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PRESIDENTE DA FECOMÉRCIO RN TRAÇA PERFIL DO PRÓXIMO PREFEITO DE NATAL

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Empresário Marcelo Queiroz – Foto: Reprodução

Empresário do ramo farmacêutico, desde 2007 Marcelo Queiroz comanda o sistema Fecomércio no RN, composto aqui no Estado pela própria Federação do Comércio de Bens Serviços e Turismo, além do Sesc e Senac. Em entrevista exclusiva para o jornalista Bosco Afonso, diretor do Diário do RN, o Presidente Marcelo Queiroz avaliou o desempenho econômico do Rio Grande do Norte e do Brasil, além de conversar sobre política, destacando o perfil que considera ideal para o próximo gestor da capital potiguar. Confira a entrevista na íntegra:

Bosco Afonso: No seu ponto de vista, qual o perfil ideal do próximo (a) Prefeito (a) de Natal?

Marcelo Queiroz: Entendemos que o perfil ideal do líder do executivo tem algumas características basilares, como: comprometimento com a construção de soluções eficazes para os desafios que enfrentamos e com a promoção do desenvolvimento sustentável de Natal. Isso inclui um plano com metas claras a longo prazo para a nossa Capital, em áreas como o desenvolvimento econômico, a melhoria da infraestrutura, a promoção da educação e da saúde de qualidade, bem como o estímulo à cultura e ao turismo, que são setores fundamentais para nossa economia. A capacidade de diálogo e parcerias é outra característica importante. Somente através da colaboração e da cooperação poderemos enfrentar os desafios complexos que nossa cidade enfrenta.

Bosco Afonso: Na sua visão, que pontos fundamentais deveriam constar no programa de governo do (a) próximo (a) Prefeito (a) de Natal?

Marcelo Queiroz: A Fecomércio está desenvolvendo um grande estudo com o objetivo de propor pontos importantes para o segmento do Comércio de Bens, Serviços e Turismo dentro do debate do pleito para a prefeitura de Natal no ano que vem. Temos ouvido, de forma estruturada, empresários de diversos segmentos e portes, a fim de sistematizar as demandas que são cruciais para o desenvolvimento da nossa cidade.

Bosco Afonso: A gestão estadual tem confessado enfrentar uma crise financeira que tem afetado vários setores. Na sua avaliação, a que se deve essa situação?

Marcelo Queiroz: O governo do estado tem apontado como solução o aumento dos impostos, como o recente anúncio de manter a alíquota do ICMS em 20%, ao invés de reduzi-la em 2024, como previsto na legislação aprovada no final do ano passado. Entendemos que este caminho não é o único para equilibrar as finanças. Por exemplo, é bem verdade que somos um estado pequeno, mas que possui um volume mensal de rendimento de cerca de R$ 730 milhões somente do Executivo Estadual. Não se trata aqui de discutir se o salário do servidor público é justo ou não. Mas, sim, de saber se o Estado tem condições de continuar bancando estes salários e estes benefícios. Segundo dados do Portal da Transparência, o custeio da folha de pagamento consome hoje mais de 60% de todas as receitas do Estado.

Bosco Afonso: O RN tem um potencial enorme para ser um estado desenvolvido, mas continua um dos mais atrasados na região Nordeste. Se o senhor estivesse na cadeira da governadora Fátima Bezerra o que faria para impulsionar o desenvolvimento do RN?

Marcelo Queiroz: Durante o pleito estadual, a Fecomércio lançou um documento chamado “RN em Foco” onde apresentamos aos candidatos os principais gargalos para os setores de Comércio, Serviços e Turismo. Nele, constam diversas propostas para a área de Gestão, incremento do Turismo e incentivo ao empreendedorismo. Ainda enfrentamos gargalos importantes como a segurança pública, onde o setor de Comércio é um dos mais vulneráveis à ação dos bandidos; incentivo a novos investimentos na área turística e ao uso do gás natural nesse setor, além de ações para o turismo serrano, religioso, histórico, cultural e de aventura. A Fecomércio tem tido uma postura com foco na contribuição para um ambiente de negócios favorável e com segurança jurídica.

Bosco Afonso: A governadora Fátima Bezerra pleiteia a manutenção da cobrança do percentual de 20% no ICMS para o próximo ano. A Federação do Comercio já soltou uma nota se posicionando contrário a essa proposta governamental que irá para apreciação da Assembleia Legislativa. O que esses 2% a mais dos 18% anteriores irá impactar no comércio?

Marcelo Queiroz: Todo aumento da carga tributária impacta diretamente no ciclo de consumo. A elevação da carga tributária leva a um consequente aumento nos preços de produtos e serviços o que, por sua vez, reduzirá o consumo da nossa população que já sofre, com altos índices de inadimplência e endividamento, acima das médias nacionais. O resultado disso é um impacto nos empregos gerados pelo segmento produtivo que não poderá sustentar o cenário desfavorável.

Bosco Afonso: Qual o balanço que o senhor faz do setor do comércio varejista nesses 9 primeiros meses do ano?

