“Pela primeira vez na história, o medo venceu a esperança. Eu tinha esperança de terminar o meu mandato, eu tinha esperança de continuar fazendo o meu trabalho, que eu faço com muita dignidade e responsabilidade, mas vocês acabaram com ele”, foi com essas palavras que a professora Maria Pereira usou suas redes sociais para anunciar o pedido de exoneração, nesta segunda-feira (24), do cargo de diretora da Escola Estadual Professor Francisco Barbosa, em São José de Mipibu.
A decisão veio após sucessivas ameaças por parte de alunos e pais por colocar em prática a lei que determina a proibição do uso de aparelhos celulares nas salas de aula.
O caso veio a público quando ela, também pelas redes sociais, relatou o registro de um Boletim de Ocorrência na delegacia da cidade na semana passada. “Desde segunda-feira (17) venho sofrendo ameaças, recadinhos, coisas que implicam em minha segurança. Meus familiares já sabem e a polícia está ciente das ameaças”, disse.
Naquele momento, a ainda diretora afirmou que não iria “deixar de realizar o trabalho” e mandou um recado: “pais, responsáveis, eduquem seus filhos para eles saberem que a violência não é o caminho”.
Mas nesta segunda-feira, Maria anunciou uma nova decisão: “Eu estou pedindo exoneração do meu cargo por medo mesmo, medo da violência, medo da postura de vocês. Eu estou com muito medo e faço um pedido: procurem mais viver a vida de vocês sem violência, sem ameaças, porque hoje vocês acabaram com o meu trabalho”, disse a diretora em vídeo divulgado nas redes sociais.
O que diz a lei sobre o uso de celulares nas escolas? A lei 15.100/2025, sancionada pelo presidente Lula em janeiro deste ano, restringe o uso de celulares nas escolas. De acordo com o texto, é vedado o uso de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais durante aulas, recreios e intervalos em todas as etapas da educação básica. O uso dos dispositivos fica liberado apenas para fins pedagógicos. O governo federal afirma que a medida visa salvaguardar a saúde mental, física e psíquica de crianças e adolescentes, promovendo um ambiente escolar mais saudável e equilibrado.
Sinte emite nota O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do RN (SINTE) emitiu nota de apoio à professora Maria Pereira, além disso, cobra investigação rigorosa para os responsáveis de ameaçá-la.
“Diante das ameaças, a diretora precisou registrar um boletim de ocorrência para garantir sua segurança. O SINTE-RN confia na atuação das autoridades e cobra uma investigação rigorosa para que os responsáveis sejam identificados e medidas cabíveis sejam tomadas. A escola deve ser um ambiente de respeito, aprendizado e crescimento, e qualquer forma de intimidação contra profissionais da educação deve ser firmemente combatida”.
A nota diz ainda: “Expressamos nossa profunda preocupação com a integridade física e emocional da professora Maria dos Prazeres e reafirmamos nosso compromisso com a valorização e proteção dos educadores. Nenhum profissional que se dedica à formação da juventude pode ser alvo de violência por cumprir sua missão”.
O acidente ocorrido na manhã desta segunda-feira (24), que vitimou o médico oftalmologista Araken Britto, atropelado por uma carreta enquanto pedalava em uma das principais vias de Natal, traz de volta ao debate os problemas na infraestrutura e segurança para os ciclistas na capital.
Natal tem uma das menores frotas de bicicleta, ficando em 23ª posição no comparativo com as demais capitais. Para 63,5% dos ciclistas da cidade, a falta de infraestrutura adequada os impede de pedalar com mais frequência. A segunda barreira mais apontada é a insegurança, aliada à baixa educação no trânsito, para 21,1%. Os dados são dos estudos “Estimativa de frota de bicicletas no Brasil”, publicada no Journal of Sustainable Urban Mobility em 2021, e “Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Ciclista Brasileiro”, organizado pela Transporte Ativo em 2024.
Essa realidade é confirmada pelo presidente da Associação dos Ciclistas do Rio Grande do Norte, Fabiano Silva, e pelo coordenador do Ciclo Comitê Popular, Daniel Souza, que apontam a falta de segurança viária e estrutura cicloviária como os principais perigos enfrentados por quem pedala em Natal e na Região Metropolitana.
