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ANGÚSTIA E REVOLTA MARCAM ROTINA DE PACIENTES NOS CORREDORES DO WALFREDO

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Caos no maior hospital público de urgência e emergência do Estado é relatado com sofrimento por acompanhantes

Foto: Anderson Régis

Foi com essa frase que Washington, acompanhante da mãe, uma idosa de 80 anos, definiu a situação dos pacientes espalhados pelos corredores do Hospital Walfredo Gurgel, na Zona Sul de Natal. Testemunha das aflições enfrentadas pelas pessoas em função da superlotação na unidade, Washington afirma que havia cerca de 25 pacientes aguardando por um leito na segunda (12) e relata que chegou com a sua mãe na terça-feira da semana passada ao hospital.

A idosa, que ele desejou não identificar por motivos de preservação, é de Parnamirim e já teve as duas pernas amputadas sofre com problemas renais e faz hemodiálise. De acordo com Washington, ela precisou de atendimento urgente nas primeiras horas da terça, quando teve um quadro de insuficiência renal e apresentou inchaços pelo corpo. A idosa precisou ficar nos corredores por 4 dias, quando finalmente foi colocada em um quarto no sábado (10).

Washington ainda deu detalhes da situação caótica, onde pessoas dos mais variados problemas, desde problemas ortopédicos até cirurgias delicadas, aguardam em macas e no chão: “Aqui tá muito desorganizado. Não está havendo a separação de pessoas segundo os problemas de saúde delas. A situação daqui é uma vergonha”.

Também segundo relatos, pacientes e familiares que estão no primeiro andar do hospital só possuem um banheiro sujo e com encanamento exposto. Entre as filas de pacientes e familiares que lotam os corredores do Walfredo, o descaso e o abandono também atingem Marcos Francisco, irmão do professor de Matemática João Dias da Silva, que vieram de Currais Novos e chegaram à unidade na quarta (7). Segundo o relato do professor, Marcos possui um quadro de esquizofrenia e sofreu uma queda durante um surto. O homem, de 45 anos, sofreu uma luxação e fratura no braço: “Ele se descontrolou, caiu e quebrou o ombro. Ele tá esperando atendimento desde a quarta-feira e até agora nada, infelizmente. Já era para isso ter sido providenciado, mas ele ainda está ali”, disse ele.

João Dias também relatou as dificuldades que tem enfrentado no hospital. De acordo com ele, não há nenhuma previsão para a cirurgia de seu irmão e o contato entre os médicos e eles é distante: “A gente tem pouco contato com eles. A gente fica ali no leito e eles vão, chegam e fazem algumas perguntas, mas não tem contato. Até mesmo a ortopedista não passou nada pra gente, orientando como é o caso dele e como vai ser o procedimento. Até agora, o meu irmão está lá só tomando dipirona o dia todo desde que chegou”.

Após dias sem obter a resposta de médicos, João precisou procurar o setor de cirurgias para obter um retorno sobre a situação do irmão. De acordo com ele, o hospital comunicou que não possui médicos capacitados para fazer a cirurgia necessária, que é delicada e rara.
O professor também reforçou a calamidade que tomou conta do Walfredo Gurgel: “Aqui está lotado. Tem muita gente ocupando os espaços que não deveria. Infelizmente, a gente tem uma situação muito precária nesse hospital”.

Além da falta de estrutura, não há assistência em coisas básicas. Segundo João, ele e outras pessoas não receberam talheres para almoçar no primeiro dia em que ele e o irmão chegaram à unidade: “No primeiro dia que eu cheguei aqui eu recebi um almoço, mas cadê a colher? Teve gente que pegou papel da quentinha e usou de colher. Isso é uma vergonha”.

A superlotação do Hospital Walfredo Gurgel voltou a chamar atenção desde a última semana, quando a unidade chegou a um pico de 80 pacientes nos corredores, aguardando por um quarto e condições mais dignas. Procurada pelo Diário do RN, a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) se pronunciou a respeito do caso: “A Sesap e a direção da unidade seguem trabalhando para diminuir os problemas. A superlotação foi diminuída em mais de 50%, de acordo com os dados desta manhã (12). Em parceria com o Detran e a PM, continuam sendo feitas barreiras na Região Metropolitana com o objetivo de evitar os acidentes, que seguem sendo um dos principais fatores para a sobrecarga no hospital”.


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