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O DIA DAS MÃES DE MULHERES NA LINHA DE FRENTE

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Pelo segundo ano consecutivo, o dia das mães é comemorado em meio à crise sanitária causada pela Covid-19. A data, este ano, não será diferente para as mães que atuam na linha de frente no combate ao coronavírus. A dedicação diária com os filhos se mistura à devoção no ofício de salvar vidas de pacientes graves com a infecção pelo coronavírus.

A enfermeira Ana Quitéria Azevedo é uma destas mulheres que precisam deixar os filhos em casa para salvar vidas diariamente. Todos os dias, ela se despede do pequeno Alan Azevedo, e sai de Jardim Planalto, bairro de Parnamirim, para atuar na UTI do Hospital Central Coronel Pedro Germano, conhecido como Hospital da Polícia Militar (HPM), e na UTI do Hospital Municipal de Natal (HMN).

Ana Quitéria com o filho Alan Azevedo
A enfermeira Ana Quitéria com o filho Alan Azevedo – Foto: Cedida/Arquivo Pessoal

Na linha de frente desde o início da pandemia, Ana conta como é desgastante a dupla jornada: criar o próprio filho e salvar os filhos de outras mães. “Tem um desgaste físico e emocional muito grande. Às vezes a gente passa um dia cuidando de um paciente, quando voltamos no plantão seguinte ele não está mais lá. A gente tem que ter muito contato com os pacientes, levantando eles, virando de lado, manipulando de diversas formas”, disse Ana Quitéria.

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Por precisar manter contato direto com pacientes infectados, a rotina em casa também é cheia de cuidados para evitar a contaminação do filho.

“No começo meu esposo e meu filho dormiam separados de mim. Eu dormia de máscara e em outro quarto”.

Ana conta que o dia das mães de 2020 ela passou em um plantão, o que deve acontecer neste ano novamente. Porém ela tenta uma mudança na escala para conseguir aproveitar o dia com o filho, o que seria muito importante. “Se eu conseguir passar esse dia com o meu filho será muita coisa pra mim”.

Outra mãe que deixa a filha em casa para cuidar da recuperação de outros é a Cláudia Roberta Ferreira, fonoaudióloga, que mora em Ponta Negra, e atua na UTI da Maternidade Divino Amor, em Parnamirim, cidade da Grande Natal, que dispõe de 10 leitos críticos pacientes acometidos com Covid-19.

Fonoaudióloga Cláudia Roberta com as filhas Paola e Giulia
Fonoaudióloga Cláudia Roberta com as filhas Paola e Giulia – Foto: Cedida/Arquivo Pessoal

Aos 49 anos de idade, Cláudia Ferreira está na saúde há 12, e já tinha duas filhas quando começou a carreira na área, Paola Ferreira e Giulia Ferreira, de 32 e 16 anos, respectivamente. Hoje, apenas a caçula mora com ela, e tem que dividir a mãe com os pacientes que precisam dos serviços da profissional que atua com amor para ver os filhos de outras mães voltarem para casa com saúde.

Perto de terminar o ensino médio, Giulia tem que ficar sozinha em casa quando a mãe precisa estar no plantão, e isso preocupa Cláudia, que vê os momentos de solidão da filha na hora de estudar, e lamenta não poder estar perto para fazer companhia e auxiliá-la.

“O processo de educação, principalmente no início, foi muito complicado. Agora eu estou com um pouco mais de tempo, mas antes eu dava plantão na Maternidade Divino Amor e no Varela Santiago, e minha filha ficava muito tempo sozinha. Eu trabalhava de segunda a sexta, e não podia estar em casa para acompanhar e auxiliar ela, que sofreu bastante”, conta Cláudia.

Quem também leva uma vida corrida tendo que se desdobrar é a Taísa Andrade, 34, mamãe da pequena Beatriz Andrade, de apenas 3 anos. Ela sai do bairro Vida Nova, em Parnamirim, onde mora, para dar conta de plantões em duas UTIs que atendem pacientes com Covid, e conta que já pensou em desistir de tudo para dar atenção à filha, mas encontra na pequenina a força necessária para levantar e seguir todos os dias essa rotina mórbida.

Taísa Andrade, fisioterapeuta, e a pequenina Beatriz Andrade
Taísa Andrade, fisioterapeuta, e a pequenina Beatriz Andrade – Foto: Cedida/Arquivo Pessoal

“Minha filha é o que me faz levantar todos os dias e seguir em frente. É a minha força saber que vou chegar em casa e ela vai estar me esperando”, conta Taísa.

Algo que ela lembra como grande dificuldade é a hora de sair para o trabalho, que normalmente é antes da pequena Beatriz despertar. No entanto ela conta que já aconteceu de a filha acordar e deixar apertado o coração da mamãe ao pedir que ela não fosse trabalhar.

“Eu sempre saio com ela ainda dormindo, mas aconteceu alguns dias de ela acordar antes de eu sair e me pediu para não ir. Meu coração fica bem apertadinho. Meu esposo me ajuda muito com isso e eu consigo ir, com o coração apertado, mas vou, porque eu tenho um compromisso que não posso deixar de cumprir”.

Dificuldades emocionais

As dificuldades emocionais surgem para todos, e, principalmente para aqueles que convivem cotidianamente com pessoas de risco e com crianças, segundo a psicóloga Fernanda Miranda.

Ela explica que existe um padrão de comportamento nas mães que é de prover, dar condições de desenvolvimento e autonomia. Esse sentimento no cenário em que vivem as mães da linha de frente, de alta letalidade acaba provocando um estágio de angústia e aflição nelas.

Fernanda Miranda fala de alguns desafios que as mães da linha de frente têm. “Filhos precisam de afeto para seu desenvolvimento emocional. As mães da linha de frente precisam desenvolver diversas novas maneiras de demonstrar afeto sem que seja por contato físico”, explicou.

A especialista conclui dizendo que nesse contexto de pandemia, as mães da linha de frente precisam de uma espécie de adaptação para não deixarem de oferecer afeto aos filhos. “Reaprender uma forma de ser mãe diante da pandemia. As palavras são resiliência e amor”.

Fonte: Novo Notícias.


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