“A prefeitura, o Estado, o DNIT [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes], a Polícia Rodoviária, Estadual e Municipal, não encaram a política pública de segurança viária como deve ser, como diz a própria Senatran [Secretaria Nacional de Trânsito]. A política de segurança viária diz que nós temos que correr atrás do índice de morte zero. Uma vida para a gente já importa”, analisa Fabiano.
Ambos também afirmam que a capital carece de fiscalização quanto ao uso das ciclovias e de educação para o trânsito. “A periferia anda de bicicleta, e para o trabalho. Você chega pela manhã ali na Ponte de Igapó, na Ponte Newton Navarro, e vê a quantidade de trabalhadores que vão para o seu destino de bike e não tem a certeza que volta. Não tem certeza exatamente por falta de campanhas e por falta de educação. Por exemplo, aquela ciclovia da Avenida 9, quando dá horário de pico, vira um local que as motos que usam, e não tem uma fiscalização da STTU, nada que impeça que essa galera realmente pare de andar na ciclovia”, afirma Daniel.
Nesse sentido, os ciclistas apontam que não falta busca por atenção e apresentações de projetos ao poder público. “A Associação dos Ciclistas do Rio Grande do Norte já vem há mais de uma década discutindo com todos os entes públicos, seja ele federal, municipal, estadual, da Região Metropolitana de Natal e algumas cidades também do interior as tratativas para adoção de políticas públicas, para o respeito à lei nacional de mobilidade urbana, que é a 12.587 de 2012, que diz que o poder público, ao executar qualquer tipo de obras, tem que respeitar a mobilidade ativa”, diz o presidente.
Entre os diversos pedidos e soluções apresentados aos entes públicos estão a proposta de um eixo cicloviário que ligue toda a Natal. “Temos projetos para toda Natal, temos um plano cicloviário sendo discutido em Natal, que está sendo implantado aos poucos”. O grupo apresentou, ainda, uma ação junto ao Ministério Público. “Para que haja fiscalização eletrônica dessas faixas, para que os motoristas evitem fazer a ultrapassagem pela direita, o que acaba colocando os veículos de transporte de massa em risco, assim como os ciclistas e pedestres”, explica Fabiano Silva.
O ciclista Fábio Fonseca, professor do Instituto de Políticas Públicas da UFRN, pesquisador sobre ciclomobilidade urbana e cicloativista, lamenta que pouco seja feito com os estudos que estão nas mãos da prefeitura da capital. “Há planos já realizados pela prefeitura de Natal, muito bem elaborados por sinal, porém que não saem das gavetas e pastas eletrônicas da STTU”, afirma.
“Vivemos numa cidade na qual a forma de mobilidade priorizada pela prefeitura é o transporte individual motorizado, o carro mesmo, sobre as demais formas de deslocamento, que são o transporte público e caminhar e pedalar”.
Ainda de acordo com o professor, a contrariedade à existência de faixas compartilhadas em Natal é unânime entre os ciclistas, mas analisa que o problema é a falta de fiscalização. “Nas conversas que eu mantenho com ciclistas, há uma unanimidade: todos e todas as ciclistas são contra as faixas compartilhadas! (…) Se não há fiscalização e/ou essa fiscalização do trânsito é precária, o trânsito fica caótico, assim a faixa compartilhada vira uma faixa exclusiva para motoristas e motoqueiros inconsequentes”, declara.
“Particularmente, eu sou favorável a faixa compartilhada, já morei em outras cidades que essa iniciativa funciona muito bem desde que haja uma fiscalização e ordenamento do trânsito. Porém, da forma que está hoje em Natal, eu me junto ao coro dos demais ciclistas e sou contra a faixa compartilhada”, completa Fábio.
O caso do Dr. Araken Britto
Araken Brito era médico oftalmologista e gostava de praticar esportes – Foto: Reprodução
Era por volta das 5 horas da manhã, quando aconteceu o acidente que culminou com a morte do médico Araken Britto, nesta segunda-feira (24), na Avenida Senador Salgado Filho, nas imediações do Hospital Walfredo Gurgel, na Zona Leste de Natal. De acordo com informações da Polícia Civil, o condutor da carreta alegou que, ao atingir o médico, ele se desequilibrou e os pneus atingiram a cabeça e o tórax do oftalmologista, que morreu ainda no local, sem chances de socorro.
