Início » DE JORNALISTA COMBATIVO A SER HUMANO QUE AJUDA AOS NECESSITADOS

DE JORNALISTA COMBATIVO A SER HUMANO QUE AJUDA AOS NECESSITADOS

Compartilhe esse post

O jornalista, conhecido por sua trajetória como colunista e repórter combativo, Roberto Guedes realiza, há quase 30 anos, ações de solidariedade que iniciaram quando ele ainda ocupava a bancada de um telejornal na TV Tropical. Assim, a cada ponte de ajuda, novas conexões foram estabelecidas e, consequentemente, foi sendo criada a oportunidade de auxiliar, cada vez mais, outras pessoas em situação de vulnerabilidade social. Atualmente, o jornalista lidera o projeto intitulado: “Ronda Com Jesus Contra a Fome”, que entrega alimentos e outras doações em 18 pontos fixos na Grande Natal.

Confira a entrevista na íntegra:

  1. Como surgiu a ideia do projeto?

Comecei a fazer doações na rua em 1992, ou um pouco depois, entregando preservativos masculinos a profissionais do “trottoir”. Isto ocorreu logo depois que a AIDS virou questão de saúde pública também no Rio Grande do Norte.

Fui motivado por uma declaração que o então responsável pelo combate à AIDS no âmbito do governo potiguar, médico Jair Figueiredo, prestou num telejornal que eu ancorava na TV Tropical, de que o poder público dispunha de camisinhas, mas não tinha a capilaridade necessária para repassá-las aos profissionais do sexo.

Em pleno programa me ofereci para ser voluntário. Como se houvéssemos combinado, ele me entregou na hora uma caixa de preservativos e desde então passei a ir regularmente às regiões em que mulheres de programa e travestis se apresentavam a seus potenciais clientes.

Alguns anos depois, passei, paralelamente, a interagir com o Pronto-socorro Espiritual Madre Teresa de Calcutá e outros grupos que serviam sopa a conterrâneos em situação de rua. Um dia, na entrega de camisinhas, um travesti informou que me havia visto num grupo, entregando alimentos, e pediu que também levasse daquela sopa aos profissionais do sexo, porque ocorriam noites em que não faturavam nada, nem o dinheiro do transporte para a volta para casa, e muito menos para jantarem.

O pleito funcionou como um bom repto. Juntei as duas coisas. Sem prejuízo da ação em grupos, passei a diariamente entregar, sozinho, sopa aos profissionais do sexo. Com o advento da pandemia do Covid19, ampliei e intensifiquei esta ação individual, servindo paralelamente aos grupos caritativos mais como doador do que membro das equipes de distribuição.

  1. Quando foram realizadas as primeiras ações?

R. A princípio, toda aquisição de alimentos era bancada somente por mim, que não preparo nada, pois não sei nem botar água para ferver. A intensificação do trabalho e seu batismo como “Ronda Com Jesus Contra a Fome” sensibilizaram pessoas que passaram a me ajudar de várias maneiras: algumas doando recursos, outras doando seu trabalho e outras doando de ambas as maneiras.

Recebi apoio de muita gente boa que sofria no isolamento social, imposto pela pandemia, por não poderem chegar aos mais necessitados.

Estas pessoas passaram a ensejar a oferta e a me mobilizar como seu mensageiro, e isto me ajudou muito a ampliar a ação da “Ronda Com Jesus Contra a Fome”. Hoje, somos, de longe, o maior doador de alimentos, água, vestimentas, calçados e lençóis, assim como de medicamentos e outros bens, a moradores de rua, segundo consta em todo o Rio Grande do Norte.

E, garantidamente, somos, em todo o Brasil, a única equipe a fazer esta entrega toda noite, de domingo a domingo, sem prejuízo, também, de entregas matutinas e vespertinas e de mais onerosas doações esporádicas, como as de cadeiras de rodas.

  1. Onde o senhor costuma entregar as refeições solidárias?

R: Toda noite, eu entrego em vários locais. Faço doações em dezoito pontos fixos da margem direita do estuário do rio Potengi. O trabalho começa na avenida Ayrton Senna, em Nova Parnamirim, e se espalha pelos bairros natalenses de Capim Macio, Lagoa Nova, Lagoa Seca, Tirol, Petrópolis, Ribeira, Rocas, Cidade Alta, Viaduto do Baldo, Alecrim, Quintas, Bom Pastor, Nazaré, Cidade da Esperança, Dix-Sept Rosado e Felipe Camarão.

Também sirvo em locais que se destacam nas respectivas regiões, como o Mercado Público da Avenida Quatro e a Centrais de Abastecimento (Ceasa), onde pernoitam muitos necessitados.

