Discussão acalorada na Comissão de Justiça da Assembleia do RN, numa terça-feira, 26 de outubro de 2021.
Com ouvidos sensíveis além da conta, o deputado estadual Galeno Torquato, que também é médico, pediu quase de forma imperativa, que sua colega Isolda Dantas baixasse o tom da voz quando lhe dirigisse a palavra.
Isolda, baixinha, gasguita e atrevida, não se intimidou com a determinação do coronel fora de época e disse que não passava de mais uma atitude machista do parlamentar do Oeste contra a mulher franzina de cabelo cacheado.
Poderia ter parado por aí a discussão. Ou, ter continuado com temas relevantes para o Estado, mesmo que divergentes, já que Isolda é do governo e Galeno é oposição.
Porém, quando Isolda disse que a atitude dele era machista, Galeno repudiou que a deputada não levasse para o debate, ‘questão de gênero’.
Foi aí que a pequenina Isolda foi buscar inspiração no desabafo de Zagalo, quando o Brasil derrotou a Bolívia e venceu a Copa América de 1997: “Você vai ter que me engolir!”, disse Isolda, usando metáfora para dizer que, apesar de não gostar dela ou muito menos do seu tom de voz, Galeno iria ter que engolir sua presença na Assembleia.
O problema é que Galeno usou a língua antes do cérebro processar o que realmente deveria dizer.
Ao ouvir Isolda dizer que ia ter que engolir, o deputado solta a pérola: “Não como nada estragado”, num misto de realidade com metáfora para dizer que não iria engolir Isolda de jeito nenhum.
Desrespeito em altíssimo grau, partindo de um parlamentar contra uma mulher. Na opinião de Galeno, Isolda é ‘estragada’, na analogia que fez com a comida.
A frase de Galeno é semelhante à proferida pelo então deputado Jair Bolsonaro, em 2014, contra sua colega Maria do Rosário: “Jamais iria estuprar você, porque não merece”.
Entre frases agressivas, ofensas, metáforas indevidas, o desrespeito às mulheres se consolida, amparado justamente por quem é representante legítimo de parte do eleitorado, incluindo mulheres.
Mais respeito, deputado!
O que se espera de Galeno Torquato agora, após seu ataque de ‘sincericídio’ (in) voluntário, é um humilde e gigante gesto de pedido de desculpas à Isolda, para evitar a indigestão de um processo no Conselho de Ética com repercussão nacional.
E que as discussões não sejam levadas para o lado pessoal, para ofensas ou manifestações absurdas de preconceitos explícitos.
À Isolda: Posso até achar sua voz estridente, discordar do que você diz na defesa ou no ataque, mas sou solidário a você enquanto mulher, agredida por ousar falar alto num mundo machista que finge respeito, mas materializa ofensas e desrespeito.
Incrível que um homem desses seja deputado, que seja sustentado pelo erário público, sem que guarde o menor preparo ou postura ética para o cargo.