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MULHERES LUTAM PELA CONQUISTA DE MAIS ESPAÇO E MENOS DESIGUALDADE NA CIÊNCIA

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CELINA REIS (ESQUERDA), NEUROLOGISTA INFANTIL E MESTRE EM NEUROENGENHARIA. FOTO: ASCOM ISD

Jaqueline Góes de Jesus, negra e nordestina, doutora em Patologia Humana e Experimental, integrou um time de pesquisadores que mapeou os primeiros genomas do novo coronavírus em circulação no país à época. O feito, que superou em muito a média mundial de 15 dias para esse tipo de mapeamento, lhe conferiu fama internacional, e Jaqueline chegou a ganhar a própria versão da boneca Barbie.

Ao mesmo tempo em que personifica o poder da mulher brasileira na ciência, Jaqueline também exemplifica as disparidades de oportunidades, projeção, salários e estereótipos vivenciados diariamente por mulheres e meninas que buscam a realização pessoal e profissional na produção científica.

Dia 11 de fevereiro foi celebrado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, data definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015 para trazer atenção internacional para o tema. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última Pesquisa Mulheres no Mercado de Trabalho, o rendimento médio de um profissional da ciência e intelectual do sexo masculino no Brasil, em 2018, era de R$ 5.890,00 contra R$ 3.819,00 da mesma classe de trabalhador do sexo feminino.

“Para fazer ciência no Brasil, a gente tem que se esforçar quatro vezes mais. Eu não tive referências científicas na minha infância. E jamais pensei que, fazendo graduação em biomedicina, poderia ser cientista. Isso é muito grave, porque não damos oportunidades para as pessoas serem aquilo que elas desejam de verdade. Com o tempo, percebi que represento outras questões que vão além da ciência. Eu sou mulher, nordestina, negra e ocupo uma posição de destaque que dificilmente vemos no Brasil”, disse.
Jaqueline Góes de Jesus em entrevista à rede BBC News Brasil em setembro de 2021.

Em Macaíba, no Rio Grande do Norte, o Instituto Santos Dumont (ISD) promove a inclusão e ampliação da participação desse público através dos projetos desenvolvidos em suas unidades, o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra (IIN-ELS) e o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita). Hoje, somente no Mestrado em Neuroengenharia, estão matriculadas 17 mulheres. Quase o mesmo número de homens: 18. Isso revela que as mulheres conquistam cada vez mais espaço em áreas que, até então, tinham presença predominantemente masculina.

“Nós vimos um aumento muito bom no número de mulheres dentro dos espaços acadêmicos ao longo dos últimos anos. Há, sem dúvida, um avanço. No entanto, precisamos pensar nas coisas que dificultam que as mulheres permaneçam nesse espaço até seus últimos degraus. Muitas vezes, temos que nos desdobrar entre maternidade, trabalhos domésticos e outras atividades diárias além da pesquisa”, relata Celina Reis, médica neurologista infantil e Neuroengenheira pelo ISD.

Conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), no cenário mundial, as mulheres são 28% do total de graduados em engenharia e 40% nas áreas de ciência da computação e informática. As pesquisadoras também tendem a ter carreiras mais curtas e menos bem pagas. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, sugere políticas que preencham as salas de aula com meninas cursando tecnologia, física, engenharia e matemática. Além disso, ele pede medidas direcionadas a oportunidades para as mulheres crescerem e liderarem em laboratórios, instituições de investigação e universidades.

Mesmo em áreas em que a presença de mulheres é predominante ou equivalente a dos homens, no entanto, como é o caso da Psicologia, há barreiras a serem enfrentadas em relação ao apagamento da produção científica feminina, como destaca a psicóloga e mestranda em Neuroengenharia, Sayonara Pereira.

“Se você entra em uma sala da Psicologia, você vê uma turma majoritariamente feminina muitas vezes. No entanto, quando você ouve falar da área da Psicologia, as referências que vêm à mente são em geral homens: Freud, Lacan… quando a realidade é que existem muitas pesquisadoras extremamente relevantes que são apagadas ou esquecidas”, relata.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, quer mais determinação pelo fim da discriminação e dos estereótipos sobre as mulheres na ciência e mais rigor esforços para expandir as oportunidades para aquelas que vivem em comunidades minoritárias, especialmente no campo da inteligência artificial. Estima-se que essa área particular absorva 22% do total de profissionais.

Para Guterres, existe uma conexão direta entre os baixos níveis de mulheres que trabalham em inteligência artificial e que chama “algoritmos absurdos de preconceito de gênero que tratam os homens como padrão e as mulheres como exceção”.

“Hoje, apenas um em cada três investigadores de ciência e engenharia no mundo é mulher. Barreiras estruturais e sociais impedem que mulheres e meninas entrem e avancem na ciência. A pandemia da Covid-19 aumentou ainda mais as desigualdades de gênero, desde o encerramento de escolas até o aumento da violência e uma maior carga de cuidados em casa. Esta desigualdade está a privar o nosso mundo de enormes talentos e de inovação que estão por explorar. Precisamos das perspectivas das mulheres para garantir que a ciência e a tecnologia funcionem para todos”, declara Antonio Guterres.

Com informações da Agência Saiba Mais


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