Após sinais de trégua, os preços das carnes voltaram a subir para os consumidores brasileiros entre o final de 2021 e o começo de 2022, apontam dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15). Conforme o indicador de inflação, os produtos tiveram altas em dezembro e janeiro de 0,90% e 1,15%, respectivamente.
O IPCA-15 é calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) entre a segunda parte do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação. Para o índice de janeiro, por exemplo, os dados foram coletados entre 14 de dezembro de 2021 e 13 de janeiro de 2022.
Os dois últimos avanços das carnes vieram após duas quedas em outubro e novembro (-0,31% e -1,15%). Essas duas reduções haviam interrompido uma sequência de 16 meses de altas, verificadas entre junho de 2020 e setembro de 2021.
No IPCA-15, os preços das carnes refletem a variação de 18 cortes, a maior parte bovinos, além das carnes de porco e de carneiro.
Para analistas, as altas entre o final de 2021 e o começo de 2022 refletem uma combinação de fatores. Em parte, há efeitos sazonais, porque a demanda no mercado interno costuma ser aquecida com as festas de fim de ano.
Além disso, também há reflexos do fim do embargo das exportações de carne bovina brasileira para a China, anunciado em 15 de dezembro. A medida estava em vigor desde o início de setembro, após o registro de dois casos atípicos de vaca louca.
Foi justamente o embargo que, segundo analistas, havia feito os preços darem sinais de trégua para o consumidor brasileiro, já que a oferta de produtos ficou mais concentrada no mercado interno antes das festas de final de ano.
Com o fim da restrição, o cenário começa a mudar, e a demanda maior do país asiático pressiona os preços no Brasil.
No começo de 2022, o patamar da carne bovina deve continuar elevado para os brasileiros, projetam analistas.
Não estão descartadas novas pressões a partir da demanda chinesa pelos produtos. Em janeiro, as exportações de carne bovina do Brasil avançaram 31% no comparativo anual, com o impacto dos negócios para o país asiático.
Outra questão no radar de analistas é a seca na região Sul, que castigou culturas como milho, soja e pastagens. A escassez hídrica dificulta a alimentação do gado.
Por outro lado, o que pode frear os aumentos para o consumidor é o fato de grande parte da população estar com a renda menor, ponderam analistas.
No trimestre até novembro de 2021, período mais recente com dados disponíveis, o rendimento médio do trabalho voltou a recuar no Brasil, atingindo o menor nível desde 2012, segundo o IBGE.
O orçamento mais apertado prejudica o consumo das famílias e ameaça a demanda por itens diversos, incluindo proteína animal. Assim, na teoria, fica mais difícil o repasse para os preços finais, dizem analistas.
No período de 12 meses até janeiro, as carnes subiram 9,95% no Brasil, indica o IPCA-15. Em junho de 2021, o acumulado chegou a 35,76%. Ou seja, houve uma desaceleração nos preços, mas a inflação ainda segue perto de dois dígitos. Em termos gerais, o IPCA-15 acumulou alta de 10,20% até janeiro.
Com a escassez de chuva que atinge o Sul e a dificuldade para alimentar o gado, produtores da região podem optar por vender parte dos animais antes, na tentativa de evitar prejuízos maiores. Ao castigar lavouras de culturas como milho e soja, a estiagem no Sul também impacta os custos de produção de setores como o de frango. É que as plantações fornecem os insumos para as rações das aves.
Até janeiro, o grupo de aves e ovos acumulou inflação de 22,13%, segundo o IPCA-15. Em novembro de 2021, o acumulado alcançou 28,25%.
Com informações do FOLHAPRESS