Problemas decorrentes do vício em cigarros eletrônicos vem sendo cada vez mais exposto não apenas por especialistas, mas também por anônimos e famosos. Agora foi a cantora Solange Almeida que revelou em rede nacional no último domingo (15), estar passando por tratamento de fonoterapia devido ao uso desses cigarros. Por influência de amigos próximos, ela começou a usar e o vício em vape trouxe sequelas na voz e dificuldade de respirar. “Depois de um exame aprofundado, eu descobri que estava com uma lesão nas cordas vocais e no pulmão”, evidenciou ao veículo.
O Diário do RN conversou com especialistas para compreender melhor os efeitos do uso de cigarros eletrônicos e ainda saber quais os principais riscos que os fumantes passivos podem enfrentar. De acordo com Suzianne Lima, pneumologista do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), explicou que a indústria do tabagismo é perspicaz.
“Para chamar atenção dos jovens, colocaram o ‘eletrônico’ e mudaram o design, tem canetas, pen-drive, mouses, personagens infantis, sabores e cheiros diferentes. Se a indústria coloca como super-herói e minion, é porque a indústria quer atingir um público ainda mais jovem”. Conforme Suzianne Lima explica, há mais de 7 mil tipos de aromatizantes comercializados no Brasil e esse número já vem aumentando em outros países para mais de 12 mil substâncias.
“Fala-se muito que o cigarro eletrônico é um ‘vaporzinho de água’, mas sabemos que isso não é verdade, hoje já foram identificadas mais de 2 mil substâncias no cigarro eletrônico, algumas a gente nem conhece direito”.
Além do designer diferente, ela destaca que há uma ampla gama de aromas como mentol, chocolate, sabores de frutas, de flores, comidas, o que foge do convencional, sendo um perigo cada vez mais disfarçado e atrativo, o que para os especialistas, é preocupante.
“Por si só a temperatura 350°C de já causa danos químicos, físicos e inflamatórios que podem gerar transformações cancerígenas em todo o corpo, não apenas no sistema respiratório que é o mais atingido. Isso pode gerar dermatite, rinite, laringite, alterações de cordas vocais, riscos de explosões, problemas oculares, asma, doenças crônicas no pulmão. Não tem fumaça, tem um líquido aquecido que vira um aerosol”.
Segundo a pneumologista Suzianne Lima, a base do cigarro eletrônico é nicotina, apesar de a indústria dizer que não tem nicotina, além disso, ela afirma que o fluxo de volume pulmonar diminui. “Com essa temperatura tão alta acontece um processo chamado pirólise, ou decomposição térmica, as substâncias que já existem no cigarro eletrônico se decompõem, se juntam uma com as outras e formam outras substâncias que também são nocivas ao serem inaladas”.
Todo tipo de cigarro é prejudicial
Diante de tantos debates sobre os tipos de cigarros e fumos, além dos cigarros eletrônicos e vapers esses segmentos também provocam inúmeros danos à saúde. Marcelo Cid Holanda, enfermeiro e coordenador do Grupo de Enfrentamento ao Tabagismo do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), explicou que todos os cigarros causam dependência química e provocam diversas doenças clínicas e psíquicas. “Não existe redução de danos, como, por exemplo, um cigarro menos nocivo ou com algum ‘benefício’. Todos são prejudiciais à saúde. Dependência química é uma doença e existe tratamento”.
Cid reforçou que os perigos do cigarro convencional ou dos vapers vão além da nicotina: “Quando em contato precoce na pessoa, pode ocasionar alterações cerebrais como ansiedade, transtorno de pânico, pensamentos suicidas, das substâncias químicas que causam os diversos tipos de câncer, cardiopatias dentre outras. E o fumante passivo entra em contato com todas essas substâncias e provocam os mesmos riscos. Os vapers, tendência entre os jovens, apesar da quantidade menor de substância química, o vapor quente pode alterar a estrutura do pulmão, causando uma série de transtornos psíquicos”.
O coordenador relembra os prejuízos que o contato precoce e passivo com cigarros, de qualquer especificação, carregam danos imensuráveis à saúde: “O que causa uma dependência cada vez mais severa e com um contato precoce e prejudicial da nicotina e no caso da maconha estudos sugerem uma tendência maior ao desenvolvimento de transtornos mentais como quadro psicótico, esquizofrenia. Ou seja, todo o contato com esses tipos de cigarros, causam dependência química e seus riscos (mesmo passivamente) podem contribuir para o desenvolvimento de complicações clínicas e também psíquicas”, finaliza.