Marcelo Queiroz: Podemos dizer que é positivo, porém com espaço para crescer mais. Os dados oficiais de que dispomos (IBGE) só foram fechados até julho. Segundo eles, houve alta de 2,2% nas vendas, sobre julho de 2022. No acumulado do ano, a alta é de 1,8%. São todos dados melhores do que tínhamos em 2022. O acumulado do ano, por exemplo, é o dobro do que havia sido registrado até julho do ano passado. Extraoficialmente, considerando dados preliminares de algumas operadoras de cartão de crédito, temos a informação de que os meses de agosto e setembro também registraram dados melhores do que em 2022. Por isso, podemos afirmar que é bastante provável que terminemos o ano com um acréscimo de vendas acima daquele registrado em 2022 (+0,5%) e até mesmo maior do que o de 2019 (+0,6%). Porém não deveremos ter uma alta nos mesmos patamares de 2021 (+2,5%) até porque, naquele ano, a base de comparação era muito baixa, uma vez que 2020 foi o auge da pandemia. Nossa aposta é de um crescimento das vendas entre 1% e 1,3% para o ano no RN. Apesar de positivo, seria um crescimento pequeno e longe de alguns vizinhos nossos. O Ceará, por exemplo, tem um crescimento acumulado do seu varejo este ano na casa dos 7,5% e a Paraíba de 6,2%.

Bosco Afonso: O Turismo é um dos principais suportes da economia do RN. Como o senhor analisa o desempenho do setor neste ano?

Marcelo Queiroz: De uma maneira geral, temos patinado este ano ainda sem conseguir retomar o movimento de aceleração que vínhamos identificando antes da pandemia. As taxas de ocupação de nossos hotéis e pousadas, que em 2019 estavam acima dos 85% nos períodos de alta estação, este ano têm ficado próximo dos 60%. Não temos conseguido, segundo dados do Sírio – Sistema de Inteligência Turística do estado, voltar a atrair o turista nacional e nossa movimentação tem ficado muito dependendo do turismo regional e até mesmo local. Este tipo de turista gasta menos e fica menos tempo por aqui. Isso se reflete no volume de recursos movimentados e, por consequência, no impacto positivo da atividade no comércio e nos serviços em geral.

Bosco Afonso: Em nível nacional, o setor de serviços registrou alta de quase 5% no primeiro semestre deste ano. E aqui no RN, como se comportou o setor?

Marcelo Queiroz: O Setor de Serviços vem registrando um desempenho melhor que o do Comércio. Novamente, os dados oficiais de que dispomos englobam o período até julho. Foram 3,3% de crescimento no sétimo mês do ano, 7% de alta no acumulado do ano – praticamente o mesmo registrado em julho de 2022, quando foram +6,9%.

Já no acumulado em doze meses até julho, foram 5,2% este ano contra e 9,4% no ano passado). Nos Serviços, os dados de 2023 estão bem melhores do que no período pré-pandemia. Em 2019, o acumulado até julho mostrava incremento de apenas 0,4% e os doze meses encerrados em julho apontavam uma queda de 1,4%. A nossa estimativa é que fechemos o ano com alta entre 5% e 9% (em 2022 crescemos 5,1%). Mais uma vez, nosso estado tem um desempenho aquém daquele registrado por alguns de nossos vizinhos. Na Paraíba, em doze meses, o setor de Serviços acumula alta de 13,3%.

Bosco Afonso: Em Natal, especificamente, já houve o esvaziamento do bairro da Ribeira e o mesmo está acontecendo no Centro da Cidade. Em que a gestão municipal interferiu para essa crise e o que o setor público pode contribuir para revitalizar esses bairros, principalmente Cidade Alta?

Marcelo Queiroz: Atualmente, o que podemos perceber no Centro da Cidade é uma mudança no perfil dos empreendimentos passando do Comércio, para Serviços. Essa é uma realidade nacional que envolve questões como mudança no perfil dos consumidores e o desenvolvimento natural de novos centros comerciais nas cidades. A Fecomércio RN, junto com outras entidades, tem acompanhado esse movimento e apoiado com ações de capacitação, realizado pesquisas e participado de discussões. Fazemos parte, por exemplo, do Comitê Multidisciplinar criado pela Assembleia Legislativa com representantes comerciais da Cidade Alta e Ribeira para discutir soluções. Entendemos que as mudanças previstas do Plano Diretor podem contribuir, no médio e longo prazos, para mudar essa realidade, a partir da possibilidade de empreendimentos com usos mistos e aumento do potencial construtivo na região.

Bosco Afonso: A cidade vizinha de João Pessoa vem crescendo aceleradamente nos últimos anos, enquanto que Natal não tem acompanhado esse ritmo. Na sua avaliação, a que se deve essa estagnação desenvolvimentista da nossa Capital?

Marcelo Queiroz: A Paraíba anunciou, no início deste ano, um conjunto de medidas de incentivo fiscal, que envolvem reduções, isenções de impostos e de inovação. Só em equipamentos turísticos privados, há cerca de R$ 1,7 bilhão de investimentos confirmados, o que vai ampliar em mais de 10 mil o número de leitos e gerar mais de 9,5 mil empregos, segundo dados do governo paraibano. Há um plano de desenvolvimento territorial integrado, com a visão do médio e longo prazo, que percebemos que tem se refletido na geração de empregos e crescimento da economia.


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