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OS BLINDADOS DE BOLSONARO NA ESPLANADA

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Reprodução/ Twitter

A ameaça só faz sentido quando o cenário é desenhado de maneira perturbadora às eventuais vítimas. E ameaça não se repete. Caso ocorra, já não é mais ameaça, perdeu a força.

Inicialmente, o presidente Jair Messias Bolsonaro ameaçou a democracia com palavras, ao dizer textualmente que, se o voto impresso não fosse aprovado, não haveria eleições no Brasil. Ameaça feita sem efeito esperado.

Reações diversas implodiram a força do verbo e o presidente teve que mudar de tática. Mudou primeiro o discurso, amenizou o tom, mas elevou a dose de paixão sobre o tema, incendiando seus apoiadores como se fosse caso de vida ou morte.

Nesse ínterim, a morte real galopava com mais velocidade que a moto presidencial em seus desfiles alegres como se comemorasse o funeral coletivo de quase 600 mil mortes. Mas o assunto a predominar não era a vacina; ou a falta dela. Era a urna.

A eletrônica tomou o lugar da preocupação com as urnas funerárias. Afinal, morto não vota. E o presidente, como o próprio resumiu, não é coveiro.

Pois bem. Sem munição verbal a fazer efeito frente ao Parlamento, eis que surge uma ideia da caserna baseada num ditado popular surrado: Uma imagem vale mais que mil palavras.

Alguém de mente tão brilhante quanto os tanques verde oliva imaginou que um ‘desfile’ de blindados militares poderia dar uma demonstração de força da farda diante da força da democracia. Seria a arma contra a urna. O tanque contra o voto.

Porém, a mesma mente que imaginou emparedar o Congresso e amedrontar a todos, esqueceu de estabelecer o outro ponto do ditado da imagem a ser vista: A imagem precisa falar e fazer calar.

Não foi o que aconteceu. O fumacê dos velhos tanques arrancou mais gargalhadas do que medo. Virou ‘meme’ multiplicado em escala internacional. Vergonha alheia.

O ‘desfile’ em forma de micareta fora de época da caserna, não surtiu o efeito esperado. Muito pelo contrário.  

Após a desastrosa apresentação de nossa quase sucata blindada, os apoiadores do desfile-ameaça disseram que tudo não passou de uma apresentação normal para a entrega de um convite formal ao presidente. Marcha à ré em tanque de guerra.

O fato é que as reações foram bem maiores que as intenções oficiais.

Se era um teste, o presidente submeteu as forças armadas a um episódio ridículo que não convenceu pela forma; muito menos pelo conteúdo. Fracasso total.

Dia seguinte após o melancólico desfile de blindados fumacentos e a derrota do voto impresso na Câmara, espera-se que o presidente volte suas atenções a temas que realmente interessam ao povo brasileiro, como vacinas, emprego, educação, retomada da economia…

Para aqueles que acham bonito os arroubos autoritários do presidente e suas ameaças veladas à democracia, não esqueçam que a pior democracia ainda é melhor do que a suposta melhor ditadura. Aliás, se houvesse ditadura no Brasil, Bolsonaro talvez ainda estivesse em algum quartel batendo continência e com freio abs na língua, sem poder exercitar o que mais gosta de fazer: falar de tudo e de todos.

Um militar eleito presidente pelo voto direto em pleno exercício da democracia.

Que continue assim. Bolsonaro disputando voto democraticamente e respeitando o resultado. Mesmo que não seja do seu agrado. E que os tanques sejam usados para defender nossa soberania quando necessário; e não para amedrontar a democracia.  

Na verdade, alguém já disse por esses dias e aqui reforço: A Democracia brasileira é inegociável.

Mas respeito quem pensa diferente. Afinal, o respeito é a base de qualquer relação; o respeito ao contraditório é oxigênio da democracia. Só não esqueçam que o contraditório só existe na democracia.


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