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VERGONHA É BARREIRA PARA ACABAR COM O ANALFABETISMO ENTRE ADULTOS

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Perfil mais comum entre os que não sabem ler e escrever é o de pessoas que precisaram abandonar os estudos para assumir postos de trabalho – Foto: Anderson Régis

De acordo com o IBGE, o RN tem a menor taxa de analfabetismo do Nordeste. No estado, cerca de 298 mil pessoas com 15 anos ou mais são analfabetas, o que corresponde a 10,5% da população desta faixa etária. Os dados correspondem a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), feita no segundo trimestre de 2022 e revela que a faixa etária com o maior número de potiguares analfabetos é acima de 60 anos: são 153 mil idosos que não sabem ler e escrever, o que representa 51% dos analfabetos no RN.

Em entrevista ao Diário do RN, a doutora em educação, Cláudia Santa Rosa, afirma que embora a taxa de analfabetismo venha decrescendo a cada edição e na última tenha posicionado o RN com o menor percentual de pessoas analfabetas na região, este ainda é um cenário muito ruim para o RN. “10,5% da população potiguar analfabeta é muito acima da média nacional de 5,6%. As taxas nos nove estados do Nordeste vão de 10,5% a 14,8%, o que representa um massacre histórico que impõe desigualdades sociais severas a um povo dependente, à margem da cidadania plena”.

Para Cláudia Santa Rosa, é indispensável se pensar em políticas afirmativas para atender esta demanda, que, na ausência, resulta na exclusão educacional. “Com o aumento da expectativa de vida dos brasileiros, o que é maravilhoso, o estado vai seguir por pelo menos mais uns 20 anos distante de zerar a taxa de analfabetismo. Considero que a política mais importante seja cuidar para os netos e bisnetos dessa geração não deixarem as escolas analfabetas ou semianalfabetos. Pensemos: se há 49% de analfabetos entre 15 e 59 anos, precisamos, urgentemente, quebrar o ciclo de gerações de famílias não-alfabetizadas”.

A professora ressalta que dentre os inúmeros motivos de abandono escolar, além das condições financeiras, há uma série de fatores que por falta de políticas públicas possam comprometer essa aprendizagem. “Se pensarmos que a criança em situação normal até 7 ou 8 anos teria que ser alfabetizada, podemos pensar que as escolas também produzem analfabetismo pela falta de política que abarque esse compromisso de bem preparar o professor para alfabetizar. Há redes de ensino muito frágeis que gerenciam mal a educação pública e isso se revela em fracasso escolar.

Atualmente, a pessoa de 15 a 35 anos, analfabeta, quase que obrigatoriamente passou pela escola e não aprendeu o básico. Isso é vergonhoso!”.
Cláudia Santa Rosa ainda pontua que muitas dessas pessoas têm vergonha de seu analfabetismo e pela insegurança, acabam por não retomar os estudos.

“Sentem vergonha e desencanto porque, salvo exceções, encontram espaços de alfabetização improvisados, sem regularidade de funcionamento, alguns até com pessoas sem orientação para alfabetizar adultos. Depois de trabalhar o dia todo, estar diante de uma alfabetizadora com um trabalho desconectado do mundo do trabalho, precisa ter uma cota alta de resiliência e um propósito. A maioria desiste”.

Esse é mais um cenário onde, na ausência de políticas públicas efetivas e em larga escala, ações de ongs e entidades privadas ganham relevância para a transformação de realidades. Jeanne Maciel é pedagoga e coordenadora de um programa de alfabetização e letramento para jovens e adultos. Ratificando a análise da também educadora Cláudia Santa Rosa, Jeane fala da importância do acolhimento diferenciado: “São pessoas que realmente têm uma renda mínima, de um salário mínimo, trabalham justamente nessas áreas de cuidadores, de motorista, são donas de casa… e vêm com essa autoestima realmente baixa, se acham incapazes, então a gente tem esse momento de acolhida para que se sintam valorizados”.

Segundo ela, há um perfil comum entre os analfabetos: geralmente são aquelas pessoas que trabalham o dia todo como diaristas, como cuidadoras, donas de casa e procuram um projeto para melhorar, para transformar suas vidas. “Tem homens também, mas a maioria é mulheres, na faixa etária de seus 30 até 70 anos. E a procura pelo projeto é justamente por não poder ter conduzido seus estudos no tempo regular, em virtude da busca pelo mercado de trabalho, e tiveram que abandonar seus estudos, em virtude das responsabilidades”.

Programa de Alfabetização e Letramento para Jovens e Adultos tem inscrições abertas em Natal

Há 6 anos, o Instituto Yduqs – responsável por ações sociais em diversas unidades de ensino superior – realiza, em parceria com a universidade Estácio, o Programa de Alfabetização e Letramento de Jovens e Adultos.

Em 2024, a ampliação do programa contempla uma nova etapa educacional em que os alfabetizandos poderão fortalecer os conhecimentos adquiridos com a oportunidade de exercitar a leitura, interpretação de texto e escrita. O programa é gratuito e inclui todo o material didático necessário, somando mais de 1.300 alfabetizados entre 20 e 70 anos e contando com mais de 70 integrantes entre coordenadores, professores e alunos dos cursos de licenciaturas da instituição.
As inscrições podem ser realizadas até a próxima sexta-feira, dia 05 de fevereiro, por meio do link: institutoyduqs.com.br/alfabetizacao.


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