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SENADOR STYVENSON SOBRE DEPENDÊNCIA QUÍMICA: “QUEM PAGARÁ ESSA CONTA?”

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O senador Styvenson Valentim (Podemos/RN) começou a semana, nesta segunda-feira (06), comentando uma matéria intitulada: “‘Classe média brasileira deve assumir uso de drogas e questionar repressão’, afirma neurocientista americano”.

O parlamentar ilustrou seus questionamentos com vídeo realizado junto a um dependente químico. O senador declarou: “outra ‘classe’ nem precisa assumir porque muitos estão na dependência química. Quem pagará essa conta?”.

Ele explicou que o vídeo foi feito na Praça dos Eucaliptos, em Candelária, no mês passado. E indagou: “o que desejamos para próximas gerações?”

Confira na íntegra matéria do Globo, comentada pelo senador pelo RN:

‘Classe média brasileira deve assumir uso de drogas e questionar repressão’, afirma neurocientista americano

O neurocientista Carl Hart, na Universidade de Columbia Foto: SIMBARASHE CHA / Agência O Globo
O neurocientista Carl Hart, na Universidade de Columbia Foto: SIMBARASHE CHA / Agência O Globo

SÃO PAULO — O neurocientista Carl Hart dá uma interpretação inusitada à Declaração de Independência dos Estados Unidos, que afirma serem todos os homens dotados de direitos inalienáveis, como a vida, a liberdade e a busca pela felicidade. Para Hart, proibir o uso recreativo de drogas “viola o espírito e a promessa do documento”. No livro “Drogas para adultos”, ele questiona conclusões cientificas sobre dependência química e os malefícios das substâncias psicoativas e contesta a relação que habitualmente se faz entre uso de drogas e violência. Ele próprio já foi um dos pesquisadores que apontava o perigos das drogas, até que suas pesquisas pesquisas o obrigaram a mudar de ideia.

Hart participa da 15ª temporada do Fronteiras do Pensamento, que aborda o tema “Era da Reconexão”. Este ano, as conferências serão virtuais receberão também Jared Diamond, Steven Pinker, Anne Applebaum, Niall Ferguson, Margaret Atwood, Yuval Noah Harari, e Pavan Sukhdev. Em entrevista ao GLOBO, Hart defendeu que a classe média brasileira assuma seu uso recreativo de drogas e se oponha às políticas repressivas do governo.

No livro, você fala abertamente sobre as drogas que consome. As pessoas costumam perguntar com frequência o que você está usando e que cuidados toma?

Antes me fazia mais essa pergunta, mas como eu respondia que era uma pergunta idiota, pararam. O uso recreativo de drogas por adultos é uma atividade como outra qualquer, como se exercitar, fazer sexo ou assistir a uma apresentação de comédia stand-up. Uma pessoa pode usar drogas e amar sua família e ser responsável. Não são coisas excludentes. A mídia, os filmes e a política preferem colocar as drogas sempre no lado “mau”, mas na realidade não assim.

Você defende que o uso de drogas por adultos responsáveis: pessoas que não tenham problemas de saúde mental, não estejam passando por crise emocionais agudas, durmam o suficiente, alimentem-se bem e se exercitem regularmente. Se as condições são essas que você cita, estamos prontos para a legalização de todas as drogas?

Os adultos responsáveis são a maioria da população. Se não fossem, a sociedade não iria funcionar! Ser um adulto responsável não é uma coisa estática, é dinâmica. Você pode ser mais responsável em uma fase da vida e menos em outra. É claro que agora há muita gente passando por crises emocionados graves devido à pandemia e precisam de ajuda.

Você quer inspirar “desobediência civil em uma massa da classe privilegiada” para que mostre a injustiça das leis antidrogas. Como essa rebelião de privilegiados pode beneficiar os pobres, que são os que mais sofrem com a guerra as drogas?

Em todas as crises, seja a pandemia ou o aumento da repressão antidrogas, são os pobres quem sofre mais. A abordagem que eu defendo vai dar algum alívio a essas pessoas, porque elas deixarão de ser presas e de viver sob repressão policial. Devemos tratar todas as drogas como tratamos o álcool, garantindo que as pessoas tenham acesso a informações corretas para tomar as melhores decisões.

