“Se era para deixar pela metade, era melhor que não tivesse feito nada. Tivesse deixado como estava antes, para começar e deixar desse jeito”. A declaração é um desabafo do empresário Christian Santana, proprietário da Escada do Rock, situada na Rua João Pessoa, na Cidade Alta de Natal. Assim como ele, os lojistas da região estão sofrendo com a atual situação da área e esperam, ansiosos, a conclusão da promessa de requalificações e via ‘instagramável’ pela Prefeitura Municipal, que desde maio interditou o local para as obras e serviços.
Os lojistas da Cidade Alta relatam que o cenário econômico e financeiro já foi melhor e que hoje, fazem do comércio na localidade quase um ato de resistência, ao permanecerem com as lojas em funcionamento. Além dos inúmeros imóveis comerciais fechados e diversas placas de “Aluga-se” ou “Vende-se”, o movimento de consumidores caiu bastante devido a fatores como a própria interdição do fluxo de veículos e pedestres e a crescente insegurança pública local, com relatos diários de assaltos e roubos, o que contribui cada vez mais para esse declive.
O Diário do RN conversou com lojistas da Cidade Alta e todos concordaram que o fluxo de pessoas vem diminuindo cada vez mais e, com o fechamento de grandes lojas de redes, a exemplo da C&A e Marisa, a insegurança com relação ao comércio no Centro da Cidade Alta ficou ainda maior.
A situação é agravada pela interdição de parte da via, o que obriga aos pedestres a escolher em qual lado das ruas precisam transitar, ou seja, só andam do lado direito ou do esquerdo, o que delimita até mesmo o interesse dos clientes em pesquisar preços e lojas, tendo em vista que, muitas vezes, o primeiro contato se dá por meio da visão e proximidade.
“Prejudicou muito em questão do fluxo de pessoas. Ficou essa ‘buraqueira’, muita gente deixou de passar aqui, ver os produtos, entrar nas lojas, ficou catastrófico. Algumas pessoas não trafegam mais por aqui, só os funcionários, as grandes lojas que tinham, como a Marisa e a C&A, fecharam. Isso compromete muito o comércio”, desabafou o comerciário Luiz Carlos Silva, que trabalha em uma loja de variedades na região.
A interdição da Rua João Pessoa teve início em maio passado, tendo o tráfego liberado apenas para pedestre, que mesmo assim, precisam se deslocar em meio a restos de asfaltos e paralelepípedos, o que oferece constantemente o risco de um acidente como uma queda. “Tudo quebrado, ninguém sabe quando vão fazer algo aí… Ninguém sabe de nada, o movimento já estava ruim, mas, pelo menos, tiraram os ‘tapumes’. Mesmo assim, fica essa coisa horrível aí na frente”, relatou Christian Santana.
Consultada pela reportagem do Diário do RN nesta quinta-feira (24), a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) informou que a primeira etapa do projeto, entre a avenida Rio Branco e rua Princesa Isabel e que compreende a escavação das valas para implantação da tubulação que substituirá a fiação aérea por subterrânea, já foi concluída. No entanto, o recapeamento asfáltico ainda não.
Comércios ainda tentam se manter e recorrem
a promoções para tentar atrair consumidores
Na luta pela sobrevivência, muitas lojas da Cidade Alta têm feito promoções e liquidações para tentar atrair a atenção e a visita dos consumidores. Outras, permanecem com atendentes nas portas chamando os clientes e tentando sempre se destacar em meio ao cenário atribulado. Nestas horas, um bom atendimento, simpatia e bom humor são armas usadas pelos comerciantes e comerciários para se destacarem.
Na loja de beleza Stylosa, os atendentes seguem carregando bom humor e esperança de que dias melhores virão, mas, segundo a atendente da loja Andressa Micarla, em termos de porcentagem de vendas, é difícil calcular quais impactos o comércio vem sentindo. “Antes tinha mais movimentação de pessoas, dentro e fora das lojas, depois dessa obra muita gente deixou de vir, falam também da dificuldade do estacionamento, é bem difícil para o comércio”, ressalta. Para a autônoma Sandra Menezes, além de ter que escolher um lado para circular, o prazer que os clientes têm ao entrar e sair das lojas de uma forma livre também está comprometido. Ela relembrou os bons momentos de compras na região e ressaltou o sentimento de tristeza com a situação atual do comércio na Cidade Alta, o Centro de Natal.
“Sempre comprei de tudo no Centro e acredito que aqui tinha essa coisa de ir em loja em loja, entrar, comparar, ver. Acho que essa é a parte boa do ‘comprar’, mas atualmente virou mais uma barreira, a gente tem que saber logo o que quer comprar e ir direto ao ponto. Sinto uma tristeza muito grande quando vejo o Centro assim, antes era literalmente o ‘centro de tudo’, do comércio, das lojas boas, mas até isso mudou também”, desabafou.
SEMSUR SE PRONUNCIA
Procurada pela reportagem do Diário do RN, a Semsur informou que as obras de requalificação do Centro de Natal estão sendo feitas por etapas e está sendo cumprido o cronograma estabelecido. E que primeiro, está sendo realizada a parte civil para, na sequência, ser feita a recomposição asfáltica.
“Após a finalização da inserção das tubulações, no trecho que compreende a Rua Felipe Camarão e a Avenida Deodoro da Fonseca, a Prefeitura fará a recomposição da malha asfáltica de toda a área que passou por intervenção”.
A Semsur ressaltou ainda que o trecho entre a Rua Felipe Camarão e a Avenida Deodoro começou em julho e em breve será concluído: “Tendo a parte civil alcançado os 93% de conclusão. As equipes estão trabalhando até de madrugada fazendo intervenções inclusive nas calçadas para não atrapalhar o comércio nem o passeio público”.