O motorista da carreta permaneceu no local, foi conduzido à delegacia para prestar depoimento e liberado em seguida. O teste do bafômetro não constatou ingestão de bebida alcoólica.
Durante toda segunda-feira, houve muita comoção e homenagens nas redes sociais. A Federação Norte-riograndense de Ciclismo manifestou “profunda tristeza” diante do caso e pediu agilidade em mudanças em prol da pacificação no trânsito.
“Nos deparamos, mais uma vez, com a notícia de um ciclista ceifado pela violência do trânsito em nossa cidade. Este trágico evento ressalta a urgência de uma reflexão coletiva sobre o respeito à vida e à convivência pacífica nas vias urbanas. Infelizmente, a cultura do desprezo pelas regras de trânsito e pela segurança dos ciclistas persiste”.
“Faltam palavras para descrever a indignação e a dor que permeiam nossos corações diante de tais tragédias. É imperativo que expressemos nossa solidariedade à família e amigos da vítima, pois a perda de uma vida humana não é apenas uma estatística, mas uma ferida aberta na comunidade. (…) Que este triste episódio sirva como um chamado à ação, para que juntos possamos trabalhar em prol de uma sociedade que valoriza a vida e respeita o espaço de cada um”, disse representante da entidade em nota.
O fato também foi lamentado pelos colegas ciclistas, que exprimem a tristeza da recorrência desse tipo de acidente. “Infelizmente, a gente tem que passar por isso diariamente, né? De sair de bicicleta sem saber se vamos voltar para casa vivos, mesmo andando em locais exclusivos para bicicleta. Não foi acidente, foi assassinato! O sinistro de hoje mostra a brutalidade que é viver em Natal”, disse Daniel Souza, coordenador do Ciclo Comitê Popular.
“O que a gente pede é que as pessoas tenham um pouco mais de consciência, que as pessoas entendam que em cima de uma bicicleta vai uma vida, em cima da bicicleta vai um pai de família, vai uma mãe de família que está para ir para o seu trabalho, está fazendo seu lazer, como foi o caso do médico hoje de manhã”, completou.
Conhecido como Cadu Xavier (PT), um dos fiéis escudeiros do governo Fátima Bezerra (PT) deverá ser o nome do sistema governista ao Governo do Estado em 2026. A definição por Carlos Eduardo Xavier, atual secretário da Fazenda do Governo Fátima, para a disputa majoritária estadual aconteceu há duas semanas, após sucessivas reuniões que resultaram na aprovação do nome dele pelo próprio Walter Alves (MDB), vice-governador do Estado, Ezequiel Ferreira (MDB), presidente da Assembleia Legislativa, deputados estaduais e federais do PT. Em agendas partidárias e até em prévias de carnaval, Cadu já confirma seu nome ao Governo do Estado.
A escolha por Cadu, no entanto, aconteceu somente após a desistência de Walter Alves em disputar o cargo, o que vinha sendo mantido nos bastidores. Walter era o nome cotado pelo PT como natural, já que deverá assumir a cadeira de governador do Estado após a renúncia de Fátima Bezerra para disputar o Senado Federal.
A primeira das reuniões foi justamente para tratar com Walter sobre sua disponibilidade para se candidatar ao Governo do RN, de acordo com apuração do Diário do RN. A cúpula do PT entende que é hora de decidir, para que a pré-campanha seja trabalhada já em 2025, o quanto antes. Com a presença de Raimundo Alves e Adriano Gadelha, articuladores políticos do PT, e de Walter Alves e Ezequiel Ferreira, parceiros políticos, Walter confirmou a falta de ânimo em participar da disputa majoritária e descartou pré-candidatura ao Executivo. Como governador sem disputar a reeleição, Walter tem mais condições de ajudar os prefeitos de seu partido, o MDB.
Uma segunda reunião foi realizada para ratificar, ou não, a decisão do vice-governador. Walter ponderou que o sobrenome, que outrora poderia funcionar como trunfo, desta vez poderia ser um peso para baixo, além de pôr à mesa as dificuldades de assumir a missão de sentar à cadeira principal do Governo do RN.
Apesar de ter seu nome como preferência do PT, fato colocado pelos articuladores do partido de Fátima e Lula, Walter manteve a negativa. Na mesma reunião, o nome de Cadu Xavier foi colocado por Raimundo Alves. A aceitação foi imediata. Ezequiel Ferreira foi um entusiasta do nome de Cadu, conforme informação confirmada por uma fonte ao Diário do RN.
A despeito da carreira técnica e da história ao lado de Fátima Bezerra, como articulador da política econômica do Estado, a cúpula entendeu que é preciso agora trabalhar a popularidade de Cadu. Por isso, a ideia é dispor do maior tempo possível para a pré-candidatura e fazer frente à oposição na disputa.
Após se certificar da desistência de Walter Alves, o nome de Cadu foi levado à Brasília. A referência ao nome do servidor de carreira, concursado e fiel secretário da gestão Fátima recebeu aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para encabeçar a chapa do PT no Rio Grande do Norte. O apoio de Lula conta com a certeza da renúncia de Fátima Bezerra ao cargo de governadora para disputar o Senado e ser uma das representantes do PT na Casa, pedido feito pelo próprio presidente à gestora.
Antes de tomar a decisão por Carlos Eduardo Xavier (PT), secretário de Estado da Fazenda do RN, como candidato a governador pela chapa governista, o PT buscou confirmar o nome do vice-governador Walter Alves para a disputa. O partido entendia que o nome do filho de Garibaldi Alves, presidente no RN do maior partido do Brasil e do Rio Grande do Norte, com 45 prefeituras, parceiro de Ezequiel Ferreira (PSDB) e que deverá assumir o cargo de governador em abril de 2026, após a renúncia de Fátima Bezerra (PT), deveria ser o candidato natural ao Governo do RN.
Apesar de duas reuniões para ratificar a disponibilidade de Walter à disputa, o vice-governador entendeu que não, não quer estender sua permanência como chefe do Executivo estadual por mais tempo que os meses em que assumirá após a saída de Fátima para se candidatar a senadora, na atual gestão. Walter tem outros planos.
“Realmente, não vou disputar a reeleição. Devo ficar no Governo até o final. O projeto é fortalecer o MDB para 2026”, afirmou Walter em conversa com o Diário do RN.
Questionado sobre o nome de Cadu Xavier para disputar a eleição ao Executivo Estadual pelo sistema governista, Walter concorda. “Acho Cadu um bom nome, um técnico competente”, disse.
Após se certificar sobre os projetos de Walter Alves, o PT coloca o nome de Cadu Xavier com a garantia de respaldo do MDB, com base fortalecida no Estado. O nome de Carlos Eduardo Xavier surge como um plano B, embora o PT reconheça nele a mesma importância, pelo currículo técnico e perfil de fidelidade ao Governo do secretário estadual da Fazenda.
Nesse momento, para Walter Alves, a parceria com Ezequiel Ferreira surge como parte dos próximos passos do presidente estadual do MDB. Com a incerteza no PSDB, após a chegada do senador Styvenson Valentim à sigla e com as articulações para fusão do partido, o convite já foi feito para que Ezequiel assuma o comando do partido bacurau no RN. Informações de bastidores ao Diário do RN dão conta que realmente esse será mesmo o destino partidário de Ezequiel para o pleito de 2026. O atual presidente da Assembleia deverá ser candidato a deputado federal pelo MDB, com respaldo do futuro governador Walter Alves.
Como governador, e sem se tornar alvo numa campanha eleitoral, Walter terá mais liberdade para fazer uma gestão tranquila e ajudar os municípios, os quais em sua maioria são geridos pelo seu partido. Depois que entregar a gestão estadual ao sucessor, ele poderá, com Ezequiel à frente do MDB, seguir por outros rumos na política ou fora dela.
Com esse entendimento, e tornada pública a desistência de Walter, Cadu Xavier passa a adotar nova atitude. Há algumas semanas tem se integrado a agendas políticas e partidárias do PT, inclusive com discursos sobre o partido. A agenda social também passou a fazer parte do dia a dia do pré-candidato nas prévias carnavalescas.