Por: BOSCO AFONSO
Entre os anos 2017 e 2018, o então deputado federal Jair Messias Bolsonaro já utilizava as redes sociais para demonstrar a sua aversão aos atos ilícitos, fossem eles praticados pelos políticos ou por quem quer que fosse, pedindo cadeia para todos. Para Bolsonaro, os atos de violência praticados a partir de roubos, de assaltos ou coisa parecida teriam que ser revidados com a mesma violência, e a partir daí defendia que a população tinha que se armar para se defender. Explicitando a prática da violência.
Nesse mesmo período, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus auxiliares e influenciadores José Dirceu e Antônio Palocci se encontravam presos, acusados e julgados por mais de um tribunal como responsáveis de desvios de recursos públicos desde o famoso Mensalão até o agora questionado Lava-Jato que salvou a Petrobras de continuar a ser saqueada e já levou dezenas de figurões da República às barras da justiça.
E foi se amparando nesse “escorregão” praticado pelo governo de esquerda, no caso o Partido dos Trabalhadores (PT), que Bolsonaro, militar de formação e com quase nenhum trabalho destacado na Câmara dos Deputados, tornou cada mais evidente, e ampliando sua ação nas redes sociais, se posicionou como um político de direita radical para todo o Brasil. O discurso de Bolsonaro era em defesa da honestidade no serviço público em todos os níveis, investir da segurança pública e contabilizar CPFs cancelados. Ele falava o que o brasileiro, naquele momento, na sua maioria, queria ouvir. E para chegar à presidência da República não precisou fazer programas de governo mirabolantes, pois o seu discurso estava apoiado nos deslizes praticados pelo Partido dos Trabalhadores, pela esquerda, pelo centro e pelo centro-esquerda.
Igualmente ao Partido dos Trabalhadores quando começou a pleitear a presidência da República que se mostrava como a instituição mais honesta do que todas, o mais íntegro de todos os partidos, Bolsonaro pregou a honestidade associada à sua formação militar e garantiu que em seu governo não iria se admitir qualquer ato ilícito com os recursos financeiros do povo. E o brasileiro admitiu. E apesar de na eleição de 2018, ainda no primeiro turno, o eleitorado tivesse a opção de nomes de centro-direita, centro e centro-esquerda levou a decisão para um 2º turno radicalizando com as opções de candidatos à direita e à esquerda. Venceu a direita.
Depois de sua posse, Bolsonaro radicalizava cada vez mais o seu discurso, desafiava a grande imprensa, se afastava de legisladores do Congresso Nacional e apoiava aqueles que lideravam movimentos contrários aos Poderes Judiciário e Legislativo como se ele pudesse sobreviver no isolamento de uma ilha, o Palácio do Planalto. Não demorou muito e os escândalos envolvendo familiares de Bolsonaro começaram a tomar espaços nos principais veículos da imprensa, enquanto “minavam” o terreno do bolsonarismo até chegar a pandemia do Covid-19. Era o que faltava à oposição de centro-direita, de centro, de centro-esquerda e de esquerda. Todos famintos para desmoralizar Bolsonaro.
De sua impulsividade em minimizar a gravidade da pandemia, então desconhecida até mesmo para o mais conceituado dos cientistas, Bolsonaro resolve receitar medicação como tratamento precoce e ao impor o seu estilo aos fabricantes de vacinas consegue retardar a imunização dos brasileiros e com isso, quando o Brasil já ultrapassava as 450 mil mortes, surge a CPI da Covid-19 no Senado Federal. Para uns, apenas para detectar a razão do retardamento da vacinação em massa. Para outros, apenas uma peça política para desgastar a imagem do presidente Jair Messias Bolsonaro. E parecia ser mesmo. Parte dos membros da CPI do Senado não tem qualquer credibilidade por conta de seu envolvimento com desvios de recursos financeiros públicos.
Como toda investigação de contas públicas que aponta para um determinado elemento e alcança coisas inimagináveis, eis que a CPI do Senado encontra indícios de corrupção na atual gestão e Bolsonaro diz que não sabia de nada o que estava ocorrendo no Ministério da Saúde, que não tem como controlar o que acontece nos Ministérios. Os sinais de corrupção são cada vez mais evidentes, mas Bolsonaro continua a dizer que não sabia de nada. Usa a mesma estratégia de Lula quando da constatação do Mensalão e de Lula e Dilma quando da corrupção na Petrobras e outras estatais menos importantes. Ninguém sabia de nada.
O mais interessante é que partidários de Lula, do PT e da esquerda se aglomeram e se abraçam com e sem máscaras para protestar contra Bolsonaro e até pedir um impeachment ainda sem consistência legal. Enquanto isso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder maior, agora beneficiado por decisão do Supremo tribunal Federal (STF) que lhe restabelece os seus direitos políticos, mas sabedor que ainda irá enfrentar as barras dos Tribunais por conta de confissões de seus asseclas por desvio de recursos e enriquecimento ilícito, tem passado procuração para os seus companheiros mais próximos se exporem diante de tudo o que está ocorrendo, talvez em temeridade com todo o seu passado já enxovalhado como o de tantos outros políticos em atividade. Lula, o PT e grande parte da esquerda querem se valer de deslizes na gestão Bolsonaro, mas também sabem que já não representam o ícone da lisura e da honestidade. Na luta pelo poder não existem santos.
O articulista fala de ciência própria?
Muito bom esse Artigo de Opinião. Parabéns, prezado Bosco Afonso. Demonstrou uma visão de equilíbrio dos últimos fatos políticos e opinou com muita inteligência e argumentos de autoridade.
Abraços,
Professor José Ribamar
Em, 04/07/2021
Natal/RN