O Governo Fátima Bezerra chega ao segundo semestre do penúltimo ano de mandato sem ter um articulador político, alguém que possa falar, ouvir e por vezes ser a cara da gestão publicamente.
Afinal, nem sempre a governadora pode ou deve se expor publicamente em articulações políticas ou mesmo em situações menores.
É justamente nesses momentos que deveria entrar em cena o articulador político do Governo, figura cobrada inclusive pelos deputados que integram a base aliada.
O Chefe da Casa Civil, Raimundo Alves, até tenta fazer esse papel de articulação. Porém, as atribuições do cargo lhe absorvem muito, a ponto de não sobrar tempo ou espaço para cumprir uma agenda política.
A confiança que recebe da chefe não é suficiente para desempenhar um papel externo a contento do que espera a classe política.
Fátima é maior que o Governo e maior que o partido. Isso é fato. Mas ela não tem conseguido fazer um trabalho de articulação junto à classe política. Aliás, não consegue nem cumprir uma agenda que possa mesclar administração com política.
Além do mais, não é papel da governadora fazer esse trabalho de articular conversas com políticos, agenda com partidos, reuniões com grupos, segmentos. É papel do articulador do Governo, pavimentar os caminhos para a chegada da governadora.
Porém, não há ninguém que faça essa função, que exerça essa missão de tomar a iniciativa e articular, conversar, alinhavar alianças, buscar futuros aliados, afagar aliados insatisfeitos, promover encontros consistentes.
Essa lacuna faz muita falta ao Governo e prejudica o projeto de reeleição da governadora Fátima Bezerra. É um isolamento palaciano às vezes imperceptível por quem vive diariamente na atmosfera de um trabalho exaustivo.
Política é a arte da conversa, do entendimento, do convencimento. Fátima fez uso disso a vida inteira, do sindicalismo ao mandato eletivo.
Mandatária maior de um Estado que lhe adotou, deixou de fazer política, de exercer a arte da boa e produtiva conversa. O poder lhe consome a ponto de tirar-lhe os momentos que poderiam ser mais interessantes do que as sucessivas e necessárias, mas enfadonhas reuniões administrativas.
O Governo não tem um articulador. A governadora não articula. Acha que é suficiente a força da caneta para que as coisas aconteçam. E não é bem assim. Ela sabe que não é assim.
A falta de sintonia e de articulação interna e externa, não tem feito bem ao Governo.
Para quem vai enfrentar as urnas em caráter plebiscitário, é preciso unir o grupo que tem, fazê-lo hegemônico em sua essência e buscar novos e importantes aliados, sem esquecer de valorizar os que já estão em formato stand by, sem missão ou função, aguardando que alguém ligue o controle e faça funcionar a máquina de conquistar votos.
O grande problema do Governo é que não tem articulador e acha que não precisa. Miopia rude que paralisa ações e congela resultados.
O tempo ainda é aliado da governadora. Erros podem ser corrigidos; rumos podem ser mudados.
Mas o tempo não para. A cada dia que passa, é um dia a menos para o Governo. Para a aproximação do fim. Ou o começo de um novo e vitorioso ciclo.