Mesmo depois da fala do presidente Jair Bolsonaro na semana passada, dizendo que estava 99% fechado para se filiar ao PL, aliados mais próximos e dirigentes da legenda e do PP mantiveram dúvidas sobre sua ida para a sigla de Valdemar da Costa Neto.
A novela partidária tornou pública uma característica conhecida e temida por auxiliares do mandatário: seu comportamento errático.
A desconfiança não é à toa. Em Dubai, neste domingo (14), Bolsonaro colocou em dúvida sua entrada no PL, disse que ainda falta afinar alguns pontos ligados aos palanques estaduais, e a filiação marcada para dia 22 acabou sendo adiada.
Aliados de Valdemar ainda dizem acreditam que o clã Bolsonaro possa migrar para a legenda, mas temem que mude de ideia. Pode pesar, entre outras coisas, o fato de que nem todos os diretórios podem apoiar a reeleição do mandatário.
Bolsonaro já esteve apalavrado com mais de um partido e mudou de ideia. Nas últimas semanas, o vaivém foi com dois aliados do centrão, que dão apoio para seu governo, PP e PL.
Três dias antes de Bolsonaro dizer que estava 99% certo para ir ao PL, Ciro Nogueira (PI), que se afastou da presidência do PP e do cargo de senador quando assumiu a Casa Civil, já telefonava para dirigentes partidários dizendo acreditar que o mandatário iria para o partido de Valdemar.
Ainda que Bolsonaro tivesse indicado assim ao seu ministro, Ciro ainda evitava cravar a tendência pelo receio de que o presidente voltasse atrás.
Entretanto, o chefe do Executivo já esteve mais próximo de fechar com o PP também. Menos de dez dias antes da reunião de quarta-feira (10) que selou sua ida para o PL, Bolsonaro havia tido um importante encontro com dirigentes do PP, que já davam como certa sua ida para o partido.
Na véspera da reunião, que contou com a presença de Ciro, do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o filho do presidente tuitou que conversava com os dois partidos.
O recado, que foi em agradecimento ao convite público de Valdemar para filiação do clã, chegou mal no PL. Isso porque o dirigente do PL havia soltado um vídeo com o convite para o presidente e apoiadores.
Uma gravação dessa em meio a negociações partidárias é incomum, ainda que Valdemar tenha adotado esse novo estilo de comunicação com vídeos. O gesto foi visto por auxiliares palacianos como uma ofensiva do PL.
Segundo pessoas próximas de Valdemar, o vídeo não foi sem propósito: Bolsonaro havia enviado uma mensagem, no dia anterior, dizendo ao dirigente que iria para o partido.
O presidente do PL, então, resolveu fazer um gesto que facilitasse o anúncio para o presidente da República.
A confusão não veio só para quem acompanha o noticiário, mas para experientes políticos do centrão, revelando como o presidente oscila em suas decisões.
Naquele momento, houve congressistas que brincaram que era capaz de o presidente preterir tanto PL quanto PP e acabar indo para a legenda de Roberto Jefferson, o PTB.
Um aliado próximo do presidente chegou a dizer que nem mesmo seus filhos sabiam o que ele iria fazer. Flávio, quando interpelado a respeito de decisões do pai, já disse que se tratam de CPFs diferentes.
Uma máxima em Brasília é que ninguém sabe o que passa na cabeça do presidente e que a palavra final é dele. É neste momento que os auxiliares mais próximos dizem: tem de confiar, ainda que não entenda ou mesmo discorde de Bolsonaro.
É comum, até mesmo em decisões do dia a dia do Planalto, Bolsonaro ter um posicionamento com auxiliares e, horas depois, ao ouvir conselhos de outro grupo do governo, mudar de ideia.
O vaivém é especialmente presente nas disputas que envolvem as equipes política e econômica. Auxiliares dizem acreditar que o comportamento do presidente decorre mais de sua personalidade impulsiva do que de uma indecisão.
No dia 19, Bolsonaro completa dois anos sem legenda, desde que deixou o PSL, partido pelo qual foi eleito.
A tendência errática na predileção partidária tem longo histórico com Bolsonaro: ele já foi de cinco partidos e, em 2018, optou pelo PSL aos 45 minutos do segundo tempo.
Desde que o presidente rompeu com a legenda pela qual foi eleito, Flávio iniciou uma via crucis atrás de uma sigla que pudesse abrigar clã e apoiadores.
O senador chegou a se filiar, no ano passado, ao Republicanos, partido também aliado do Planalto. Carlos Bolsonaro foi reeleito para Câmara Municipal do Rio de Janeiro pela legenda.
Flávio se desfiliou, abriu negociações com o PRTB, mas elas não foram adiante. Depois, com Patriota e até mesmo PTB. Está hoje no Patriota, mas de mudança para o PL, caso o casamento com o clã Bolsonaro siga adiante.
Em 2018, Bolsonaro também namorou —sua metáfora favorita— o Patriota. À época, a legenda se chamava PEN (Partido Ecológico Nacional) e mudou de nome e estatuto para abrigar o clã, o que não ocorreu.
O VAIVÉM PARTIDÁRIO DE BOLSONARO
PDC (1989 – 1993)*
PPR (1993 – 1995)*
PPB (1995 – 2003)*
PTB (2003 – 2005)
PFL, atual DEM (2005)
PP, antigo PPB (2005 – 2016)
PSC (2016 – 2018)
PSL (2018 – 2019)
Por Marianna Holanda, Julia Chaib e Ricardo Della Colletta/Folhapress