se junta com a filha Antonia Adnet no samba Isaura (Herivelto Martins e Roberto Roberti, 1945), refazendo o dueto de João com Miúcha (1937 – 2018) apresentado pelo cantor há 48 anos no álbum João Gilberto (1973).
Do elenco japonês, vale mencionar a presença de Lisa Ono, cantora habituada a gravar discos com repertório brasileiro. Lisa canta a Valsa da despedida (Farewel waltz – Roberto Burns em versão em português de João de Barro e Alberto Ribeiro, 1941). Mesmo ausente da discografia de João Gilberto, a valsa foi cantada pelo artista em especial de 1982 exibido pela TV Bandeirantes.https://a1f8139663b058c657bbf25f070f6d99.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Além do álbum João Gilberto eterno, seguidores do artista nonagenário têm à disposição substanciais gravações inéditas do cantor, disponibilizadas pelo Instituto Moreira Salles.
Trata-se de saboroso aperitivo para esperar outubro, mês em que a editora Companhia das Letras promete pôr no mercado literário a biografia de João Gilberto escrita pelo musicólogo Zuza Homem de Mello (1933 – 2020). Em suma, João está vivo!
Fonte: G1.