E atendo beneficiários avulsos, de flanelinhas a equipes de caminhões de coleta de lixo, assim como aos ciclistas que entregam alimentos a domicílio, frentistas de postos automotivos e vigias. Entreguei muito a guarnição de radiopatrulha, mas, nos últimos tempos, já as encontro satisfeitas por jantares que o empregador lhes patrocina. Também entreguei no forno do lixo, em Nova Cidade, mas precisei me afastar de lá em benefício de outras áreas. Ao sair do forno, tecnicamente batizado como “Estação de Transbordo” entre Natal e o aterro sanitário de Massaranduba, na zona rural do município de Ceará Mirim, adotei, porém, o cuidado de procurar motivar outras pessoas generosas a darem continuidade à ação no local.

  1. Com que frequência atua o projeto?
    R: Como disse antes, saio para entregar alimentos a conterrâneos em situação de rua na Grande Natal toda noite, de domingo a domingo. Muita gente boa faz isso e bem mais e melhor do que eu, uma vez por semana. Outras pessoas o fazem a cada quinzena, já outras saem a cada mês e outras fazem o mesmo trabalho sem prazos regulares. São grupos de muitas pessoas. Eu sou o único encarnado a entregar tudo durante as saídas da “Ronda Com Jesus Contra a Fome”. Toda noite, saímos à rua somente Deus e eu.
  2. Como funciona o recebimento das doações?

R. Doações de coisas, como ingredientes para a produção dos alimentos e na condição de refeições já processadas, eu vou receber onde os doadores indicam, salvo dois ou três produtores que entregam em minha casa, em Nova Parnamirim. Para manter o fluxo, deixo minhas caixas térmicas nos locais de produção e, na hora marcada, vou buscá-las cheias de comida pronta e então cuido do repasse aos assistidos.

Muitas vezes aproveito a jornada noturna para, na medida em que os “coolers” vão se esvaziando, através da entrega do alimento aos beneficiados, espalhar caixas térmicas vazias nas residências de casais que preparam refeições para a noite imediatamente seguinte. Este vai e vem de “coolers” resulta num malabarismo que só Deus sabe promover por intermédio de alguém tão limitado assim.

  1. Quantas pessoas auxiliam na iniciativa?

R. O número é enorme e nem me arrisco a precisá-lo. Esse quantitativo abrange até crianças e adultos que mobilizo entre beneficiários para armar mesas, espargir álcool de setenta graus sobre as mãos de todos os assistidos, entregar-lhes colheres, servir-lhes água, distribuir roupas e doar de outras formas honestas e úteis um pouco de seu tempo a seus companheiros de infortúnio. Esta mobilização tem gerado muitos frutos. Assistidos incentivados pela ” Ronda Com Jesus Contra a Fome” estão desenvolvendo, ainda com nosso apoio, iniciativas próprias de ajuda a irmãos carentes. Um deles, por exemplo, serve café a outros necessitados toda manhã de domingo.

Ao mesmo tempo, em que leva os assistidos a assistirem ao próximo, a “Ronda Com Jesus Contra a Fome” conta com muitas outras pessoas generosas. Algumas, nos preparam alimentos, com ou sem ingredientes fornecidos por nós, e outras doam o que podem à “Ronda Com Jesus Contra a Fome”, com iniciativas que me levam às lágrimas. Há poucas semanas um lixeiro nos doou seiscentos reais.

A despeito desse apoio, não tem sido fácil manter e expandir este trabalho, porque todas as despesas da “Ronda Com Jesus Contra a Fome” têm subido estratosfericamente. Só a fornecedores fixos de cuscuz e de sanduíches, pago, todo dia, 210 reais. Só na viagem de distribuição dos alimentos, sem contar as que faço, à luz do dia, para reuni-los, percorro, das 18 horas a depois de meia-noite, mais de setenta quilômetros, como medi há algumas semanas.

Muitas vezes o fato de não ter este dinheiro me dá medo. Mas, graças a Deus, que tudo comanda, nossa perseverança tem animado muita gente boa a se tornar doadora constante, o que reduz proporcionalmente o que ainda preciso desembolsar. Doações nos têm chegado através do PIX 84 999821698, e outros grupos caritativos nos ajudam como podem. Graças a este apoio a gente reforça internamente a determinação de prosseguir.

É Deus no comando e a gente servindo.


Compartilhe esse post

4 comentários em “DE JORNALISTA COMBATIVO A SER HUMANO QUE AJUDA AOS NECESSITADOS”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *