“Ele faltou com a verdade. Há vários sinônimos de faltar com a verdade, para não ser muito agressivo”, disparou o senador Rogério Marinho (PL) ao falar sobre a denúncia feita pelo prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), de que ele teria ordenado o cancelamento de convênios de mais de R$ 40 milhões em recursos federais para o município, após vencer a eleição para o Senado. A acusação de estelionato eleitoral foi feita quando Álvaro falou sobre seu atual relacionamento com o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL).
“O prefeito faltou com a verdade e tem a responsabilidade de provar o que disse. Ele disse textualmente que eu mandei anular recursos ou empenhos que estavam consignados para Natal. Isso é uma inverdade. Na hora que há um empenho, há uma publicação no Diário Oficial da União, isso é público e, em seguida, se houvesse alguma anulação, teria que ser formalizada através de uma outra publicação. O que de fato aconteceu é que durante o mandato do prefeito Álvaro, o nosso ministério deu uma assistência que não tem precedentes em Natal”, justificou, em entrevista ao comunicador Bruno Giovanni, na 96 FM.
Rogério afirmou ainda que, pelo menos, três grandes obras estruturantes que Álvaro planeja concluir antes do fim de seu mandato – engorda da praia de Ponta Negra, a readequação da Felizardo Moura e o Complexo Turístico da Redinha – receberam recursos enquanto ele era ministro do Desenvolvimento Regional. Sobre a obra de engorda de Ponta Negra, Rogério afirmou que, em sua gestão no Ministério do, “não só colocamos, como aumentamos os recursos e salvamos o convênio”.
O senador disse que o prefeito usou um pretexto para se afastar dele e que deve responder aos natalenses e à opinião pública porque mudou de lado de forma “tão abrupta depois do insucesso eleitoral de outubro. Um prefeito que estava ao nosso lado nos palanques, dizendo que a administração do presidente Bolsonaro era a mais revolucionária e mais importante que Natal teve nos últimos anos. Eu lamento a postura do prefeito, mas o recado está entendido. Ele tomou uma posição diferente e vais seguir o caminho dele”.
“MANEIRA TORPE”
Rogério disse que Álvaro “rompeu conosco, publicamente, de maneira mais torpe possível”, que “soube” do afastamento entre eles pela imprensa potiguar. E que este aconteceu após a derrota eleitoral de Bolsonaro. “Houve um episódio bastante significativo e público: a derrota de Bolsonaro no dia 30 de outubro de 2022. A partir daquele momento, o prefeito mudou completamente. Se afastou, não deu mais notícias, só esteve comigo uma ou duas vezes. E não sou uma pessoa que fica cobrando esse tipo de posicionamento. Fui surpreendido com a declaração que ele deu”.
O senador falou ainda que Álvaro “está se sentindo mais à vontade para buscar um grupo político diferente, por conveniência ou circunstâncias. O que eu não aceito é o pretexto que ele utilizou. O motivo ele pode até ter. Imagino que ele acha que, para administrar a cidade de Natal, ele precisa mudar o posicionamento político dele para que não haja interrupção do fluxo de recursos para Natal. Pode ser que ele pense dessa forma. Então, que ele diga isso publicamente e não procure um pretexto”.
“INGRATO”
Rogério classificou ainda que, considera a mudança de comportamento político de Álvaro, por ter afirmado ter votado em Jair Bolsonaro por não ter outra opção, como “muito aviltante” e que, quando um político se posiciona como o prefeito, mudando “sem motivo”. “Na vida pública, aprendi que a característica mais importante de quem faz política é ser solidário, ser correto, ser coerente e ter gratidão, reconhecimento. E claramente o prefeito demonstra que essas características não fazem parte da maneira como ele se comporta. Recebi o recado e estou absolutamente tranquilo. Talvez eu tenha ajudado Natal mais que qualquer outro agente público nos últimos 30 anos”.
Álvaro afirmou que Rogério prejudicou Natal após ser eleito senador
No último dia 25 de julho, o prefeito Álvaro Dias afirmou ter ficado “muito decepcionado” com o senador Rogério Marinho que, depois de ter sido eleito com o seu apoio, pediu para cancelar mais de R$ 40 milhões em recursos federais que viriam para Natal. Recursos esses que já estariam assegurados e com pareceres favoráveis do Ministério do Desenvolvimento Regional e que seriam utilizados na reforma da orla urbana e outras obras planejadas.
“Não estou rompido com Rogério, mas houve um afastamento porque ele cancelou convênios antes de sair do Ministério. O sucessor dele, indicado por ele, cancelou convênios de Natal, que perdeu em torno de R$ 40 milhões em recursos assegurados, já encaminhados, analisados com pareceres favoráveis do Ministério. Não nasci hoje. Ele autorizou o cancelamento. Fiquei muito decepcionado. Nos prejudicou muito e fez com que nossa gestão não tivesse acesso a uma perspectiva gerada e anunciada”, afirmou, em entrevista ao Falei Podcast, da jornalista Thaisa Galvão.
Álvaro garantiu que, apesar de sua gestão e do município de Natal terem sido altamente prejudicados pela atitude do senador bolsonarista, não rompeu politicamente com Rogério. “Claro que tivemos uma reação natural de descontentamento e de revolta com essa atitude. Não nasci hoje, foram cancelados porque ele falou com o sucessor dele- indicado por ele – no Ministério e autorizou o cancelamento. Não estou rompido, mas não tenho o mesmo relacionamento que tinha”, explicou, na ocasião.
APOIO A BOLSONARO POR MEDO
“Apoiei o presidente da República porque eu não tinha outro caminho para seguir. Não sou bolsonarista. Nem sou de direita. Eu me considero um cara de centro”, afirmou Álvaro Dias, ao responder sobre seu apoio e trabalho na campanha eleitoral do ex-presidente Bolsonaro nas eleições gerais de 2022. E garantiu que só apoiou o candidato da extrema direita à Presidência da República para não incorrer em ingratidão diante dos recursos federais que o município recebeu durante a pandemia de Covid-19.
“Se eu trilhasse outro caminho, eu ia ser considerado ingrato, desleal, que não reconheceu a ajuda que o governo federal deu a Natal. Durante a pandemia, Bolsonaro liberou para Natal mais de R$ 20 milhões e, com esses recursos, a gente teve um bom desempenho. Esse enfrentamento da pandemia que tivemos apoio do governo federal foi graças à abertura que tivemos junto ao presidente. Eu convivo bem com a direita, convivo bem com a esquerda, mas eu nem posso ser carimbado como um ou outro”, explicou.