As substâncias devem ser regulamentadas de modo que, quando você comprar cocaína, saiba o que está consumindo. Isso diminui o risco de as pessoas terem problemas por não saberem o que estão usando. Determinar a quantidade de droga que constitui uma dose também aumentaria a segurança dos usuários. Os impostos advindos das droga pode ser usado para gerar emprego e treinar policiais para que eles não sejam adversários da população.

Você já defende um outra relação com as drogas há quase duas décadas. A recepção do público mudou ao longo desse tempo?

Não. Sempre houve pessoas que têm dificuldade de entender o que eu digo, seja há 15, 20 anos, ou hoje. Também sempre tive fãs fervorosos. Eu nunca digo que as drogas são boas ou más, mas que elas têm potencial para efeitos positivos e negativos. Algumas pessoas não respondem bem a isso, mas eu me apoio na ciência em tudo o que digo. Hoje há um grande entusiasmo pelo uso dos psicodélicos para tratar doenças mentais, o que é interessante.

Recentemente, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, chamou-o de “viciado” e afirmou que o senhor, por ser negro, é usado pela esquerda para promover a pauta antidrogas.

Não vou responder a alguém que acredita que o racismo não existe. Seria como discutir com uma criança ou com alguém que não acredita na gravidade. Sou velho demais para discussões infantis. Se ele quisesse falar sobre o racismo e política antidrogas no Brasil e nos Estados Unidos, aí sim, poderíamos conversar.

O senhor viveu alguns meses no Rio. Que diferenças e semelhanças enxerga entre as políticas antidrogas do Brasil e dos EUA?

São parecidas, exceto que o Brasil a repressão aos pobres e aos negros é muito mais brutal. É uma carnificina. O governo não enfrenta os cartéis e usa as políticas antidrogas para reprimir os pobres. O desemprego e a violência sempre foram problemas no Brasil, muito antes da explosão do tráfico, mas os políticos dizem que são consequência das drogas e a classe média branca acredita. Os políticos propõem aumentar o efetivo policial e algumas parcelas da população ficam felizes. A classe média brasileira cheira cocaína e tudo bem, eles são adultos e responsáveis. O problema é assumir isso e não questionar a política antidrogas que pune os pobres. Precisamos de pessoas corajosas que se manifestem e digam que tamanha repressão é errada.

Como foi a sua experiência no Rio?

Morei no Rio no segundo semestre de 2019. Escrevi o nono capítulo do livro, sobre cocaína, no Rio. Fui embora antes do início da pandemia. Foi bem deprimente. A polícia brasileira mata muito. E depois a Covid-19 e a péssima gestão da pandemia. É triste que o Brasil, um país com tantos recursos e uma liderança tão irresponsável.

Como o racismo e guerra as drogas se retroalimentam?

A guerra as drogas é uma desculpa para reprimir os pobres. No caso brasileiro, os mais pobres são os negros, mas não é assim em todo lugar. Na Irlanda do Norte, por exemplo, os próprios brancos são reprimidos. A maioria da população não sabe nada sobre drogas e acredita nos exageros ditos pelas autoridades. Não sabem que cidadãos responsáveis também usam drogas. Tudo o que elas conhecem são histórias terríveis sobre pessoas viciadas que começam a roubar e matar para comprar droga. Como são manipuladas, acreditam que temos que nos livrar das drogas por meio da repressão policial.

Você afirma que a ciência tem sido usada para espalhar mitos sobre os malefícios das drogas. Como assim?

De fato, há quem use a ciência para manipular. Geralmente, esses cientistas mostram imagens do cérebro de alguém que não usa drogas em que algumas partes aparecem acessas. Depois, mostram o cérebro de alguém que usa drogas e em que as mesmas partes estão menos acessas. Com base nisso, dizem: “o uso de drogas leva à perda de células cerebrais!” Mas não mostram os dados que apoiam essa conclusão. Temos que exigir esses dados. Os malefícios do uso recreativo de drogas são exagerados. Não há evidências suficientes para afirmar que a dependência é uma doença do cérebro. Mas, para dizer isso, cientistas ignoram evidências e focam apenas nas imagens de cérebros acessos.

*Com informações do Globo.


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